Em mais um episódio do eterno morde-e-assopra entre a Igreja Católica e a comunidade LGBT, o Vaticano emitiu uma nota nesta segunda (10) afirmando que “ideias como ‘intersexual’ ou ‘transgênero’ indicam uma ideia ambígua de masculino ou feminino”. A declaração foi dada através de um documento assinado pela Congregação para a Educação Católica, que guia todas as instituições educacionais do catolicismo.

“Essa oscilação entre masculino e feminino se torna, no fim do dia, apenas uma demonstração ‘provocativa’ contra as assim chamadas ‘estruturas tradicionais’”, afirma a nota, que rejeita a ideia cientificamente comprovada de que o gênero é um conceito fluido e a classifica como um “conceito confuso na área dos sentimentos e das vontades”.

Intitulado “Masculino e feminino foram criados por Ele”, o documento de 31 páginas foi divulgado em meio às celebrações mundiais para o Mês do Orgulho LGBT. Outras noções defendidas pela Congregação são as de que a liberdade de gênero “aniquila as noções da natureza” e “o que constitui masculino ou feminino” é definido pela biologia.

Ainda que o nome do Papa Francisco não conste no documento, especialistas afirmam que as digitais e ideais defendidos por ele refletem nas ideias emitidas pela Congregação. Em 2015, ele declarou durante uma entrevista que a “teoria de gênero” não “reconhece a ordem da criação”, comparando-a com manipulação genética e armas nucleares.

Juan Carlos Cruz, chileno transexual que foi recebido pelo Papa em 2018 (Foto: Reprodução)
Juan Carlos Cruz, chileno transexual que foi recebido pelo Papa em 2018 (Foto: Reprodução)

Ao mesmo tempo, o Papa fez história ano passado ao receber Juan Carlos Cruz, chileno transexual que foi abusado sexualmente durante anos por padres católicos. Na ocasião, ele teria dito: “Você precisa ser feliz com quem é. Deus o fez assim e o ama assim, e o Papa o ama assim”. Dita em contexto privado, a frase foi vista como avanço histórico para a visão da Igreja Católica sobre LGBTs, já que a catequese a define como ‘contrária à lei natural”.

No documento emitido esta semana, a Igreja defende também que médicos intervenham em pacientes intersexuais, mesmo contra a vontade dos responsáveis. Ativistas LGBTs católicos têm classificado tais declarações como “ferramentas perigosas” para a discriminação da comunidade em todo o mundo.