O Brasil chegou nesta segunda-feira (12) a 219 casos confirmados da varíola dos macacos (monkeypox), a grande maioria deles em São Paulo, de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde. Médicos e infectologistas que atendem os principais centros de referência para ISTs na capital paulista têm observado um perfil principais entre os pacientes: homens, de 18 a 36 anos, grande parte deles solteiros e tomando profilaxia pré-exposição (PrEP).

A doença viral começou a se espalhar no início do mês passado e já está em mais de 50 países, segundo o último boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em lugares como Espanha, Portugal, Reino Unido e Estados Unidos, a tendência é a mesma observada no Brasil: a maior parte dos pacientes são “homens que se relacionam com homens”, como define a própria entidade.

A varíola humana (smallpox) foi declarada como erradicada no Brasil e no mundo desde a década de 1980 e, por aqui, a vacina contra a doença foi descontinuada na mesma época. Hoje, a varíola dos macacos que circula é uma mutação daquele vírus, contra o qual poucas pessoas têm proteção exatamente porque a imunização foi extinta há tanto tempo.

Os sintomas da varíola dos macacos (monkeypox) variam de um paciente para o outro e podem demorar de 5 a 21 dias para se manifestarem (período em que o vírus pode ficar encubado no corpo). Alguns pacientes relatam febre, dor de cabeça, na garganta e no corpo durante os primeiros dias, que podem ou não evoluir para pequenas bolhas com secreção que parecem espinhas quando nascem e crescem até estourar e a lesão secar.

A variação dos sintomas e o fato de que algumas lesões têm aparecido nas regiões genital e perineal têm atrasado os diagnósticos e confundido tanto os pacientes quanto os profissionais da saúde, que em um primeiro momento acreditam ser gripe, coronavírus ou alguma IST como herpes e sífilis.

Países como Estados Unidos e Reino Unido começaram a vacinação contra a varíola dos macacos no público específico de “homens que se relacionam com homens” e, por enquanto, a OMS não recomenda a imunização em massa da população, até porque não existem doses prontas para isso. Ao mesmo tempo, a organização afirma que a doença dificilmente se restringirá ao público masculino com o passar do tempo e informa já ter detectado a transmissão vertical do vírus, quando ele é passado de mãe para filho.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não tem registro de nenhuma vacina contra a varíola, humana ou dos macacos. Já o Ministério da Saúde diz que espera um posicionamento da OMS sobre a distribuição de doses aos países.

Abaixo, o infectologista Rico Vasconcellos, que atende no Hospital das Clínicas de São Paulo e em seu consultório particular, onde já atendeu pacientes com a varíola dos macacos, esclarece algumas das principais dúvidas sobre a doença e o que se sabe sobre ela até agora.

Varíola dos macacos (monkeypox) pode se manifestar com uma ou várias lesões na pele; no Brasil; vacina para a doença ainda não está disponível (Foto: Istock)
Varíola dos macacos (monkeypox) pode se manifestar com uma ou várias lesões na pele; no Brasil; vacina para a doença ainda não está disponível (Foto: Istock)

Como se transmite a varíola dos macacos? Ela é sexualmente transmissível?

A varíola dos macacos é transmitida por contato próximo com o vírus. Isso pode acontecer através da saliva, de gotículas respiratórias ou das lesões de pele. Então, não dá pra chamar de “sexualmente transmissível” porque mesmo que a pessoa não tenha uma relação sexual, ela pode dormir abraçada ou beijar alguém infectado e pegar.

Como começa a varíola dos macacos? E quais os primeiros sintomas?

Existe o quadro clínico típico: de 5 a 21 dias depois que alguém se infecta com o vírus, a pessoa começa a ter febre, dor de cabeça, na garganta e nas costas, o que são sintomas bem específicos e podem confundir com uma gripe ou com a covid. Depois de alguns dias, começam a aparecer lesões de pele, que podem ser apenas uma ou várias, parecidas com a catapora.

Fora isso, existem também as variações. Algumas pessoas têm lesão de pele, mas não têm febre. Outras têm febre, mas não tem gânglio aumentado. E há também quem manifeste apenas uma lesão específica.

Se estiver doente e não sabe o que é, mesmo que esteja com o teste de antígeno da covid negativo, não deve ir para festas, aglomerações ou dates, porque pode ser a monkeypox.

Existe vacina para a varíola dos macacos?

Existem duas vacinas disponíveis no mundo, que foram desenvolvidas contra a varíola humana (smallpox), mas que conseguem conferir uma boa proteção contra a monkeypox (aproximadamente 85%). No entanto, nenhuma das duas está disponível no Brasil ou tem registro na Anvisa para tal.

A varíola dos macacos tem cura? Como é o tratamento?

Na enorme maioria das vezes, a varíola dos macacos tem uma evolução benigna e a pessoa melhora sozinha dentro de alguns dias ou semanas. As lesões cicatrizam e ela está curada. Quando alguém está com monkeypox, os remédios que passamos são sintomáticos para tratar a febre, a dor de cabeça ou nas lesões, como antitérmicos e analgésicos. Apesar de existirem, não usamos nenhum antiviral para tratar o monkeypox. É a imunidade da pessoa que vai resolver a infecção.

Onde devo buscar ajuda se apresentar sintomas de varíola dos macacos?

Procure um profissional da saúde na UBS, em um serviço especializado de ISTs próximo da sua casa, ou mesmo de um médico que não seja do sistema público, mas de sua confiança. Esses profissionais podem te orientar e fazer o exame confirmatório, assim como a notificação do caso suspeito às autoridades.

Por quanto tempo devo me isolar se estiver com varíola dos macacos?

O principal período de transmissibilidade do monkeypox acontece depois do início dos sintomas. A partir daí, a pessoa deve se isolar e evitar contato próximo com pessoas. É importante usar máscaras, ficar em casa e não compartilhar toalhas ou lençol que também transmitem a doença.

A pessoa continua transmitindo enquanto tiver lesões de pele ou feridas abertas, que não têm ainda a “casquinha” ou entraram em fase de crosta. Isso varia de pessoa para pessoa, pode ir de uma a três semanas. Depois que não tiver febre, as lesões não aparecerem mais e as que já existem estiverem “em crosta”, aí pode sair do isolamento.

Tomo PrEP e estou com varíola dos macacos. Devo parar de tomar a PrEP?

Não. Não tem nada a ver com a PrEP, que é apenas uma variável de confusão. Quem usa PrEP, geralmente é quem tem exposição sexual, que é um contato próximo capaz de transmitir o monkeypox. A PrEP geralmente é tomada para proteger do contágio do HIV, então não pare de tomar.