Nos lançamentos LGBTI+ com as principais novidades musicais de julho, o colunista Fabiano Moreira* comenta os novos discos de Lizzo, a trilha estrelada de Minions 2: A Origem de Gru, o EPs do Duo Nascente, além das faixas mais recentes de Victor Seixas, RAWI, Aretuza Lovi com Getúlio Abelha, Luísa Sonza e mais.
Confira os destaques abaixo e, para não perder nenhum lançamento, siga a nossa playlist aqui embaixo:
Beyoncé – “Renaissance”
Depois da explosão de “Break My Soul”, primeira música do novo disco, Renaissance finalmente chegou ao mundo com uma epopeia da pista de dança e momentos já icônicos, como o uso impecável da sample de “I Feel Love” (Donna Summer) em “Summer Renaissance” e o refrão insuperável de “Alien Superstar”, forte candidata a próximo single. O álbum ainda tem uma dedicatória especial à comunidade LGBTI+, que você confere aqui.
Vários Artistas – “Minions 2: A Origem de Gru” (soundtrack)
Chamou a atenção a trilha sonora mais do que especial criada para a animação Minions: the rise of Gru, com produção de Jack Antonoff, vencedor de seis Grammys. A canção tema do filme, “Turn up the sunshine”, já chega com pé na porta no feat inusitado entre Diana Ross e Tame Impala. Toda a sonoridade emula os anos 1970, época retratada no filme, em clássicos revisitados, como nas versões de “Bang Bang” (Caroline Polachek), “Black Magic Woman” (Tierra Whack), “Dance to the music” (H.E.R), “Funkytown” (St. Vincent) e “Desafinado” (Kali Uchis), que não é dos 70, mas também entrou. A compilação ainda traz Phoebe Bridgers, Weyes Blood e Thundercat.
Lizzo – “Special”
Amiga, se você não gosta da Lizzo, toca pro psiquiatra que você não está batendo bem: a mulher é um ser humano radiante que emana positividade e afirmação, um fenômeno próprio da nossa era. Ganhadora de três Grammys, a gata acaba de lançar o aguardado álbum Special, que já chegou hitando com o primeiro single homônimo, já com um milhão de visualizações nas primeiras 24 horas, além de “2 Be Loved (Am I Ready)” e “About Damn Time”. Lizzo está comemorando seis indicações ao Emmy Awards por sua série de TV na Amazon Prime Video, Watch Out For The Big Grrrls. You go girl.
Duo Nascente – “Duo Nascente”
Há algo de líquido e cristalino na sonoridade do Duo Nascente, que faz música instrumental em Juiz de Fora (MG), e acaba de estrear com bom EP, autointitulado. Nele, a violonista Bia Nascimento, que é aqui do vale e carrega a força da mulher sapatão, e o vibrafonista João Cordeiro apresentam repertório de compositores mineiros, como Dudu Costa, Juliana Stanzani, Daniel Lovisi, Leandro Domith, Caetano Brasil e a própria Bia Nascimento.
Toda a magia da sonoridade deles está no encontro do violão com o vibrafone, ambos instrumentos simultaneamente harmônicos e melódicos. O vibrafone ainda é pouco usado em formações de música popular, pelo menos no Brasil, e é um instrumento de percussão que tem a possibilidade de tocar melodias e harmonias, para além dos ritmos de sua função mais básica. O instrumento é formado por placas e tubos de alumínio. O vibrafonista toca nas placas com baquetas. Embaixo delas, existem tubos de ressonância que aumentam o volume do som produzido pelas placas. O resultado é bem bonito, um timbre único.
Victor Seixas – “Mal de te Ver”
É tão importante ver a homoafetividade representada com poesia e beleza na arte, como o cantor carioca Victor Seixas faz, de forma magistral, no tocante videoclipe de “Mal de te ver”, que criou essa linda e potente imagem de dois homens se amando em uma cama sobre o azul do mar no filme com direção de Igor Angelkorte. “A cama é morada frequente de histórias de amor. Em ‘Mal de te ver’, ela transita entre o aconchego do quarto e a imensidão do mar, navegando entre a presença e a ausência, entre um romance vivo e um futuro morto. Ao fim, ‘a cama ao mar se torna uma oferenda'”, filosofa o artista. A música está em seu disco de estreia, o bom “Gesto Bruto” (2021). “Que mal bonito que te ver me faz “, diz a linda letra de Elisa Ottoni.
RAWI – “PinkNCSJ”
Eu fico sempre feliz de conhecer artistas queer fazendo trabalhos desafiadores e questionadores do estabelecido, como o do cantor e compositor paraense RAWI, que acaba de lançar clipe para a canção “PinkNCSJ” e tem, como nickname, no Instagram, Arte de Bicha. Ele é de Santarém e faz pós-punk amazônico. WOW: shantay you stay.
A faixa bebe da fonte de estilos tão diversos quanto o tecnobrega e o boombap, o drum n’ bass e o reggaeton, e leva a gente direto pro disco de estreia do artista, o maravilhoso Facão que abre os caminhos, lançado em julho de 2021, com álbum visual e tudo, aonde eu tava que não tinha visto isso? O disco mostra versatilidade na mistura de ritmos, como carimbó, rock, brega, pop e eletrônico, em composições do artista com o produtor musical Andrew Só.
Aretuza Lovi e Getúlio Abelha – “Baião de Dois”
“Nosso amor é gostosinho / Misturado e coladinho / Que nem baião de dois”, dizem os versos de “Baião de Dois”, que Aretuza Lovi lançou com o “sad clown of forró” Getúlio Abelha como último single antes de seu novo disco, que chega em 11 de agosto, com homenagem aos ritmos de Norte e Nordeste, confirmando o forró como plataforma LGBTI+. O single tem produção de Noize Men e é um forrozão quente e arrochado, homenagem de Aretuza a grupos como Baby Som, Painel de Controle, Catuaba com Amendoim, Mel com Terra, Capim com Mel e Mastruz com Leite, citada na letra.
Luísa Sonza – “Cachorrinhas”
Luísa Sonza canta muito, mas nunca uma música tinha acertado tanto quanto “Cachorrinhas”, que a artista lançou no dia do seu aniversário de 24 anos, como primeira faixa produzida pela dupla Tropkillaz e sua estreia na Sony Music, que vai cuidar de sua carreira internacional. “Cachorrinhas” marca a volta por cima da gata, que passou por momentos complicados de bullying na internet, e também é o último antes de uma nova era que tá vindo aí. Ansioso demais. O clipe, gravado em película por Fernando Nogari, tem a participação das pets da cantora, as cachorrinhas Gisele Pinschers, Britney Spinchers, Duda Beainscher Sonza e da gata Rita Lee Sonza.
Years & Years – “Montero (Call Me By Your Name)”
O que pode ser mais gay, em 2022, do que o fofo do inglês Olly Alexander, do projeto Years & Years, cantando cover de Lil Nas X? Pois é essa explosão de viadagem que é servida em “Montero (Call Me By Your Name)”. “Quando ouvi essa música pela primeira vez, eu queria tirar todas as minhas roupas e sair gritando pelas ruas. A música já é perfeita, então, quis apenas me divertir fazendo uma versão acústica desse artista que mudou o jogo para a comunidade artística LGBTQIA+ “, contou Alexander sobre o cover. O último disco de Years & Years, “Night Call”, saiu em janeiro.
Mia Badgyal – “Pirraça”
A artista Mia Badgyal se entendeu travesti durante a pandemia, quando também rolou o processo de construção do seu álbum de estreia, “Emergência”, que está vindo aí, como acenado nos singles já lançados, “Loka” e “Pirraça”. O disco tem direção executiva de Rodrigo Kills e Gabriel Diniz, do Cyberkills, que assinam a produção de “Pirraça” ao lado de Sanvtto.
WinniT e Dropalien – “Burn”
O músico e compositor trans WinniT, de Diadema, é um nome para se prestar bastante atenção. Conheci o rapper por meio da Batalha de Real, a mais antiga e tradicional batalha de MCs do Brasil. Aos 12 anos de idade, WinniT foi descoberto por Gabriel, o Pensador, cantando “Racismo é Burrice” com o artista no palco. “Burn” foi gravada com Dropalien e é pra dançar, cheia de energia.
*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O Globo, Tribuna de Minas, Mix Brasil, RG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.