Nem mesmo o caos provocado pelo temporal que atingiu a capital fluminense poucas horas antes impediu que milhares de pessoas se reunissem na orla da Praia de Copacabana neste domingo (19) para acompanhar a 28ª Parada LGBTI+ do Rio de Janeiro, a mais tradicional do Brasil.

O tema deste ano foi O Amor, a cidadania e a luta LGBTI jamais irão recuar”. Ele foi escolhido com o propósito de conscientizar a população para que os direitos já conquistados pela comunidade não sejam revogados.

A Parada do Orgulho do Rio de Janeiro é realizada anualmente desde 1995, sendo a primeira do Brasil. Mesmo com todo esse legado e histórico de ativismo em prol da comunidade, o Grupo Arco-Íris, responsável pela organização do evento, enfrentou desafios para colocar os trios em Copacabana este ano pela falta de grandes patrocinadores.

“A gente pode fazer luta com muita garra, mas com alegria e celebração junta; pode combinar celebração com manifestação. A gente pode ter uma fala bem dura e cuidar do irmão e da irmã que estão do lado. Somos singulares, é nosso modo de construir a política pública, com amor e luta”, comentou Cláudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris. “Se a gente não reconhece o que produzimos, a gente se perde. É fundamental reconhecer nosso legado.”

Com o apoio do governo federal, através da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional ao Turismo), e da Coordenadoria de Diversidade Sexual do Município (CEDS-Rio), o coletivo conseguiu estender a bandeira do arco-íris novamente na Avenida Atlântica. “O Brasil voltou para a plataforma LGBTQIA+. A Embratur volta a representar o país em toda a organização mundial das paradas. É um Brasil que voltou para o mundo e que quer ser visitado por esse mundo”, disse Marcelo Freixo, presidente da agência, observando ainda que o circuito de Paradas do Orgulho movimenta o turismo do mundo inteiro e que a edição carioca é pioneira no Brasil.

Público da 28ª Parada do Orgulho LGBTI+ do Rio na Avenida Atlântica, em Copacabana (Foto: Tomaz Silva | Agência Brasil)
Público da 28ª Parada do Orgulho LGBTI+ do Rio na Avenida Atlântica, em Copacabana (Foto: Tomaz Silva | Agência Brasil)

“Em mais de 20 anos de militância, nunca imaginei que fossem tirar direitos nossos. Mais do que nunca, a gente tem que entender que esses direitos não estão 100% assegurados. Quando eu vi alguém tentar tirar um direito que nos foi concedido em 2011, eu senti vergonha de ser brasileiro”, disse Carlos Tufvesson, coordenador da Diversidade Sexual do Rio de Janeiro, em referência ao Projeto de Lei 580/2009, que tenta proibir o casamento homoafetivo no Brasil.

“A gente diz que a Parada de Copacabana é como um dia de ação de graças, com todos e todes fazendo acontecer”, completou Cláudio. “Tivemos muita dificuldade para chegar até aqui. Não vamos aceitar nenhum recuo dos direitos que já conquistamos.”

Figuras importantes da política do Rio de Janeiro e do Brasil estiveram presentes para afirmar seu compromisso com a comunidade. Uma das mais aplaudidas foi Benny Briolly (PSOL), primeira travesti eleita vereadora em Niterói, na região metropolitana do Rio.

“Nos nunca recuamos. A gente foi morta, a gente foi estuprada, a gente apanhou, foi colocada para fora de casa, foi expulsa do mercado de trabalho, das escolas, mas a gente se organizou e estamos fazendo uma retomada de poder”, destacou Benny à Híbrida. “Não recuar significa fazer com que os conservadores entendam que a gente vai discutir os avanços, os progressos. Estamos pautando uma agenda a partir da diversidade.”

Uma das pautas abordadas pelos militantes é a necessidade de cobrar o governo federal por ações afirmativas mais contundentes, algo que ainda não foi visto nesse primeiro ano de mandato. “Participei da transição do governo Lula, e cobrei a criação da Secretaria de Direitos LGBTQI+. Agora, essa Secretaria virou um ovo e por isso faço coro: cumpra-se”, destacou o deputado estadual Carlos Minc (PSB/RJ). “O movimento LGBTI foi essencial para derrotar o bolsonarismo. E ganhamos por pouco. O movimento uma vanguarda que deve ser sempre reconhecido.”

“A Parada não é um evento que começa e termina no mesmo dia”, disse Freixo. “É um marco civilizatório, que desperta a economia, um novo modelo de desenvolvimento e uma nova sociedade que a gente quer viver aqui.”

Em seus mais de 28 anos de existência, a Parada do Orgulho do Rio de Janeiro mostrou novamente sua relevância no cenário nacional para a luta contra a discriminação, o ódio e a violência contra a comunidade. Em 2024, a promessa e esperança que ficam são a de um evento maior e sem tantas dificuldades, com o brilho que a pioneira das paradas merece.

Além do patrocínio da Prefeitura, através da CEDS, e da Embratur, a 28ª Parada do Orgulho LGBTI+ do Rio de Janeiro foi realizada com o apioio da ABGLT; Abeth; RedTrans; Rede Gaylatino; Pink Flamingo; Taurus Bar; Skokka; Centro de Convivência, Cultura e Cidadania LGBTI+; Fonges LGBT; Museu Movimento LGBTI+; NN Advogados; Estudo SMILE; site Pheeno; Fina Batucada; Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro; Programa Rio Sem LGBTIfobia; INI – Instituto Nacional de Infectologia; Fiocruz; e Ministério da Saúde, OtimaBrasil, Supervia, rádio FM O Dia e TV Globo.