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Os melhores lançamentos musicais LGBTQIA+ de junho

Katy da Voz e as Abusadas, Charli XCX e Reddy Allor com Gabeu são lançamentos musicais de junho

Katy da Voz e as Abusadas, Charli XCX e Reddy Allor com Gabeu são lançamentos musicais de junho

Na coluna de junho com os principais lançamentos musicais de artistas nacionais e internacionais LGBTQIA+, Fabiano Moreira* comenta uma leva de novidades que inclui os álbuns de Katy da Voz e as AbusadasCharli XCXJão e Ayrton Montarroyos; EPs de Jup do Bairro, Victin e Paulete Lindacelva; além dos singles de Sofi Tukker, Diego Bragà e Reddy Allor com Gabeu.

Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist para não perder os próximos lançamentos.

Katy da Voz e as Abusadas – “Atormentadas e Remixadas”

Nada foi mais gay em junho do que o álbum Atormentadas e Remixadas, de Katy da Voz e as Abusadas. “Olha que bacana: a oportunidade de engolir essas bananas”, ironiza em “Frutaria da putaria 2” o grupo formado por Katy da Voz, Palladino Proibida e Degoncé Rabetão no bairro do Grajaú, em São Paulo. A poética é pra lá de marginal, como em “Vtnc” (“Te dei tudo o que eu tinha / Sendo que eu não tenho nada”), antes de desejar a introdução de “um canavial de r*la no seu c*”. “Vou fazer uma chupetinha, vou mostrar que eu sou galinha”, manda em “Tira a mão do c*” .

O grupo existe desde 2019 e já lançou as mixtapes Cantigas de amor pra se cantar na roda (2021) e Entrando na garrafa (2022), o álbum Sacolão das Faveladas (2022) e o EP Prostitutions (2023). O álbum de remixes chega no barulho do tuin com remixes de grandes DJs da cena, como Caio Prince, Clementaum e Rianriot. As três travestis da Zona Sul de São Paulo quebram o (cis)tema com apresentações que podem ser um show de rock, de funk ou será de pop? O álbum de remixes anuncia uma nova era, totalmente experimental. Me sinto pronto. “Mais uma vez, atormentadas.”

Charli XCX – “brat” e “brat and it’s the same but there’s three more songs so it’s not”

Se você não foi bratizado e não colocou foto verde limão no perfil em junho, me desculpe, mas você envelheceu mal, mana, pois o álbum da Charli XCX foi o último sopro de juventude que passou pelo planeta. Brat e Brat and it’s the same but there’s three more songs so it’s not foram lançados com uma semana de intervalo e agitaram as redes. O segundo álbum trouxe as músicas adicionais “Hello goodbye”, “Guess” e “Spring breakers”. Charli fez DJ set na Zig, em São Paulo, com participação da dupla de DJs Cyberkills e de Mia Badgyall, com direito a enterro simbólico de Taylor Swift por parte do público, risos, para lançar o álbum, o sexto de sua carreira, que marca seu retorno ao som que gosta de fazer.

Charli é um dos ícones da PC Music e do superpop. Em um mar de Barbies, uma Brat. A comunidade fez festa pro álbum. Em novembro e dezembro,  Charli embarca em seus maiores shows como headliner em arenas em todo o Reino Unido, além de se juntar a Troye Sivan para sua tão aguardada turnê nos EUA Charli XCX & Troye Sivan Present: Sweat.

Jão – “Supernova”

Em uma indústria movida a velocidade e volume de lançamentos, o álbum deluxe e os álbuns de remixes são mais do que uma realidade, são uma necessidade imposta pelo mercado. A coisa anda tão histérica que artistas do tamanho de Taylor Swift lançam dois álbuns em dois dias. Jão, que é um gigante no Brasil e está na playlist da juventude, lançou Supernova, com oito músicas novas compostas por ele em parceria com Pedro Tófani e Zebu, além de novas versões das faixas de Super, lançado em agosto de 2023.

Sinto que algumas faixas que foram criadas na época e não entraram no disco original (como “Acidente” e “Carnaval”) eram necessárias para completar o que eu tinha para dizer e seguir com uma página em branco para o quinto álbum”, declara Jão, que está em turnê pelo Brasil, a Superturnê, que passa pelas edições do Rock in Rio em Lisboa e no Brasil, no Palco Mundo. A nova versão de “O triste é que eu te amo” ganhou clipe.

Ayrton Montarroyos – “A Lira do Povo”

O pernambucano Ayrton Montarroyos já tinha lançado o álbum Alguém cantando Caetano, em fevereiro, e voltou com A Lira do Povo, álbum batizado por Hermínio Bello de Carvalho e que conta com participação especial de Alaíde Costa nas faixas “A Estrada do Sertão” e “Gas Neon”. O álbum explora a cultura do homem brasileiro, sua relação com o sertão, a cidade e o mar, o folclore, a oralidade e as histórias de pescador. O artista divide o som com Arquétipo Rafa (percussão, baixo e direção musical), Ariane Rodrigues (flautas), Rodrigo Campos (violões) e Rhaissa Bittar, Mari Tavares e Tatiana Burg (coro). O álbum traz três suítes ou movimentos.

“O que era pra ser uma apresentação de músicas interioranas criou asas e transformou-se num apanhado de signos, numa festa, numa dança do povo, num suspiro, num grito também”, resume o artista. O álbum encadeia composições de Villa Lobos e Ferreira Gullar, Edu Lobo e Capinan, João Pernambuco e Hermínio Bello de Carvalho, Fagner, Caetano Veloso, Sérgio Ricardo, Dorival Caymmi, Gonzaguinha, Kiko Dinucci e Astor Piazzolla e Geraldo Carneiro, só pra citar alguns.

Jup do Bairro – “in.corpo.ração

Realizei o meu sonho de princesa clubber de entrevistar a Jup do Bairro para a Sexta Sei, um grande marco para os quatro anos da página, completos agora em julho, lá no Baixo Centro, já que eu queria fazer isso desde a segunda página. Falamos sobre o seu segundo EP, in.corpo.ração, que chegou pela Natura Musical, com produção musical do duo CyberKills, participações especiais de Edgar e Matheus Fazeno Rock e direção de arte de Gabe Lima. Quatro das cinco faixas são composições de Jup, com exceção de “Mulher do fim do mundo”, canção de Alice Coutinho e Rômulo Fróes eternizada na voz de Elza Soares.

“in.corpo.ração” nasce de uma pesquisa reflexiva de Jup para além do corpo e marca a sequência narrativa de Corpo sem juízo (2020), seu EP de estreia. O trabalho é musicalmente eclético e parte de uma variedade de subgêneros oriundos da música eletrônica brasileira – techno, house e funk, entre outros – e o rap como base. O funk é muito presente nesse “baile punk de favela” influenciado pela noite paulistana contemporânea de A Mamba Negra, o Baile da DZ7 e as ballrooms espalhadas por toda a cidade. Só deixa a gente com sede de um álbum.

Paulete Lindacelva – “Guabiraba Chicago

Celebrando dez anos de carreira de DJ, a multiartista pernambucana radicada em Sâo Paulo e mulher trans Paulete Lindacelva lançou, pelo selo Perfecto Estado, seu EP de estreia, Guabiraba Chicago, conectando o bairro onde a artista cresceu, no Recife, à cidade norte-americana que é o berço da música house. São seis composições com produtores convidados a cada track, como Badsista, Paola Lappicy, L_cio e Gabto, que assina a direção musical. Ela dá à house um toque quente e tropical.

“Dentro do EP, participam figuras que eu conheci em São Paulo ou que eu já conhecia antes de chegar em São Paulo. Foram pessoas que me acolheram na cidade e que ajudaram a criar minha ligação com a música. É sobre reunir pessoas, é sobre reunir coisas que eu gosto. É uma comemoração sobre esses anos de atuação na noite e sobre colocar as coisas no mundo independente de se apegar a um preciosismo. É uma realização pessoal minha de fazer mais uma vez algo com pessoas que eu admiro de um jeito que eu acho gostoso e prazeroso”, conta.

Victin“Piston”

Falei que nada foi mais gay do que o álbum de Katy da Voz e as Abusadas, mas o segundo lugar é, merecidamente, do produtor paulista Victin, dos clãs Bicuda e A Mamba Negra, que estreia com o EP Piston, cantando “las bibas, las travestis” em “Dubixa” no lançamento da Bicuda. É bate-cabelo e carnaval, trombetas alucinantes e muito fervo, gostoso como ser gay. O lançamento antecipa uma tour pela Europa que passa por Paris, Hor, Napoli, Milano e Berlin, bem chique.

O próprio nome do EP já entrega o seu conceito: “O pistão, instrumento musical, foi um dos primeiros que eu tive contato, quando comecei a estudar no conservatório de música. Escrito como ‘piston’, aproveitando o sufixo hispanizante, vira um apelido metonímico do trompete, devido a seus três pistões”, ele completa. “Dubbixa” é uma “música para bailar de culo para cima, bajando terreno”. “Aí vem um transe de graves pulsantes e percussões encharcadas em reverb, que serve de base para meus vocais processados, junto ao bumbo reto e os ‘hi hats’ detalhados que ancoram a melodia.”

Na sequência, “Sinfonia das Clubbers” tem um kick agressivo, que nos guia até o ritmo sincopado e caliente de uma guaracha futurista. A terceira e última faixa, “Pintawn”, tem trompete processado como ponto de partida para ataques pontuais de baixo e bumbo em uma dinâmica angular de pergunta-e-resposta. 

Sofi Tukker – Spiral

Já tinha comentado aqui do apreço por jacaré da cantora Sophie Hawley-Weld, do duo pop e eletrônico que amamos Sofi Tukker, que passou aqui na Playlist de maio com o clipe delícia de “Throw some ass”, divulgando as maravilhas pra saúde de se balançar a raba. Como a viadagem sempre pode escalar, Sophie aparece em festa do pijama boudoir chic com a super modelo Heidi Klum, com quem brinca com sex toys fálicos em“Spiral”, single com vibe euro-dance dos anos 90, com ganchos de guitarra e vocais sedutores. Até que o homem da pizza/DJ Tucker Halpern chega com o lanche e o fervo. Este é o segundo single de Bread, ou Be Really Energetic and Dance, próximo álbum do duo, que chega em 23 de agosto, quando me concedem entrevista para a Sexta Sei. Fritando de emoção.

Diego Bragà“Minha Infância Acabou”

Diego Bragà é artista trans não-binária nascida em Belo Horizonte e hoje vivendo entre Minas e Portugal, que eu já tinha destacado na coluna Playlist no lançamento do EP Superputa Spiritual. Pois ela se “estendeu na mão do palhaço” e deu até uma lambidinha no Bozo no clipe de “Minha Infância Acabou”, com produção da artista trans Boss in Drama, com a proposta de homenagem às infâncias queer. No lançamento do selo Estúdio304, de Chico Neves, a artista propõe  uma viagem pop, dançante, nostálgica e não-convencional.

A capa traz uma foto de uma boneca não-binária, co-criada com IA, que representa a própria Diego Bragà e infâncias. A música é um remix do primeiro projeto fonográfico de Diego, o single duplo Geografia do Amor” (2019), alusão a uma caixa repleta de cartões postais recebidos por homens de todo o mundo, deixada como herança à artista pelo seu tio.

“A música traz uma visão poética e celebrativa sobre a infância queer no Brasil desde os anos 1970. O projeto anterior era bastante conceitual e melancólico – era a minha homenagem fúnebre ao meu tio gay e que vivia com HIV que me criou com muito amor. Convidei a Boss in Drama para dar uma cara mais gay, alegre e pegajosa!”, afirma Diego. O clipe traz referências a ícones da infância dos anos 1980 e 1990, como a She-Ha! e os Ursinhos Carinhosos e também à festa de aniversário infantil kitsch, com docinhos, refrigerante e balões. O “Palhaço Sem Graça” representa uma figura infeliz, pronta para acabar com a alegria e os sonhos infantis.

Reddy Allor e Gabeu – Cavalo de Troia

Não é segredo pro leitor que o meu coração é pocnejo, que eu piro “nelas de fivela” e sou grande entusiasta do trabalho do indicado ao Grammy Gabeu, gênio da raça e filho de Solimões. Ele segue reinventando o estilo sertanejo que aprendeu em casa e mistura com influências do mundo pop e faz a “tecnera de peão” no single “Cavalo de Troia”, em parceria com a cantora, drag queen e compositora Reddy Allor. A faixa estará no álbum da drag, que ta vindo aí.

Cavalo de Troia’ é uma estratégia de guerra que surgiu nos tempos medievais e, como todo LGBTQIAP+, vivemos uma guerra diária, que também precisa de estratégias e muita luta para conquistarmos o nosso espaço”, afirma Reddy. A cantora e compositora é de Olímpia, São Paulo, com raízes no sertanejo, estilo de sua dupla com o irmão Gah Bernardes, e uma das vencedoras do Queen Stars Brasil, da HBO Max.

Moreira e a redação também estão ouvindo:


*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O GloboTribuna de MinasMix BrasilRG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.

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