Às vésperas de cair na estrada com a família na turnê Nós a gente, Gilberto Gil fez uma rara reflexão sobre a forma como exerceu sua sexualidade no passado. Em entrevista à revista Veja, um dos maiores artistas vivos da música brasileira disse que “experimentou tudo” e admitiu de forma excepcional que já teve relações com outros homens.

Perguntado se já sentiu atração por outra pessoa do mesmo sexo, Gil declarou: “Atraído como tenho sido pelas mulheres, nunca. Nunca tive tesão num homem, como se diz. No entanto, por razões de delicadeza natural, educação, finura do trato, já tive proximidade com a sexualidade de outro, de outros”.

“Sim, e isso não afeta meu modo de ver o assunto na minha vida. Essas questões de amor, amizade, respeito foram possíveis em momentos em que a sexualidade era uma coisa mais vibrante em mim”, respondeu Gil, quando questionado se já havia atuado sobre a atração e se relacionado com outros homens. “Como disse , houve épocas em que ela se aproximou de outros, mas nunca na mesma forma como de outras. Para mim, jamais foram coisas iguais.”

Gil também disse que nunca se incomodou com os boatos de que ele e Caetano Veloso tiveram algum tipo de romance ou caso amoroso. “Encarava essas especulações como consequência da nossa proximidade, dos nossos gostos e do encantamento mútuo”, disse. “Talvez isso pudesse provocar fantasias a respeito do que seriam possíveis ‘desembocares’ de sexualidade entre nós, o que sempre tratamos com naturalidade.”

Aos 80 anos, Gilberto Gil é casado desde 1988 com Flora Gil, mãe de três dos seus oito filhos: Bela, Bem e José. Apesar das décadas de casamento, ele descartou qualquer possibilidade de que o relacionamento seja aberto: “Flora e eu somos abertos ao mundo, mas nunca especulamos nada na direção do sexo livre. Nosso convívio tem uma enorme benignidade. Há uma delicadeza no trato e, para todo mal que surge, a Flora é o próprio remédio”.

Em outros momentos da entrevista, Gil admite que já viu “sombras, fantasmas” de discos voadores, parou de fumar maconha em 2010, nunca gostou de cocaína e tomava ácidos durante seu exílio em Londres. “Experimentei tudo que uma viagem lisérgica propicia — o surreal, o surrealismo e o cubismo. Esses experimentos me interessavam na época e se refletiam na atitude musical. Também era um elemento que ajudava na adaptação à vida fora e à atmosfera londrina.”

Na mesma conversa, Gil falou sobre como sentiu o impacto da morte de Gal Costa, no ano passado, e a recente passagem de Rita Lee, com quem lançou um disco gravado ao vivo, Refestança, em 1977: “A minha vida é um trançado, um crochê com as de Gal e Rita. Nascemos no mesmo tempo na Terra e juntamos os instrumentos que Deus nos deu. Elas se foram, eu fico até sei lá quando”, disse.

Alguns fãs apontaram que a sexualidade fluída de Gil não é uma grande novidade, resgatando trechos da música “Pai e Mãe”, lançada com o álbum Refazenda em 1975, na qual ele canta: “Aprendendo a beijar outros homens / Como beijo meu pai”.

Questionado se acredita pessoalmente que “somos todos bissexuais“, como declarou em uma entrevista anterior, Gil explicou: “Sim, porque somos todos filhos de um pai e de uma mãe, o resultado de uma junção de genes de um e de outro. Portanto, somos todos bissexuais. Agora, o quanto e como isso influencia na condição masculina ou feminina e no exercício da própria sexualidade, aí reside uma variação infinita de possibilidades”.

A turnê Nós a gente estreia no próximo dia 16 de junho, no Rio, e depois passa por outras capitais brasileiras antes de seguir para a Europa. Confira aqui a agenda completa e onde comprar ingressos para as apresentações.