Afetada pela quarentena do coronavírus na Itália, uma comunidade de transexuais e trabalhadoras sexuais na região litorânea de Torvaianica, próxima a Roma tem contado com o apoio da Igreja Católica na doação de alimentos, produtos essenciais e dinheiro durante o isolamento. Sem clientes desde que as estradas foram fechadas, elas buscaram ajuda com um padre local, que entrou em contato com o cardeal Konrad Krajewski, conhecido como o “Robin Hood do Papa“.
Responsável pelos trabalhos de caridade e doações do Vaticano, o cardeal foi chamado por Dom Andrea Conocchia, que há duas semanas foi abordado por uma das meninas, que pediu ajuda e orientação.
“Obviamente, eu a ajudei, entendi que ela estava mal e não fiz muitas perguntas. Dois dias depois, ela voltou com outro amigo, também trans. Também nesse caso, dei a eles os pacotes que preparamos com a Caritas e o Banco de Alimentos, cheios de necessidades básicas. Macarrão, tomate, farinha, óleo, leite, biscoitos, açúcar”, declarou Andrea ao jornal italiano Il Messaggero.
Nos dias seguintes, o grupo, formado em sua maioria por imigrantes latinos, foi aumentando até que cerca de 10 travestis e transexuais já estavam buscando ajuda na paróquia. Foi quando d. Andrea decidiu recorrer ao Vaticano.
“Como eram quase todos brasileiros, colombianos e argentinos, sugeri que enviassem uma mensagem ao Papa. Eles enviaram e eu entreguei ao cardeal Krajewski, que conheço há algum tempo. Obviamente, avisei-o dizendo que eram pequenas cartas protocolares, em espanhol, assinadas com pequenos corações. A Esmolaria Apostólica apareceu alguns dias depois com a ajuda do Papa Francisco, que apreciou a mensagem”, contou.
A Esmolaria Apostólica é um departamento da Curia Romana voltado a ações beneficentes e comandado pelo cardeal Krajewski. Em entrevista concedida à Reuters nesta quinta-feira (30), ele confirmou o episódio e declarou: “Não entendo porque isso está ganhando tanta atenção. Esse é um trabalho normal para a Igreja. É como ela funciona como um hospital de campanha”.
O “Robin Hood do Papa”, como foi apelidado pelo jornal Il Messaggero, ainda acrescentou que as transexuais não tinham registros oficiais no País e, por isso, não poderiam buscar ajuda do governo. “Está tudo fechado. Elas não têm recursos e estão em uma situação muito difícil porque seus passaportes foram tomados pela máfia de cafetões que as controla”.
De acordo com D. Andrea, o grupo tem comparecido regularmente à igreja local. “O engraçado é que, quando enviei suas mensagens ao cardeal Krajewski, também inseri uma cópia do documento, porque é o protocolo. E a partir dos documentos, pode-se ver que no cartório eles ainda têm os nomes masculinos Alessandro, Paulo, Marcelo. Enquanto, na vida normal, são Paula, Isabela, Felicita”, observou.
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