Ao longo de seus 60 anos, Cassandra Rios foi uma das escritoras mais prolíficas de seu tempo e, ao mesmo tempo, a mais censurada pela ditadura militar do Brasil, que achava o teor sexual e majoritariamente lésbico de seus romances “uma ofensa aos valores familiares”. Nascida em 3 de outubro de 1932, ela será homenageada ao longo dos próximos dias pelo Museu da Diversidade Sexual (MDS) de São Paulo, em comemoração ao que seria seu aniversário de 90 anos.

Neste e no próximo fins de semana, Cassandra será tema de uma série de eventos promovidos pelo MDS (confira os detalhes mais abaixo). No sábado (8), acontece o Rolês e Territorialidades LGBTQIA+ no Centro de São Paulo – Especial Cassandra Rios, com um passeio guiado pelo museu nos lugares que a escritora paulista passou quando viva. No dia seguinte, às 14h,  haverá uma edição especial do Sarau e Encontro de Autoras, em parceria com a Editora PEL, que será dedicada à produção da escritora e com a leitura de trechos da sua obra.

Às 18h da próxima terça-feira (11), rola o debate 90 anos de Cassandra Rios, na Livraria Tapera Taperá, com Hannah Korich e Bárbara Esmenia. Na sexta (14), às 10h, acontece a abertura da exposição virtual De menina da pastinha a uma das maiores escritoras do Brasil: Cassandra Rio faz 90 anos, no Museu Bajubá.

No fim de semana seguinte, o encontro Mesa Cassandra Rios, parceria com o Museu Bajubá, também abordará os 90 anos do nascimento de Cassandra Rios e sua trajetória no sábado (15). O evento terá a participação especial de Rita Colaço e Kyara Almeida.

Quem foi Cassandra Rios?

Cassandra, cujo nome de batismo era Odette Pérez Río, lançou seu primeiro livro, A Volúpia do Pecado, em 1950, quando tinha apenas 16 anos. Rejeitado pelas editoras, o título foi publicado de forma independente pela escritora e acabou provando-se um sucesso, ganhando nove reedições ao longo dos dez anos seguinte.

O romance já trazia algumas das características de mistério e erotismo que permeariam sua obra e a fariam ser considerada a primeira autora a se aventurar pelo gênero na literatura brasileira. Sua produção abordava o romance feminino através de personagens lésbicas e sexuais, o que lhe rendeu o apelido de “escritora maldita” na ditadura militar.

Ao longo do regime, Cassandra teve 36 dos seus 50 livros censurados pelo regime ditatorial, incluindo A Volúpia do Pecado. Ao mesmo tempo, a escritora foi a primeira a bater a marca de 1 milhão de exemplares vendidos, no ano de 1970, superando outros autores populares da época, como Jorge Amado, Clarice Lispector e Érico Veríssimo.

Para driblar a patrulha ideológica, Cassandra passou a usar pseudônimos masculinos. E, mesmo com todo o sucesso comercial e perseguição, ela sofreu ainda a rejeição da classe intelectual contemporânea, que a considerava “muito popular”. “Não me considero marginalizada. Eu é que marginalizo e ignoro a crítica”, declarou em certa ocasião.

Cassandra é também considerada como a primeira escritora nacional conhecida por viver exclusivamente da renda obtida com a venda de seus livros. Ela nunca exerceu outra profissão de que se tenha conhecimento. A escritora faleceu em 2002, aos 69 anos, na mesma cidade em que nasceu e foi perseguida, São Paulo.

Serviço

  • Museu da Diversidade Sexual

Endereço: Rua do Arouche, 24 – Estação República do Metrô (Piso Mezanino)

Funcionamento: de terça à sexta-feira, das 10h às 18h.

  • Arquivo Lésbico Brasileiro – Encontro 90 anos de Cassandra Rios

Endereço: Livraria Tapera Taperá. Av. São Luís, 187 – Centro. Loja 29, 2º andar. São Paulo.

  • Museu Bajubá

Exposição “De menina da pastinha a uma das maiores escritoras do Brasil: Cassandra Rio faz 90 anos”. Site.