Estreou no último sábado (20) a exposição As Patricinhas de Bervely Hells, do jornalista, fotógrafo e colunista da Híbrida Pedro Stephan. Na Casa Fluida até agosto, a série inédita foi fotografada em 2008 e mostra uma imersão pessoal e íntima do artista na cena noturna das travestis cariocas na Baixada Fluminense, no Rio.

“O processo de criação do ensaio envolveu muitas negociações para que eu pudesse entrar e fotografar naqueles locais. Nos sets, usava estratégia de guerrilha: ia, fotografava, dava um tempo para não saturar e voltava à carga”, lembra Pedro.

Na época, ele conta, foi aconselhado por um pintor carioca a não expor as imagens porque, supostamente, “o Rio não queria saber da Baixada, muito menos de travestis”. “Depois disso, vim morar em Sampa e achei que seria fácil expor as fotos aqui, afinal há tantas galerias e espaços expositivos. Mas só levei porta na cara”, relata. “Enquanto isso, conseguia expor os outros ensaios. Cheguei à conclusão que é essa a verdadeira face trans que o Brasil não quer ver.”

Para o fotógrafo, as imagens que cobrem as paredes dos três andares da Casa Fluida mostra garotas trans e travestis que “representam todas as suas colegas do Brasil afora: periféricas, pobres, negras e discriminadas, mas que são criativas, querem socializar, se divertir e achar seus pares”.

A exposição acompanha as meninas retratadas enquanto elas se arrumam nos camarins das boates, se apresentam no palco, dançam acompanhadas e convivem com homens no “banheirão”. “Tem uma certa dose de agressividade sim”, diz Pedro. “De um desejo descarnado e voraz, uma vontade imensa de viver e ser feliz, de fazer parte desta sociedade que vivemos. Apresento nas fotos uma outra beleza, uma outra estética, um outro modo de vida.”

Curador do espaço, Fernando Spaziani conta o que o atraiu em As Patricinhas de Beverly Hells: “Ao conhecer a trajetória de Pedro Stephan e sua importância para a fotografia brasileira, me fascinei pela provocação que a série representa. E devido à vocação da Casa Fluida em exibir acervos pouco convencionais, pude desfrutar de toda a sua série, generosamente compartilhada comigo, e juntos selecionamos as imagens agora trazidas ao público”.

A exposição apresenta personalidades que fazem da noite no subúrbio os seus espaços de socialização, diversão e empoderamento. As patricinhas das lentes de Stephan estão muito longe da estetização do corpo e do comportamento impostos pela zona sul carioca, mas acabam influenciadas por esta. Assim, questões como a sensualidade, o corpo, o universo queer, a transexualidade, o fetiche e o desejo jorram de forma espontânea nas imagens.

A intimidade dos camarins também está presente na mostra "As Patricinhas de Beverly Hells", de Pedro Stephan
A intimidade dos camarins também está presente na mostra “As Patricinhas de Beverly Hells”, de Pedro Stephan

Em todas as noites, nas boates voltadas para o público transgênero da baixada fluminense, eram realizados shows de drags acompanhados de perto e com grande ansiedade pelo público presente. Figuras importantes da noite eram convidadas para apresentações e para integrarem juris de concursos de beleza, também realizados no local.

Segundo Stephan, “esses espaços de socialização são algo de novo, porque o território que era reservado às travestis era a rua: deserta e de noite. Agora elas têm esse espaço e podem se divertir, fazer amizades e viver seus relacionamentos amorosos e sexuais”.

Serviço:

As Patricinhas de Beverly Hells

Até 5 de agosto

Na Casa Fluida, localizada na rua Bela Cintra, bairro Consolação, São Paulo.

Exposição, ateliê e loja funcionam terça e quarta-feira, das 14h às 18h (grátis, mediante agendamento); e quinta a sábado, das 18h às 0h30 (R$ 5,00)