O Irã executou brutalmente 10 prisioneiros da Prisão Rajai Shahr, no norte da cidade de Karaj, durante a última quarta-feira (29), um dia após a data em que o mundo celebrou Orgulho LGBTI+. Segundo a agência de notícias da Human Rights Activists (HRANA), dois dos homens executados foram mortos porque pertenciam à comunidade: Iman Safari-rad foi sentenciado sob a acusação de “sodomia”; e Mehdi Khalgoldi, acusado de “estupro”, uma denúncia comumente feita por oficiais iranianos que desejam executar livremente pessoas LGBTI+.

As “execuções secretas”, como classifica a HRANA, não foram confirmada pelo governo iraniano. Segunda a organização, 299 pessoas foram executadas ao longo do ano passado, das quais 81% das não teriam sido notificadas.

Ao jornal The Jerusalem Post, o ativista de direitos humanos Dr. Kazem Moussavi, atualmente exilado na Alemanha, afirmou que qualquer relacionamento entre pessoas do mesmo gênero é considerado “sodomia” no Irã e, portanto, digno de grave punição. Ele também disse acreditar que Safari-rad era gay.

“Mais uma vez, outro homem foi executado sob a acusação de sodomia, que ele pode ou não ter cometido, com ou sem consentimento. O que é certo é que este homem não recebeu um julgamento justo sob o notoriamente enviesado sistema jurídica iraniano. Comumente, reús são negados de receber acesso à advogados e testemunhas de defesa”, contou à publicação o ativista russo pelos direitos LGBTI+ Peter Tatchell.

Os castigos brutos dados às duas vítimas não são exceções no Irã. Por décadas, o país tem acusado livremente pessoas LGBTI+ de “sodomia”, o tipo de denúncia mais comum e menos investigada, conhecida por render um julgamento e condenação igualmente rápidos, alguns com duração de até 20 minutos.

De acordo com a lei iraniana, pessoas que praticam a sodomia podem ser punidas com chibatadas em praça pública, enforcamento, decapitação, apedrejamento, amputação e jogadas do alto de prédios.

Desde 2013, o Código Penal penaliza homens queer que colocam seus órgãos sexuais entre as coxas ou nádegas de outro homem com 100 chibatadas. Se a parte ativa for não-muçulmana e a passiva sim, a punição aumenta para a sentença de morte. Apenas um beijo pode fazer com que o casal sofra entre 31 a 74 açoitadas.

Em 2008, um documento vazado pelo WikiLeaks britânico e ligado ao braço diplomático do governo revelou que o Irã já havia executado de 4 a 6 mil gays e lésbicas desde a revolução islâmica de 1979.

Ainda em janeiro deste ano, dois homens iranianos, Mehrdad Karimpou e Farid Mohammadi, foram assassinados na prisão de Maragheh sob o mesmo crime de sodomia, de acordo com a Monitoria de Direitos Humanos do Irã.

Além de perseguidas oficialmente pelo governo, pessoas LGBTI+ no Irã também são ameaçadas de morte pela própria família, que considera uma “desonra” ter um familiar da comunidade. No ano passado, o jovem Alireza Fazeli-Monfared, de apenas 20 anos, foi decapitado pelo próprio irmão e por dois primos, quando estes descobriram que o rapaz era gay. Ele estava prestes a fugir do país para se encontrar com o namorado, refugiado na Turquia.