Dahmer: Um Canibal Americano chegou ao catálogo da Netflix no último mês e já se tornou a 9ª maior estreia do serviço de streaming, segundo dados divulgados pela própria plataforma. Baseada nos crimes cometidos por Jeffrey Dahmer nas décadas de 1970 a 90, nos Estados Unidos, a minissérie de apenas 10 episódios traz o ator Evan Peters no papel principal e tem sido criticada por renovar a base de fãs do serial killer.

A nova produção de Ryan Murphy integra a saga e sede de obras sobre crimes reais, que estão em alta atualmente. No Brasil, a série Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez, da HBO Max, se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes, assim como os episódios do podcast A Mulher da Casa Abandonada. Embora tenha agradado alguns fãs deste gênero de não-ficção, Dahmer: Um Canibal Americano tem sido amplamente criticada pelos espectadores e, especialmente, pelos parentes das vítimas do assassino.

Eric Perry, irmão de Errol Lindsey, assassinado em 1991 por Dahmer, utilizou seu Twitter para protestar que a produção está fazendo com que ele e a família revivam o trauma daquela época. “Eu não estou dizendo aos outros o que assistir, eu sei que produções de true crime estão em alta no momento, mas se você está realmente curioso sobre as vítimas, minha família (os Isbell’s) está furiosa com a série. É traumatizante mais uma vez, e para o quê? Quantos filmes/séries/documentários precisamos?”, disse.

A manifestação de Perry ocorreu em resposta a um vídeo que comparava o testemunho de Rita Isbell, irmã de Lindsey, durante o julgamento de Dahmer em 1992, com a cena interpretada pela atriz DaShawn Barnes na série.

Em seguida, ele escreveu: “Tipo, recriar minha prima tendo um surto emocional no tribunal em frente ao homem que torturou e matou seu irmão é INSANO. INSAAAANO”.

Após o tweet viralizar, Perry respondeu as dúvidas de alguns internautas, que se solidarizaram com o caso e questionaram se a Netflix obteve permissão da família para gravar a obra: “Respondendo à pergunta principal, não, eles não notificam as famílias quando fazem isso. É tudo arquivo público, então eles não têm que notificar (nem pagar!) ninguém. Minha família descobriu quando todas as outras pessoas descobriram”.

Na última semana, Kim Alsup, uma das assistentes de produção de “Dahmer: Um Canibal Americano”, concedeu uma entrevista ao Los Angeles Times declarando que trabalhar no set da série foi uma das piores experiências de sua carreira. “Eu apenas sinto que vai trazer de volta muitas memórias de trabalhar lá. Eu não quero ter esse tipo de estresse pós-traumático. O próprio trailer me deu [sintomas] de estresse pós-traumático”, disse.

No dia 18 de setembro, Aslup publicou em seu Twitter que foi tratada de maneira horrível pela equipe durante as filmagens. “Eu trabalhei neste projeto e eu era uma das duas pessoas negras no set e eles ficavam me chamando pelo nome da outra. […] Trabalhar nisso tirou tudo o que eu tinha e fui tratada de forma horrível”, escreveu.

Antes mesmo de estrear, a série já se viu envolta em polêmicas. Quando o trailer foi divulgado, diversas pessoas questionaram a necessidade de mais uma obra retratar, como forma de entretenimento, os crimes brutais cometidos pelo assassino – que teve, em sua maioria, vítimas gays e não-brancas (meninos pretos, asiáticos e latinos).

Dias após chegar ao catálogo da Netflix, a plataforma também se viu obrigada a retirar a marcação de conteúdo “LGBTQ” da série, sem maiores explicações. Alguns usuários alegaram que isso aconteceu graças às reclamações nas redes sociais, que questionaram a forma imprópria de representação da tag. Já outros defenderam o seu uso, sinalizando como a homofobia foi um fator crucial para a displicência policial nas investigações dos casos de assassinato e considerando que o próprio Dahmer era gay, assim como a maioria de suas vítimas.

“Fãs” de serial killer

Além da objeção de familiares das vítimas, as críticas sobre Dahmer também apontam que a série tem servido para renovar o interesse no serial killer da pior forma possível. Segundo o New York Post, alguns dos espectadores da série têm manifestado desejos sexuais pelo assassino que praticava necrofilia e canibalismo com suas vítimas, elevando-o ao posto de símbolo sexual.

Esse novo culto à figura de Jeffrey Dahmer tem sido expresso por publicações em redes sociais e fóruns, nas quais os autores enaltecem as fotos reais do serial killer e admitem a atração sexual por ele, à medida em que ignoram seus crimes. Ironicamente ou não, a série tenta lançar essa mesma crítica aos fãs e à cobertura midiática da época em que ele estava vivo.

Na última segunda-feira (3), o TMZ publicou ainda que os óculos usados por Dahmer ao longo de sua prisão estão à venda por cerca de U$ 150 mil (R$ 780 mil). O acessório está sendo comercializado por Taylor James, dono de uma loja em Vancouver, no Canadá, especializada em itens “cult” colecionáveis e relacionados a crimes reais.

Até o momento, Ryan Murphy e a Netflix não se pronunciaram sobre essas controvérsias.