Mais um ano indo embora e, pela segunda vez, preparo para a Híbrida uma lista com os dez melhores discos e mais importantes para a comunidade LGBTI+ do Brasil, em uma seleção com Mavi Veloso, Urias, Quebrada Queer, Jáder, Rohma, Josyara, Noporn, Thiago Pantaleão, Izrra e Marina Mathey. Este ano, inovei e fiz também uma playlist de clipes.
E, se você perdeu, a lista com os discos de 2021 está aqui.
Assista à playlist no Youtube:
Janeiro
Começamos o ano já com o lançamento de dois dos discos importantes para a comunidade LGBTI+. Mulher trans brasileira radicada na Holanda, Mavi Veloso lançou Travesti Biológica, refletindo sobre a própria transição. Ao longo do ano, ela foi postando clipes para todas as faixas, bem legal. Batemos um papo para a Sexta Sei. Urias também lançou seu disco de estreia, Fúria, com produção impecável da Brabo Music de Rodrigo Gorky, Maffalda e Zebu. A gata já está preparando o segundo álbum, como adiantou em dois EPs aqui e aqui.
Maio
O Quebrada Queer, primeiro cyper/coletivo de rap LGBTI+ do mundo, lançou o excelente HoloForte, em maio, mixando as palavras “holograma” e “forte”. O clipe de “Metralhada” mostra o poder das gatas no flow, nos looks, na runway, no fechamento. O disco ainda traz uma boa mistura de rap, funk carioca, trap e MPB. E (muito) talento.
Junho
Toda vez que uma suprema morre, uma nova nasce. E, no forró, a nova suprema é o pernambucano Jáder, que estreou, em junho, com o maravilhoso Quem mandou chamar???, firmando nosso forró como plataforma queer, justamente no mês da visibilidade LGBTI+. Lacrou e é, com certeza, a revelação do vale deste ano. Artista!
Agosto
É preciso romper o estranhamento inicial causado pelo sotaque italiano desse carioca afetivo, Rohma, para mergulhar no universo de seu bom álbum de estreia, @rroboboy, lançado em agosto. O artista inovou nos clipes de animação 3D, como no universo dos jogos eletrônicos para “Kobra”, com Letrux, e “Manda nudes“, com Fairy Addams. O som emula Gorillaz, Nine Inch Nails e Stromae, com produção de Jonas Sá e Thiago Nassif. O resultado rende momentos hilários, como “Strong Golden Shower” , e viajantes, como “Solo Io”, versão italiana de “Esquinas”, do Djavan. Agosto ainda teve ÀdeusdarÁ, de Josyara, que ganhou clipe para o xote “Essa Cobiça”, com pretos e pretas se amando em um baile no Centro histórico de Salvador que emociona.
Setembro
Este ano pudemos, realmente, “dançar em setembro”, como manda o hit do Earth, Wind & Fire, graças aos bons discos de Noporn, Contra Dança, e às estreias quentes de Thiago Pantaleão, com Fim do mundo e Izrra, em Coisas de amor. Liana Padilha segue sendo a rainha da spoken word nas pistas de dança, em seus 20 anos de serviços prestados à cena clubber nacional. Bati um papo com ela para a Sexta Sei. Thiago e Izrra chegaram com bastante atitude corporal e musicalidade, mostrando como a nova geração tem novas formas de encarar e expressar as abordagens da homoafetividade. Enquanto Thiago sensualiza na academia para falar de responsabilidade afetiva e putaria em “Desculpa por eu não te amar assim”, Izrra faz muito o Ícaro Silva e encanta a gente pela cor na linda “Céu Lilás”. “Nua e solta! Estranha e louca!”, como diz a canção do Noporn.
Outubro
A cantora e compositora paulistana trans Marina Mathey “atravecou o Pantanal” com seu disco de estreia, o antropofágico Boneca Pau Brasil, no qual ela mergulha em um resgate da Semana de Arte Moderna de 22 e na reflexão mais ampla sobre o extrativismo e a colonização de corpos, só que agora pela perspectiva travesti. “Chupa toda fruta até o caroço!” Ela questiona a ausência de corpas trans nos modernismos brasileiros que desembocaram no movimento tropicalista. O clipe da canção-título também é um bafo 🗣. Marina mistura samba, forró, tango, “rock debochado de travesti” e pop. Bati um papo com ela aqui.
*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O Globo, Tribuna de Minas, Mix Brasil, RG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.