Após décadas de especulação, Richarlyson declarou ser bissexual nesta sexta-feira (24) e, com isso, se tornou o primeiro jogador de futebol a competir na série A e a integrar a Seleção do Brasil abertamente LGBTI+. A revelação foi feita durante entrevista à série de podcast Nos Armários dos Vestiários, do Globo Esporte, que vai abordar a homofobia, machismo e preconceito no esporte mais popular do País.

“A vida inteira me perguntaram se sou gay. Eu já me relacionei com homem e já me relacionei com mulher também. Só que aí eu falo hoje aqui e daqui a pouco estará estampada a notícia: ‘Richarlyson é bissexual’. E o meme já vem pronto. Dirão: ‘Nossa, mas jura? Eu nem imaginava'”, declarou o ex-jogador e, agora, comentarista do Grupo Globo.

Richarlyson já teve passagens pelo Atlético mineiro e pelo São Paulo e ajudou ambos os clubes a conquistarem títulos importantes. Apesar do bom desempenho em campo, a forma de falar e agir sempre foi motivo de críticas e ataques homofóbicos da torcida, de alguns colegas e de rivais, que criaram uma série de apelidos pejorativos para o atleta ao longo dos anos.

“Cara, eu sou normal, eu tenho vontades e desejos. Já namorei homem, já namorei mulher, mas e aí? Vai fazer o quê? Nada. Vai pintar uma manchete que o Richarlyson falou em um podcast que é bissexual. Legal. E aí vai chover de reportagens, e o mais importante, que é pauta, não vai mudar, que é a questão da homofobia. Infelizmente, o mundo não está preparado para ter essa discussão e lidar com naturalidade com isso”, disse Richarlyson.

Pelo tanto de pessoas que falam que é importante meu posicionamento, hoje eu resolvi falar: sou bissexual. Se era isso que faltava, ok. Pronto. Agora eu quero ver se realmente vai melhorar [a homofobia no futebol], porque é esse o meu questionamento

“Você me entende por que eu acho que é desnecessário às vezes você se rotular? Tem uma questão mais importante, tem gente morrendo, o Brasil é o país que mais mata homossexuais. E a gente está aqui falando de futebol, ok, mas o futebol é um negocinho pequeno”, disse o ex-jogador.

Richarlyson nasceu em uma família de jogadores de futebol. É filho do atacante Lela, campeao brasileiro com o Coritiba, e irmão de Alecsandro.

Atuou como meio-campista em diversos clubes brasileiros como Atlético-MG, Fortaleza, Vitoria e Grêmio, mas foi no São Paulo onde viveu o auge de carreira e conquistou três vezes o Campeonato Brasileiro e o Mundial de Clubes da FIFA. Foi graças às atuação com o São Paulo que foi convocado para a Seleção Brasileira em 2008.

Nos últimos anos, jogou em várias equipes de menor expressão, até de aposentar em 2021. Já no início de 2022, foi anunciado como um dos novos comentaristas esportivos do Grupo Globo.

“Ah, mas sua fala pode ajudar. Não, não vai ajudar. Quem é Richarlyson, pelo amor de Deus?! Sou um mero cidadão comum, que teve uma história bacana no futebol, mas eu não vou poder mover montanhas para que acabem esses crimes, para que acabe a homofobia no futebol”, continuou.

Hoje, aos 39 anos, Richarlyson finalmente se disse pronto para abordar o tema e promover a discussão sobre o preconceito no futebol brasileiro. Em 2007, o ex-jogador chegou a ser atacado pelo então dirigente do Palmeiras, José Cyrillo Júnior, o qual insinuou em rede nacional que ele seria gay.

Na época, o então jogador registrou uma queixa-crime conta Cyrillo Junior, que chegou a se desculpar pela decleração. O processo, entretanto, foi arquivado quando o juiz Manoel Maximiniano Junqueira Filho alegou que não seria razoável aceitar homossexuais no futebol brasileiro porque prejudicaria o pensamento da equipe e que o esporte seria “coisa de macho, não homossexual”.

“Eu não queria ser pautado por causa da minha sexualidade, de eu ser bissexual. Eu queria que as pessoas me vissem como espelho por tudo aquilo que conquistei dentro do meu trabalho. Eu nunca coloquei a minha sexualidade à frente do meu trabalho, e nunca faria isso. E eu não estou falando isso agora porque parei de jogar. Muita gente maldosa vai falar isso, que eu falei agora porque não jogo mais. Não. Eu nunca falei porque não era a minha prioridade, como não era hoje, mas hoje eu me senti à vontade de falar. Eu queria que não existisse essa pauta. Eu queria estar falando aqui da minha nova carreira (comentarista). Mas é importante. Vamos poder alertar um ali, outro aqui.”