Na coluna de maio com os principais lançamentos musicais de artistas nacionais e internacionais LGBTQIA+, Fabiano Moreira* comenta uma leva de novidades que inclui os álbuns de Billie Eilish, Orville Peck, WILLOW, Natalie Borges, Vivian Kuczynski e Priscilla; o EP de Bibi Bog, NATASHA, AnarkoTrans e Jessica Assis; além dos singles quentinhos de Sofi Tukker, Teto Preto com Jup do Bairro e Leyllah Diva com Sabrina Lopes.

Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist para não perder os próximos lançamentos.

Billie Eilish – “Hit Me Hard and Soft”

Quem está curtindo o novo álbum de Billie Ellish, o terceiro de sua discografia, Hit Me Hard and Soft, lançamento da Darkroom/Interscope Records, é a cantora brasileira Marina Lima, ícone da nossa música LGBTQIA+. “Álbum novo da Billie Eilish é lindo e bem gay… As letras e a voz, melodias, arranjos do irmão… q talento!”, tuitou. Billie tem um jeito diferente de compor e novas formas de tornar a tristeza extremamente bela e poética. Seu trabalho pega a garotada de jeito, reverbera com muita sensibilidade entre os adolescentes e os jovens, que a amam, pois Billie é uma voz como a deles, ecoando de dentro seu quarto, onde compõe e grava com o irmão, o talentoso Finneas, seu parceiro usual. O videoclipe de “Lunch”, dirigido por ela com perfume vintage dos anos 2000, com visual grunge, tomboy, com bonés e camisas imensas, deliciosamente sapatão, ilustra a canção que enaltece o sexo oral entre mulheres, o maior hino LGBTQIA+ dos nossos tempos, que chegou a ser a segunda mais ouvida do Spotify. A turnê do álbum começa em setembro, na América do Norte, passando por Europa, Reino Unido, Irlanda e Austrália. 

Orville Peck – “Stampede Vol.1”

Eu já tinha falado da explosão de viadagem country e jeans atochado que foi a versão do sul africano Orville Peck com a lenda do country Willie Nelson para “Cowboys Are Frequently Secretly Fond of Each Other“, na playlist de abril aqui da Híbrida. Como sempre, é possível a viadagem escalar e Orville volta super sexy no clipe de “How Far Will We Take It?”, com Noah Cyrus. Descamisado, mostrando as lindas tatuagens do dorso e com máscara de Zorro, ele anuncia a primeira parte do seu álbum Stampede Vol.1, que traz duetos com grandes nomes da música, como Elton John, em “Saturday Night All Right (For Fighting)”; Nathaniel Rateliff, Midland, Allison Russell, Bu Cuarón e Tobias Jesso. Bem bom. O artista sai em tour pela América do Norte, terminando no Brooklyn, em outubro. Queria.

Natania Borges – “I”

A multiartista e mulher trans de Salvador (BA) Natania Borges lançou um dos álbuns mais interessantes do ano, I (Uma/One), trabalho de estreia com produção musical assinada pela própria artista, em parceria com o produtor Xavbeatz, resultando em uma azeitada mistura de pagodão baiano, R&B e afrobeat. O álbum chega pela Natura Musical e, para a divulgação,  serão lançadas quatro sessões acústicas, dois videoclipes e um short film. Um dos destaques é a faixa “Lies”, fruto de um intercâmbio de Natania com o duo canadense TRP.P. Entre as influências, nomes como Mayra Andrade, Lous and the Yakuza, Alewya, Lianne La Havas, Sampa the Great, Rihanna, Larissa Luz, ÀTOOXXÁ e Rachel Reis

WILLOW – “Empatogen”

Artista queer que estava envolta por guitarras na sonoridade do seu álbum anterior, <Copingmechanism> (2022), Willow trocou o instrumento pelos teclados em seu sexto álbum, que mergulha no jazz com as colaborações de St. Vincent e Jon Batiste, em edição cheia de classe, com belos visuais e o statement dos cabelos afro. O primeiro single, “b i g f e e l i n g s”, já apresentava uma sonoridade de jazz contemporâneo, com piano impulsivo, percussão descompassada, baixo ágil, sintetizadores distorcidos e a voz suave e ondulante. A letra destaca a importância da aceitação para lidar com os problemas. “I have such big feelings  / Can’t shut ‘em down or let ‘em out  / I have such big feelings / Can’t shut ‘em down without a sound  / Acceptance is the key  / Acceptance gives me wings  / Acceptance is the key  / Acceptance gives me wings”, canta.

Vivian Kuczynski – “Copas & Estopim

Não foi a toa que a jovem Vivian Kuczynski, 21 anos, produziu o último álbum de Alice Caymmi,  Imaculada. Sua voz lembra o timbre mais grave de Alice, algo que está ainda mais límpido e vívido em Copas & Estopim, seu belo segundo álbum, produzido e mixado por ela, que já trabalhou como engenheira de VS (Virtual Sound) na turnê Cedo ou Tarde, da NX Zero, e produziu, além de Alice, Jão, Chameleo e Pabllo Vittar. Batemos um papo, por e-mail, para a Sexta Sei, sobre a maior visibilidade da homoafetividade feminina e da importância de ter vozes LGBTQIA+ falando sobre estes temas no combate à discriminação e criação de um ambiente mais inclusivo. Também falamos de como ela gosta de ter liberdade de moldar cada aspecto de sua música de acordo com a sua visão e da abertura a provar um beijo mineiro, como no romance imaginário nas montanhas de “Kiss Me Like A Fool”.

Priscilla – “Priscilla

Artista antes conhecida pelo público como uma intérprete do gospel, Priscilla Alcântara apresenta sua nova personalidade, pop e dançante, Priscilla, em Priscilla, um dos melhores álbuns do ano, que já chegou causando barulho com o single “Quer Dançar”, um feat com Leandrinho do Bonde do Tigrão. A nova skin chega embrulhada em longos cabelos vermelhos, na capa. “Cadê os fiéis que vem me comprando anéis / se eu for tua número um / eu largo os outros dez”, canta, com Pabllo Vittar, em “10/10”, já anuniciando que seu público escolhido somos nós, o povo gay. O álbum é direcionado ao universo pop e teve produção da artista e de Carlos Bezerra, renomado produtor do gênero e indicado ao Grammy Latino. “Tem tudo de mim aí: rasa, profunda, farofa, cult, caricata, natural. Porque ser gente é ser um monte de coisa ao mesmo tempo ou uma coisa só de cada vez e, dessa vez, eu escolho ser assim”, disse. Ela também divide os vocais com Péricles em Bossa”

Bibi BogNATASHAAnarkoTrans e Jessica Assis“deuZONAS – vozes ferozes”

Quem acompanha as playlists sextantes já ouviu Bibi Bog cantando o amor lésbico emocionado em “Emocionada” e AmarkoTrans na política “Farpa feminina”. As faixas são destaques do EP deuZONAS – vozes ferozes, produzido pela cantora e compositora Angélica Duarte, do icônico clipe “Barriga de lamche”. O EP traz quatro talentos da nova geração, apresentando perspectivas próprias, do amor entre mulheres em lo-fi ao samba e do rap ao indie folk. Além de Bibi Bog e AmarkoTrans, o volume traz faixas de Natasha, influenciada pelo choro e pelo samba; e Jessica Assis, envolta por folk, indie e nova MPB. Elas foram selecionadas em um chamamento online para mulheres, cis ou trans, e pessoas não-binárias. Angélica Duarte faz uma MPB com olhar pop e tem, em seu currículo, o EP Odara (2018) e o álbum autoral Hoje Tem (2021), com participações de Juliana Linhares e Letrux.

Sofi Tukker – Throw Some Ass

“Baby, meu popô é grande/ E eu sou generosa/Não dá pra ser só de um/A tropa toda quer meu bumbum”, canta a vocalista do duo Sofi Tukker, Sophie Hawley-Weld, no primeiro single, “Throw Some Ass”, primeira amostra do terceiro álbum do duo que forma com Tucker Halpern, Bread, que chega em 23 de agosto, um acrônimo de Be Really Energetic and Dance. Entre os convidados especiais do álbum, estão Kah-Lo, MC Bola e Channel Tres. “Throw Some Ass” tem letra baseada na jornada de Sophie em busca de uma cura para sua dor crônica nas costas. Depois de experimentar médicos e vários tratamentos, o alívio finalmente chegou quando seu coreógrafo brasileiro exigiu que ela jogasse a bunda. A sonoridade tem muito do Brasil, com elementos do funk. Tucker experimentou o ritmo depois de algum tempo por aqui, no Carnaval do ano passado. O clipe foi filmado na deslumbrante residência do governador do Rio de Janeiro, o Palácio das Laranjeiras, apelidado de “Centro Sofi Tukker para bundas que não mexem bem”. Ali mesmo, eles fizeram o próprio hospital, com o Dr. Tucker usando calças sem bunda e uma aula de hidroginástica com pesos de mão feitos de baguetes. A dupla, indicada ao Grammy, anunciou sua maior turnê norte-americana até o momento, que terá início em 18 de setembro, em Austin.

Teto Preto e Jup do Bairro – “Te Colocar no Teu Lugar”

O single “Te Colocar no Teu Lugar” marca o início da era pop da banda Teto Preto, que convidou Jup do Bairro para o feat, um pouco antes de levar Marina Lima ao palco da Mamba Negra. Eu amo a Teto Preto e vou sempre defendê-la, risos, não que ela precise, faço por amor e devoção mesmo. Este ano, a banda comemora dez anos de atividades com um disco inédito, Fala. Te colocar no teu lugar” é a primeira amostra do trabalho e traz a icônica vocalista Laura Diaz, a Carneosso, com a voz sintetizada, processada, falando os verdadão. “Te falta brilho próprio/E ousadia pra flagar/Que minha bunda não quica/Ela te engole devagar”, milita, contra o excesso de rabas no pop nacional, emulando Rosalía, super ídola da nossa galera.Estamos muito felizes de marcar nossa volta aos trabalhos novos com a faixa da Jup, a musa do underGRANDE. No Fala, tudo dialoga entre si, são muitas camadas e vozes que se atravessam num desvelamento de quereres e lugares de fal(h)a”, ensina. “Jup é uma das poucas mulheres que me entende num lugar muito íntimo do desejo e da potência. Ela me tira do sufoco e da angústia. Somos debochadas, soturnas, safadas, ligeiras e violentamente carinhosas”, revela. Completam a formação o músico Matheus Câmara (Entropia), que é filho do Chinaina, na guitarra e nos eletrônicos,  Sarine (Deaf Kids) na percussão e nos baixos, Juana Chi na coreografia e movimentos ao lado de Bruxa Cósmica, também em performance. A Bruxa, aliás, participou do clipe de Sofi Tukker. O videoclipe cinematográfico da Teto Preto foi dirigido por Hick Duarte e Carneosso, dentro da Mamba Negra.

Leyllah Diva e Sabrina Lopes – “Sempre Será o Amor”

Leyllah Diva foi uma das ganhadoras do programa de TV Queen Stars Brasil, ao lado dos incríveis Diego Martins e Reddy Allor que, volta e meia, aparecem por aqui. Pois a gata emocionou em maio, mês das mães, com o tocante clipe para a soul music pop “Sempre Será o Amor”, parceria, nos vocais e na composição, com a cantora Sabrina Lopes. A faixa faz parte de EP que chega em agosto, tendo o veganismo como principal tema, e mostra a mistura de pop, soul e R&B. A poética, engajada, canta o amor em todas as suas formas. “Te vejo/por dentro/te sinto/no meu peito/te entendo/respeito/eu te vejo/vou te amar/eu não vou deixar/ninguém mais te machucar.” O novo trabalho foi um presente para o Dia das Mães. “Essa faixa foi feita sentindo coisas que surgiram quando pensei também em várias situações da minha vida, no relacionamento com a minha mãe, pensando na proteção de mãe para filho e vice-versa, tanto que eu quis linkar esse lançamento com o dia delas”, explica. O EP sucederá o volume anterior, Preta (2020). 

Moreira e a redação também estão ouvindo:


*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O GloboTribuna de MinasMix BrasilRG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.