O ator José de Abreu anunciou no início desta semana que entrou com três ações judiciais contra Cássia Kis após as declarações homofóbicas da atriz, em entrevista à jornalista Leda Nagle. No episódio, ela chegou a afirmar que casais LGBTI+ “querem destruir a família” e difundiu a fake news de que há um suposto plano para implementar a “ideologia de gênero” nas escolas.

“O que está por trás disso? Destruir a família, né? Destruir a vida humana? Porque até onde eu saiba, homem com homem não dá filho, mulher com mulher também não dá filho. Então, como a gente vai fazer?. Se você tem um casal gay, é uma coisa, agora quando eles querem adotar uma criança… mas e quando não tiver mais o desejo? Afinal de contas, isso ainda é gerado dentro do útero de uma mulher. Aí, você precisa de um óvulo e espermatozoide, sim”, acusou a atriz.

Abreu, que é pai de uma mulher transexual, revelou ao site da jornalista Heloisa Tolipan como a postura da colega o entristeceu. “Fiquei muito chocado, triste com o que a Cássia falou, porque tenho uma preocupação grande com a minha filha. Ela [a filha] mora na Califórnia, que é um local superaberto, mas, quando vem pra cá, fico bastante tenso porque o Brasil é o país que mais mata trans“, disse.

“Entramos com uma representação no Ministério Público Federal. Uma notícia-crime. A gente avisa ao Ministério Público da ocorrência do crime para ele apurar e, após investigação preliminar, propor uma ação penal em desfavor da Cássia em razão do crime de LGBTfobia. Além disso, na parte Cível propomos uma ação civil coletiva, pedindo uma indenização, cujo valor vai ser revertido à população LGBTQIA+. E, na Via Administrativa, ingressamos na Secretária de Justiça de São Paulo, com uma denúncia pelos mesmos fundamentos, por cometer LGBTfobia“, explicou Luanda Pires, que ao lado de Marina Ganzarolli e Pedro Martinez configuram como advogados da ação.

As ações foram movidas em conjunto com a psicóloga Paula Dalaio e instituições como a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) e o Grupo de Advogados Pela Diversidade Sexual e de Gênero.

“Já sabíamos que Cássia era bolsonarista e defendia pautas conservadoras, mas expor seu ódio negando a existência de nossas identidades de gênero ou mesmo negando direitos já conquistados como o casamento homoafetivo é incitar ódio contra todo uma população”, afirmou Symmy Larrat da ABGLT.

O ator de 76 anos não foi a única personalidade a denunciar a homofobia de Kis aos órgãos judiciais. Logo após a repercussão da entrevista a Leda Nagle, a filha da cantora Daniela Mercury e da jornalista Malu Verçosa, Márcia Verçosa de Sá Mercury, anunciou que entrou com uma ação no Ministério Público do Rio de Janeiro contra a atriz.

“Como filha de um casal de lésbicas, me sinto no dever, por minhas irmãs e por toda comunidade LGBTQIAP+ que é vítima violências cotidianas, de agir para que ela seja punida no rigor da lei. Minha família merece respeito, a população LGBTQIAP+ merece respeito”, disse em comunicado enviado à Híbrida.

A representação, que acusa a atriz de ferir coletivamente pessoas LGBTI+, foi assinada pelo advogado Pedro Martinez, do escritório Martinez Jorgetto Advocacia e ex-coordenador da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/SP.