A atriz Cássia Kis, de 64 anos, foi denunciada ao Ministério Público por LGBTIfobia após ter dito em uma live nas redes sociais que casais homoafetivos querem “destruir a família e a vida humana”. A representação criminal foi enviada por Márcia Verçosa de Sá Mercury, filha da cantora Daniela Mercury e da jornalista Malu Verçosa, ao Ministério Público do Rio de Janeiro.

“Como filha de um casal de lésbicas, me sinto no dever, por minhas irmãs e por toda comunidade LGBTQIAP+ que é vítima violências cotidianas, de agir para que ela seja punida no rigor da lei. Minha família merece respeito, a população LGBTQIAP+ merece respeito!”, afirma Márcia.

Márcia tem 24 anos e é bacharel em Direito e pós graduanda em direito digital. A representação, que acusa a atriz de ferir coletivamente pessoas LGBTI+, foi assinada pelo advogado Pedro Martinez, do escritório Martinez Jorgetto Advocacia e ex-coordenador da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/SP.

“Falas como a da representada [Cássia Kis] não devem ser vistas apenas como polêmicas ou algo menor. Devem ser nomeadas pelo que de fato são: discriminação LGBTfóbica, um crime”, afirma um trecho da representação, que foi enviada à Coordenadoria de Direitos Humanos e de Minorias do MPRJ e pede a remoção do vídeo da internet e o bloqueio de sua monetização.

Cássia Kis se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais ao longo desta quinta-feira (27) quando veio à tona uma entrevista que ela concedeu ao canal da jornalista Leda Nagle no Instagram. Na conversa, ela diz que se descobriu “conservadora” e “de direita” ao longo da pandemia do coronavírus.

“Não existe mais o homem e a mulher, mas a mulher com mulher e homem com homem. Essa ideologia de gênero que já está nas escolas… Eu recebo as imagens inacreditáveis de crianças de 6, 7 anos se beijando. Duas meninas dentro de uma escola, onde há um espaço chamado beijódromo”, acusou a atriz, sem apresentar provas ou dizer a procedências de tais imagens.

Márcia Verçosa de Sá Mercury (à esq.) é filha da cantora Daniela Mercury e da jornalista Malu Verçosa (Foto: Reprodução)
Márcia Verçosa de Sá Mercury (à esq.) é filha da cantora Daniela Mercury e da jornalista Malu Verçosa (Foto: Reprodução)

Abaixo, confira o depoimento completo de Márcia Verçosa de Sá Mercury enviado à Híbrida:

“Fiquei estarrecida ao ver as declarações homofóbicas da atriz Cássia Kiss, a quem eu respeitava como representante da arte brasileira, sempre presente no nosso cotidiano, entrando na nossa casa através das inúmeras novelas que fez durante a carreira, inclusive estando no ar diariamente atualmente na Rede Globo. Uma mulher com a visibilidade dela não pode se sentir no direito de atacar a minha família durante uma entrevista.

Ao ver a gravação em que ela ataca famílias como a minha, chorei. Ela fala que as pessoas LGBTQIAP+ destroem as famílias. Com que direito ela pode falar isso se a minha família foi justamente construída a partir de uma união homoafetiva? A adoção é um ato de amor que muda a vida de muitas crianças e adolescentes. Mudou a minha vida e a de minhas irmãs.

Eu tive a sorte de encontrar duas mulheres corajosas que não se intimidaram com os preconceitos da sociedade e decidiram adotar uma menina de 13 anos de idade, outra de 10 e a terceira na época com 1 ano. Elas nos ensinaram a importância da honestidade, do caráter, bondade e do respeito à diversidade, seja ela qual for.

As palavras de Cássia Kiss me causaram impactos psicológicos profundos e me levaram de volta ao sofrimento que senti por muitos anos antes de encontrar o amor e a estrutura que uma base familiar sólida como a minha proporciona. As palavras dela fizeram eu me sentir vulnerável e desamparada legalmente.

Como filha de um casal de lésbicas, me sinto no dever, por minhas irmãs e por toda comunidade LGBTQIAP+ que é vítima violências cotidianas, de agir para que ela seja punida no rigor da lei. Minha família merece respeito, a população LGBTQIAP+ merece respeito!

Espero que Cássia Kiss responda pelo crime de LGBTfobia e seja condenada. Só com o cumprimento da Lei conseguiremos ter nossos direitos respeitados.”