Uma nova proposta legislativa na Indonésia busca legalizar e tornar obrigatório o exorcismo como terapia de conversão em pessoas LGBTQ, ao mesmo tempo em que o mundo ocidental começa a dar sinais de que essa prática agressiva, ineficiente e invasiva não será mais tolerada. Na maior nação muçulmana do mundo, o exorcismo compulsório é uma história comum para gays, lésbicas e transexuais, onde uma mudança conservadora tem transformado a comunidade em um alvo mais evidente nos últimos anos.

Na Indonésia, a homossexualidade é legalizada em todos os lugares, menos na província conservadora de Achém, que segue estritas leis islâmicas. Ainda assim, a crença popular prega que ser gay ou trans é o resultado de uma pessoa que foi possuída por espíritos do mal – e, mais ainda, que eles podem ser “expulsos” com rituais religiosos e oração.

Agora, parlamentares islâmicos conservadores apresentaram um projeto de lei chamado “Resiliência da Família”. De acordo com a proposta, gays e trans seriam forçados a se submeter à “reabilitação” – termo genérico que pode incluir exorcismos e outras “terapias de conversão” – para eliminar o que seus defensores chamam de “desvio sexual”.

Embora agora seja uma nação de maioria muçulmana, as crenças tradicionais do Animismo e do Xamanismo tribais foram incorporadas à identidade cultural e religiosa em todo o arquipélago do Sudeste Asiático, que abriga mais de 260 milhões pessoas. Os exorcismos há muito são usados para tudo, desde combater doenças mentais até limpar vilarejos de supostas aparições.

Isso significa que a prática sendo imposta pelo parlamento poderá desempenhar um papel fundamental se a nova lei for aprovada, adverte Usman Hamid, diretor executivo da Anistia Internacional da Indonésia. “É a opção mais provável a ser tomada pelas autoridades da Indonésia quando alguém for mandado à ‘’reabilitação'”, acrescenta.

Andin (nome fictício), uma mulher trans indonésia, relatou à AFP ter sido submetida a torturas físicas e psicológicas pela própria família, por mais de 20 anos. O tratamento pelo qual ela passou incluía desde ser bombardeada com versos do Alcorão enquanto ficava trancada por dias a ficar submersa em água gelada para que a “doença do gênero” saísse.

Durante o suposto exorcismo, Andin foi levada a um guru religioso. Chegando no local, o homem lhe cobriu com um manto usado para embalar cadáveres e rezou sobre ela. Naquele momento, ele lhe deu duas opções: desistir da vida como mulher ou aceitar o inferno.

“Foi traumático, até hoje tenho essa memória terrível na minha mente”, afirmou Andin à AFP. “Nada mudou depois do exorcismo, sigo sendo LGBT, mas a minha família não desistiu tão fácil.”

Pesquisas realizadas nos últimos anos pela Indonésia indicam que a intolerância e o radicalismo estão aumentando, com um estudo de 2017 sugerindo que mais de 80% dos indonésios apoiam que o país adote uma legislação islâmica estrita. Na província de Aceh, relações entre pessoas do mesmo sexo podem resultar em açoites públicos sob a lei islâmica local e, em 2018, a polícia reuniu um grupo de mulheres transexuais e as humilhou publicamente cortando seus cabelos e forçando-as a vestir roupas masculinas.