O grande fiasco da viagem de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, para além da subserviência à bandeira norte-americana em detrimento do povo brasileiro, tem trazido à tona alguns dos ideais mais nocivos que o presidente espalha contra LGBTs. Em entrevista veiculada pela Fox News na noite desta segunda-feira (18), ele tentou se desvencilhar do rótulo de homofóbico e machista, afirmando: “Não tenho nada contra homossexuais nem contra mulheres e não sou xenófobo, mas quero ter minha casa em ordem”.

Questionado por suas supostas ligações com a milícia do Rio de Janeiro, o vídeo esdrúxulo compartilhado durante o Carnaval e suas falas machistas, xenófobas e homofóbicas, Bolsonaro se defendeu com a mesma tática que usou durante sua campanha eleitoral: espalhando fake news e, simultaneamente, dizendo-se vítima das mesmas.

Apesar de ter afirmado que não era homofóbico, o presidente do Brasil engatou na mesma fala a velha história de conceitos cristãos que tem utilizado ao longo de sua carreira para desmerecer os direitos de famílias e cidadãos LGBTs.

“A definição de família para mim é uma só, aquela da Bíblia. Se você quer se envolver em uma relação homossexual, vá em frente. Mas não podemos permitir que o governo leve isso para a sala de aula e ensinar às crianças de cinco anos”, afirmou à jornalista Shannnon Bream.

Bom, e aí fica a questão que qualquer LGBT deveria se perguntar desde o início: como Bolsonaro pode afirmar que não é homofóbico, se uma família com casal homossexual não é vista por ele como real? Parece até redundante ter que explicar isso, mas como o próprio presidente faz questão de se contradizer em questão de segundos, às vezes precisamos apontar para o óbvio.

Ainda na terça-feira, Bolsonaro também fez um discurso ao lado de Donald Trump na Casa Branca, onde voltou a afirmar: “O Brasil e os EUA estão lado a lado em seus esforços para garantir a liberdade em respeito aos valores da família tradicional, ao nosso criador Deus, contra a ideologia de gênero ou as atitudes politicamente corretas e contra as fake news”.

Pronto, está ali de novo a inconsistência no discurso de um líder que, em teoria, deveria defender todos os cidadãos do seu país; um líder que vai à imprensa internacional e se diz a favor dos direitos LGBTs, mas que não reconhece as famílias formadas pelos mesmos; um líder que, inclusive, fez alianças durante a sua campanha com base nessa defesa de “um único ideal da família”.

Vale lembrar também que a tal ideologia de gênero, tão temida e combatida por Bolsonaro & Cia, já foi desmentida inúmeras vezes como algo que sequer exista, e isso pelo simples fato de que o gênero não pode ser uma ideologia.

Após as falas de Bolsonaro nos EUA, Sarah Kate Ellis, presidente e diretora executiva da GLAAD, uma das maiores ONGs de defesa dos direitos LGBTs no mundo, soltou um comunicado oficial: “Jair Bolsonaro é um tirano que tem permitido a violência contra pessoas LGBTQs, mesmo em casos de morte. Os americanos deveriam estar perturbados que o presidente dos EUA está se encontrando com ele e abrindo um perigoso precedente de normalização de um tirano anti-LGBTQ”.