Dez longos meses depois de lançar Renaissance, seu 7º álbum de estúdio como artista solo, Beyoncé estreou a turnê de divulgação do disco nesta quarta-feira (10) em Estocolmo, na Suécia. Ainda sem data oficialmente confirmada no Brasil (mas com fortes indícios de que deve passar por aqui), o primeiro show mostrou toda a potência criativa da artista, que se desdobra em referências à cultura ballroom em figurinos, vídeos, coreografias de voguing e produções audiovisuais, tudo isso sob uma camada estética futurista.

Como a Híbrida contou, Renaissance foi dedicado ao tio materno da artista, Johnny Knowles, um homem gay que morreu por complicações do HIV quando ela ainda era adolescente: “Ele foi minha madrinha e a primeira pessoa a me expor a muitas das músicas e cultura que servem de inspiração para esse álbum”, escreveu Beyoncé no encarte do disco.

“Ele foi o homem gay mais fabuloso que eu já conheci, e ajudou a criar eu e minha irmã. Ele viveu sua verdade, foi corajoso e destemido numa época em que esse país não era tão receptivo”, disse a artista durante seu discurso de agradecimento no GLAAD Awards de 2019.

Para quem não tinha percebido já pelas primeiras batidas de “BREAK MY SOUL”, Beyoncé explicou também que o Renaissance é dedicado “a todos os pioneiros que originaram a cultura, a todos os anjos caídos cujas contribuições não têm sido reconhecidas por muito tempo”, em uma referência aos artistas pretos e LGBTQIA+ que criaram a cultura ballroom.

No encarte de "Reinassance", Beyoncé agradece ao seu tio Jonny, "o homem gay mais fabuloso" que ela já conheceu e inspiração para o disco (Foto: Reprodução)
No encarte de “Reinassance”, Beyoncé agradece ao seu tio Jonny, “o homem gay mais fabuloso” que ela já conheceu e inspiração para o disco (Foto: Reprodução)

Ao longo de aproximadamente três horas, o show da Renaissance World Tour trouxe inúmeras referências a essa cultura que teve destaque recente com a série POSE, mas vive antes e depois do programa, mesmo que nem sempre reconhecida ou creditada no mainstream. Ao fim da apresentação, por exemplo, Beyoncé deixa no telão uma foto antiga de sua mãe e seu tio, Tina e Johnny Knowles, enquanto o público se dispersa.

Antes mesmo de começar o show, o telão da turnê já exibia uma espécie de barra de cores inteligente, como as que apareciam antes de uma fita VHS começar, mas dessa vez formada pelos tons da versão mais recente da baneira LGBTQIA+. Esse mesmo símbolo já era descrito nas letras de “COZY”, como é possível ver nos vídeos abaixo.

“BREAK MY SOUL”, por sinal, é apresentada na versão do Queens Remix, que conta com a participação de Madonna e interpelações de “Vogue”, hino lançado em 1990 e um dos responsáveis por catapultar os passos do voguing na música pop. Nessa hora, os dançarinos formam uma fila enquanto Beyoncé desfila no meio servindo rosto e é anunciada como “a Mãe da Casa Renaissance”.

O conceito ballroom aparece em vários outros momentos do show, como nas imagens de bailes exibidas no telão, no uso de globos metálicos e leques para compor os figurinos e cenários ou na parte em que o mesmo corredor é formado para os dançarinos se apresentarem como se estivessem em uma batalha de voguing. Para complementar, a plateia de frente para o palco recebeu placas com o número 10, uma referência à pontuação que os jurados costumam dar nos bailes originais e citada em “HEATED” (“10s, 10s, 10s across the board!”).

Além de homenagear ícones e a própria história do ballroom, Beyoncé também fez questão de promover artistas contemporâneos da cena. Lendário no meio, Honey Balenciaga pertence à Casa de Balenciaga, uma das principais dos Estados Unidos, e foi contratado como dançarino oficial da turnê. A voz de Kevin JZ Prodigy, um dos maiores narradores atuais de voguing, também aparece em vários momentos, além de já ter sido usada em “PURE/HONEY”.

Banheiros neutros na Renaissance

Além de muita representatividade no palco, Beyoncé ainda comprou uma briga política com a turnê do Renaissance ao estabelecer o uso dos banheiros de gênero neutro para o público e no backstage dos shows. Assim como no Brasil, a comunidade LGBTQIA+ dos Estados Unidos também tem sofrido com o avanço de projetos de lei que tentam minar o direito de pessoas transexuais usarem o banheiro de acordo com o gênero que se identificam.

Estados como a Flórida e o Tennessee têm aprovado leis anti-LGBTQIA+ especificamente contra o uso dos banheiros de gênero neutro. Em 16 de agosto, quando a turnê passar peloestádio Raymond James, em Tampa, Flórida, a proibição já estará em vigor, o que alguns fãs já preveem como um ponto de embate entre Beyoncé e o governador republicano e conservador Ron DeSantis.

Abaixo, veja mais fotos e vídeos em que Beyoncé fez referências à cultura ballroom na turnê do Renaissance, enquanto rezamos para que o reconhecimento de um fã do Brasil comova a artista a anunciar logo suas datas por aqui.