Em 2019, Marina Lima completou 40 anos de carreira, data marcada pelo lançamento de seu primeiro disco, “Simples como fogo”. Para celebrar esse marco, a cantora e compositora lançou o livro de memórias “Maneira de ser”, em 2012, e durante o 27º Festival Mix Brasil, foi honrada com o prêmio Ícone Mix, além de ter a estreia do documentário “Uma garota chamada Marina”.

Dirigido por Candé Salles, amigo de longa data da artista, o filme acompanha Marina ao longo de dez anos, entre 2009 e 2019, revezando-se entre suas apresentações ao vivo, entrevistas e momentos íntimos flagrados em sua casa, no estúdio ou durante sua mudança do Rio para São Paulo. O ponto de partida é a produção do disco “Clímax” (2011), no mesmo período em que o diretor foi morar com ela na Lagoa, região da Zona Sul do Rio de Janeiro.

O diretor Candé Salles durante a exibição de “Uma garota chamada Marina”, no Festival Mix Brasil (Foto: Kaique Talles | Mix Brasil)

“Ela estava gravando o disco ‘Clímax’ em casa, ensaiando um show com direção artística e cenografia do Isay Weinfeld, em Porto Alegre, para estrear em São Paulo. Eu achei que era muita coisa, então comecei a ligar a câmera e filmar, porque pensei que tinha um negócio ali”, conta Candé à Revista Híbrida. No filme, ele agrupou imagens tanto do show de divulgação do álbum, como das duas turnês subsequentes de Marina: “No Osso”, projeto mais acústico da artista, e “Novas Famílias”, representado pelo registro de seu retorno ovacionado ao Circo Voador, no Rio.

Apoiando-se majoritariamente em entrevistas de pessoas próximas a Marina, como Letrux, Antonio Cícero e Fernando Muniz, e no material até então inédito gravado por ele mesmo, Candé revela o bom humor, a meticulosidade artística e o impacto cultural da artista, sem colocá-la no pedestal em que nomes de sua estatura costumam resguardar-se.

Poster oficial de "Uma garota chamada Marina" (Foto: Reprodução)
Poster oficial de “Uma garota chamada Marina” (Foto: Reprodução)

“Eu quis dividir com as pessoas a Marina que eu conheço tão de perto. Essa mulher inteligente, estudiosa da música, engraçada e virginiana. O filme tem momentos de todas as coisas que eu acho interessantes da vida dela”, explica o diretor, acrescentando que o trabalho foi uma forma de ter um registro audiovisual da amiga, cujo único DVD oficial é o MTV Acústico, lançado em 2013.

Na sessão do documentário no CineSesc, durante o Festival Mix Brasil, Marina Lima confessou à Híbrida que se sentiu extremamente satisfeita com o resultado do que viu em tela: “Fiquei feliz, porque [o Candé] me conhece muito, então eu sabia que seria muito fiel e leal à minha vida. É um filme muito verdadeiro e espontâneo, com momentos muito íntimos. Ele me mostra como eu sou. Nesse momento, é importante para mim”.

Marina Lima recebe o prêmio de Ícone Mix, ao lado de André Fischer e Josi Geller (Foto: Kaique Telles | Festival Mix Brasil)
Marina Lima recebe o prêmio de Ícone Mix, ao lado de André Fischer e Josi Geller (Foto: Kaique Telles | Festival Mix Brasil)

Durante a entrega do troféu Coelho de Prata, Marina falou sobre a importância da união entre pessoas LGBTQ e de como se sente satisfeita ao ver que sua arte ajudou tanta gente “que só precisava de um estímulo para ser quem quisesse ser”. “Nossa comunidade é corajosa, alegre, gay. As redes sociais nos uniu, nos aproximou e nos fortaleceu. Cada um é único no mundo e, nisso, somos todos iguais”, disse, durante o discurso.

À Híbrida, a artista contou como se sentiu ao ser homenageada por seu pioneirismo na comunidade: “Acho que evoluiu muito, o mundo evoluiu. Claro, sempre tem um lado careta e retrógrado no mundo, essa é uma questão cíclica. Acho que precisamos estar unidos e fortes. Nós somos corajosos e estamos preparados para ter gente querendo nos calar, mas não vão conseguir. Porque sabemos desde cedo batalhar. É um momento difícil do Brasil e do mundo, mas vamos vencer”.