Na madrugada desta quarta-feira (7), o paulista de Itaquera, Acan Simões, de 21 anos, venceu o Mister Brasil Trans de 2023. A segunda edição do concurso, que no ano anterior coroou o carioca Bernardo Rabello, de 26 anos, como o homem transmasculino mais bonito do País, aconteceu no Teatro Novotel Jaraguá, em São Paulo, e teve um total de 28 candidatos na disputa, além de participações do ativista Gab Van, um dos produtores do evento, e Lyandra Kelly, moradora da Casa Florescer.

“Eu sou o único preto retinto aqui no Mister Brasil Trans. É muito importante que nossos corpos estejam presentes em todos os espaços. O racismo estrutural faz a gente achar que não pode estar nos lugares. Por isso, eu agradeço a minha ancestralidade que abriu as portas para eu estar aqui recebendo faixa de Mister Brasil Trans”, disse Acan.

Ao receber a coroa, o novo Mister Brasil Trans homenageou Demétrio Campos, jovem baiano que faleceu há 5 anos; e Nathan Santos, o primeiro preto retinto a concorrer ao Mister Brasil Trans, no ano passado.

“Nós também precisamos deste espaço para celebrar a nossa existência e a nossa beleza. Vai muito além de estética. A sociedade ainda não consegue olhar pra gente e ver a nossa beleza de verdade”, completou.

Matheus Jade Esseyah, vencedor do primeiro Mister Trans Internacional [Foto: @ursopretodafavela/@casadoursocomunica]
Matheus Jade Esseyah, vencedor do primeiro Mister Trans Internacional [Foto: @ursopretodafavela/@casadoursocomunica]
Além de Simões, o Mister Brasil Trans 2023 também realizou um concurso reunindo candidatos de outros países. O tunisiano Matheus Jade Esseyah, de 24 anos, foi eleito o primeiro Mister Trans Internacional. Ele venceu o colombiano Edan Mar e o brasileiro Fahim Qasem.

“Eu quero ajudar os homens trans da Tunísia e do Brasil. No meu país, a gente não tem acesso à terapia hormonal. Se a gente denuncia, acaba preso. Eu tinha denunciado essa realidade em minhas redes sociais e acabei obrigado a deixar a Tunísia. Meu plano era incialmente ir para a França, mas como a Tunísia não tem relações diplomáticas com a França, a solução seria ir para um país onde esse caminho pudesse ser feito e assim vim para o Brasil”, disse Esseyah. “A ideia era ficar apenas uns meses, mas eu me apaixonei pelo Brasil e é aqui que eu quero ficar. Eu quero ser uma voz para ajudar homens trans da Tunísia e do Brasil.”

Esteban Rodrigues, produtor-executivo e co-fundador do Mister Trans Brasil, comemorou o sucesso da edição. “A celebração da transmasculinidade e do Mister Trans perpassa um processo diário de resistência e potência, além de ressignificação do que é masculinidade e como se afastar de uma leitura cisgenera, violenta, tóxica, machista. É por continuarmos vivos, ocupando e transgredindo espaços, que o Mister Trans existe. Um confinamento com mais de 30 realidades, vivências, experiências e construções subjetivas”, disse.

Para ele, o evento representa mais que uma competição de beleza, mas sim um espaço para novas oportunidades: “é um equívoco dizer que se trata apenas de beleza, quando se criam possibilidades políticas, culturais, esportivas, sociais e sensíveis. Esse é o maior encontro de transmasculinidades do mundo, não apenas enquanto competição, mas construção de afetos, amizades, relacionamentos e empatia. Quem entra no Mister Trans Brasil ou Internacional, nunca sai o mesmo”.

Rodrigues também já anunciou uma nova edição para eleger o Mister Brasil Trans 2024 e revelou que, em breve, as inscrições estarão abertas.