Desde que adquiriu o Twitter no final do ano passado, o bilionário Elon Musk tem protagonizado uma série de medidas polêmicas e amplamente criticadas em uma das principais redes sociais do Brasil e do mundo. Agora, a plataforma removeu sorrateiramente regras de moderação que impediam conteúdos de transfobia no site e passou a permitir que os usuários usem o nome morto de travestis e transexuais ou possam se referir a pessoas trans com o gênero errado.

A política que classificava como “assédio” o uso incorreto e proposital do gênero e do nome morto (dado ao nascimento, antes da transição) em referência às pessoas trans existia no Twitter desde 2018. A remoção dessa regra gerou preocupações sobre uma possível permissão para que discursos transfóbicos espalhem-se e multipliquem-se livremente pela rede social.

A mudança foi implementada na segunda-feira (17), em meio a uma atualização das políticas de privacidade do Twitter, que agora preveem apenas um rótulo de aviso em tweets que “potencialmente” violem as regras da plataforma sobre “condutas de ódio”, segundo a Associated Press.

“A decisão do Twitter de reverter secretamente sua política de longa data é o exemplo mais recente do quanto a empresa é insegura para usuários e anunciantes”, disse Sarah Kate Ellis, presidente e CEO da GLAAD, organização estadunidense de defesa dos direitos LGBTQIA+. “Essa decisão de reverter a segurança para pessoas LGBTQIA+ coloca o Twitter ainda mais fora de sintonia com o TikTok, Pinterest e Meta (responsável por Facebook, Whatsapp e Instagram), que mantêm políticas similares para proteger seus usuários transexuais em um momento em que a retórica online anti-trans está levando a discriminação e violência no mundo real.”

Em suas redes sociais, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) afirmou ter enviado um ofício ao governo federal pedindo que “discursos de ódio antitrans e o enfrentamento da transfobia nas redes sociais tenham atenção do Estado”.

“É urgente que sejam construídos mecanismos de proteção e apoio as pessoas trans que sofrem ataques organizados por grupos de ódio, assim como mapear e identificar essas pessoas que são orgânicas na internet com o intuito de perseguir e disseminar transfobia nas redes sociais”, publicou a Antra.

Ainda em novembro e já sob o comando de Elon Musk, o Twitter reativou uma série de contas que estavam suspensas por terem praticado transfobia. À época, o bilionário dono da Tesla chegou a fazer uma enquete questionando se os anunciantes deveriam prezar pela suposta “liberdade de expressão” ou pelo “politicamente correto” na rede social, classificando como “exagero” o banimento dos perfis.

Naquela época, a própria GLAAD divulgou um comunicado afirmando que temia pelo novo controle da plataforma por conta do histórico problemático de Musk. “Apesar de alegar que queria comprar o Twitter para ‘ajudar a humanidade’, Elon Musk tem um histórico de postar e defender conteúdos anti-LGBTQ nocivos, assim como conteúdos que prejudicam outras comunidades marginalizadas”, afirmou a organização.

A própria filha de Musk, Vivian Jenna Wilson, também se identifica como transexual e admitiu ter cortado relações com o pai após diversos comentários depreciativos sobre o uso correto de seus pronomes. “Eu não mais vivo ou desejo ter contato com meu pai biológico, de qualquer jeito, forma ou maneira”, anunciou publicamente no ano passado.

No Brasil, o Twitter foi novamente alvo de críticas ao longo das últimas semanas por ter inicialmente recusado remover ou suspender contas e conteúdos que incitavam ataques terroristas em escolas. A plataforma, entretanto, mudou seu posicionamento após o Ministério da Justiça emitir uma portaria que prevê multas de até R$ 12 milhões ou mesmo a suspensão das atividades no País de qualquer rede social que não moderasse e excluísse esse tipo de conteúdo.