O diretor executivo de uma das principais organizações LGBTI de Gana foi sequestrado e agredido por um grupo “anti-gay” no dia 20, que só o libertou após o pagamento de um resgate. O crime foi denunciado pela Rightify Ghana em uma série de publicações no último sábado, 27, e os membros da gangue ainda não foram localizados pela polícia local.

Em uma série de tweets, a organização revelou que seu diretor caiu em uma armadilha orquestrada pelo grupo na região de Ashanti, a aproximadamente 230 quilômetros da capital Acra. Ele teria saído por volta das 11h20 daquele dia para investigar um suposto caso de agressão contra uma pessoa LGBTI+, mas a ocorrência nunca existiu de verdade.

“Se você nos irritar, nós te matamos e te enterramos aqui e ninguém vai saber. Nós sabemos quem você é”, disse um dos homens para o diretor da ONG, enquanto apontava uma faca em sua direção. Ao longo do sequestro, os homens se gabavam de como tinham o “objetivo principal” de exterminar a comunidade LGBTI+ do país africano e praticavam “rituais” de sacrifício com homens gays em troca de dinheiro.

A organização afirmou depois que o diretor só foi liberado do sequestro quando uma quantia não revelada foi paga. Antes, os homens afirmaram que se o ativista tentasse avisar a comunidade sobre o grupo, “eles ainda assim conseguem prendê-los”.

Agora, a organização está trabalhando com o Serviço Policial de Gana para solucionar o caso. Se os integrantes da gangue forem encontrados e punidos, o exemplo poderia representar uma mudança significativa no combate a crimes LGBTfóbicos no país,  que é historicamente conhecido por prender e punir arbitrariamente membros da comunidade.

Ainda em 2021, um projeto chamado Lei de Promoção dos Direitos Humanos Sexuais Corretos e Valores da Família Ganesa 2021 [Promotion of Proper Human Sexual Rights and Ghanaian Family Values Bill 2021] foi introduzido na região, cujo principal objetivo é proibir e punir a simples existência de pessoas abertamente LGBTI+.

O texto também veta qualquer demonstração pública de afeto, ajuda médica à população trans, dentre outros. Como contamos aqui, até sexo anal e oral foram proibidos, independente da orientação sexual de quem os praticar.

De acordo com uma nova pesquisa feita com 44 entrevistados pela organização OutRight Action International, em parceria com a Rightify Gana, o projeto de lei ajudou a criar um ambiente ainda mais inseguro para a população LGBTI+ do país, levando a diversas violações praticadas pela lei e pelo público geral.

“Até agora, esse é o projeto de lei mais caso desse tipo. Gana já criminaliza relações homoafetivas consensuais graças a uma lei que data do colonialismo britânico”, alerta a Outright. Eles classificam o texto proposto como “draconiano” e ainda afirmam que sua mera proposição tem sido suficiente para provocar um “surto de violência e hostilidades contra minorias sexuais e de gênero.

Durante sua entrevista à pesquisa, Raymond, um jovem de 20 anos que trabalha como motorista e voluntário paramédico em Gana, disse: “Eles usam essa oportunidade para violar nossos direitos humanos básicos. Como sei, todos têm direitos e liberdades, mas por causa da legislação e do PL, pessoas estão abusando de nós e sendo violentas apenas porque somos queer”.

“Eles nos assediam online e pessoalmente. Há chantagens e golpes contra nós apenas por causa de nossa orientação sexual e identidade. Eles fazem de tudo: intimidação, abuso sexual, violência física, tudo. Tudo está acontecendo aqui em Gana”, contou ao relatório.

Ainda não há uma data definida para quando o projeto da Lei de Promoção dos Direitos Humanos Sexuais Corretos e Valores da Família Ganesa será submetido à votação do parlamento. Seus efeitos para a comunidade LGBTI+ caso seja aprovado, entretanto, já estão se provando catastróficos.