Representante da Universidade de Franklin Pierce, em New Hampshire, Cece Telfer começou sua participação no atletismo feminino em 2019, após sua transição de gênero. Aos 21 anos, ela venceu, no último domingo (26), uma prova de 400m com barreiras na divisão II do campeonato universitário dos Estados Unidos, conquistando o ouro e, simultaneamente, causando uma onda de protestos da direita conservadora do país.

O motivo é que, até o ano passado, Cece disputava a modalidade entre a equipe masculina. E, mesmo que a NCAA (Associação Atlética Universitária Nacional, na sigla original), permita a presença de atletas transexuais, ela é a primeira velocista trans a disputar o esporte em torneios universitários.

De acordo com as normas da NCAA, a participação de atletas trans no torneio feminino é permitida desde que elas tenham completado pelo menos um ano de tratamento hormonal, atingindo assim o nível aceitável de testosterona para competir na modalidade. Todo o motivo de utraje contra Cece tem sido justificado pelo fato de ela ter abandonado a modalidade masculina em 2018, o que colocaria sua contagem hormonal em xeque.

Primeira velocista trans a levar o ouro em competições universitárias do EUA, Cece Telfer começou a jogar com equipes femininas em 2018 (Foto: Reprodução)
Primeira velocista trans a levar o ouro em competições universitárias do EUA, Cece Telfer começou a jogar com equipes femininas em 2018 (Foto: Reprodução)

Ainda em fevereiro, Cece foi nomeada como a Atleta Feminina de Maior Destaque entre o time da Franklin Pierce, o que motivou Donald Trump Jr., filho do presidente dos EUA, a esbravejar pelo Twitter: “Outra injustiça grave contra mulheres jovens que treinaram suas vidas inteiras para alcançarem a excelência. Identifique-se como quiser, mas isso vai longe demais e é injusto com muitos”, escreveu.

Através de seu site oficial, o departamento atlético da Franklin Pierce anunciou que Cece irá integrar a equipe da universidade para as competições nacionais, reservada aos melhores atletas. Ela participará de duas provas: os 200m rasos e os 60m com obstáculos.

Performance trans no esporte

Os protestos de americanos ultrajados com a presença de Cece Telfer no esporte universitário lembra o mesmo que tem acontecido no Brasil com Tifanny Abreu, a primeira jogadora trans de vôlei feminino no país. Oposta do Sesi Bauru, ela tem sido alvo de críticas desde a sua estreia nas quadras, com críticas que só aumentam a cada novo título que conquista.

Entretanto, há diferenças entre os casos de Tifanny e de Cece. A brasileira começou o tratamento hormonal em 2012 e, antes de vir ao Brasil jogar na Superliga feminina, passou anos na Europa disputando entre equipes masculinas, mesmo após ter iniciado a transição. Ela também tem o respaldo do Comitê Olímpico Internacional (COI), que estabelece um nível de testosterona permitido, o qual já foi comprovado pela jogadora.

Em entrevista à Híbrida, Tifanny já explicou a importância de provar a autenticidade dos seus exames e a legalidade da sua participação na equipe feminina: “Eu faço tudo direitinho para estar dentro da lei. Até porque, se eu passar do limite, sou pega no doping e tomo uma punição de dois anos”.

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Até hoje, o consenso internacional é que existem poucos estudos conclusivos sobre o desempenho de atletas trans e suas capacidades de performance. Mais ainda, nenhum estudo seria derradeiro para criar uma regral geral, já que cada esporte demanda um conjunto específico de habilidades que podem ou não sofrer alterações com tratamentos hormonais e a readequação de gênero.

Por enquanto, cabe a cada órgão criar sua própria regulamentação e se certificar de que as atletas estejam cumprindo os requisitos.