Com o Estação NET Botafogo lotado, a estreia de “Berenice Procura” no Festival do Rio tinha motivos de sobra pra encher os corredores do cinema. A direção do thriller policial é assinada por Allan Fiterman, responsável por alguns hits recentes da Globo; a taxista e personagem principal da trama é vivida por Cláudia Abreu, uma atriz que coleciona papeis icônicos e o carinho do público por mais de duas décadas; no topo disso tudo, o filme também marca o primeiro papel de Valentina Sampaio, a trans cearense de apenas 22 anos que se tornou a modelo brasileira mais promissora no último ano. “Para mim é muito gratificante esse sucesso. Fico sempre muito orgulhosa e agradeço a deus pelo caminho que eu fiz e por onde estou chegando”, comemora no taete vermelho.
Não é para menos. Após trer sido descoberta no ano passado em uma campanha da L’Oréal Brasil para o Dia Internacional da Mulher, Valentina começou a fazer barulho no universo fashion. Em março, foi a primeira modelo transexual a aparecer na capa da Vogue Paris, feito que muita veterena ainda sonha em conseguir. Mais cinco meses e ela aparece como um dos rostos escolhidos para representarem a linha de maquiagem da Balmain em parceria com a L’Oréal Paris (na qual foi promovida ao posto de porta-voz), posando ao lado de nomes como Doutzen Kroes e Lara Stone. Hoje, depois de mais algumas capas, editoriais internacionais e uma passagem meteórica pela São Paulo Fashion Week, há quem aposte em Valentina para ser a primeira modelo transexual a integrar o casting da Victoria’s Secret.
“Até agora é um grande sonho, mas não tenho nada confirmado que eu possa falar. Se acontecer, será mais uma grande vitória”, diz a modelo, que hoje em dia trocou o interior do Ceará pela movimentada Nova York . “Tem sido uma experiência superincrível, estou aprendendo bastante como profissional. Morar lá é muito difícil, tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. A cidade é muito grande e tem muito a oferecer e, ao mesmo tempo, eu também tenho muito a aprender”, comenta, admitindo que os últimos 12 meses têm sido “um início de carreira muito gratificante”.
Mas sua estreia nos cinemas como Isabelle veio antes de tudo isso acontecer, quando Valentina ainda morava em Aquiraz, a 32 km de Fortaleza, e foi descoberta pela produção de “Berenice Procura” através do Instagram. Sua personagem, diga-se de passagem, é o elo que liga todos os núcleos do filme e suja morte ajuda a reconstituir a relação de Berenice com o filho Thiago (Caio Manhente), um adolescente que está se descobrindo gay e se vê cada vez mais afastado da mãe. “Ele é um personagem muito denso, posso dizer que foi realmente difícil e um desafio enorme. Trabalhar isso junto com a Claudia [Abreu] foi importante porque ela me ajudou muito a crescer como ator”, explica Caio, contando que também teve ajuda de Valentina para entender melhor a complexidade do papel: “Ela é incrível, com uma presença e uma energia fora do comum. Não sei nem como explicar”.
Para a modelo, o apoio que recebeu do elenco e do preparador Eduardo Milewicz também se mostraram essenciais na hora de entrar na cabeça de Isabelle. “São duas profissões parecidas, mas ser atriz é bem intenso. Você precisa se doar mais, entender a personagem e viver aquela realidade. O processo todo foi incrível e uma experiência muito boa não só como profissional, mas também como pessoa”, avalia Valentina, que além das aulas de atuação, também teve lições de canto para interpretar o papel criado por Luiz Alfredo Garcia Roza. Mas as semelhanças com sua personagem, ela garante, são mais profundas: “As duas acreditam em si e acreditam no amor”.
