Depois de cercear o carnaval carioca e ter veado peças, a Parada do Orgulho LGBT e exposições, Marcelo Crivella (PRB) decidiu na noite desta quinta-feira (5) sair de sua inanidade e censurar uma HQ da Marvel na XIX Bienal Internacional do Livro, que segue no Riocentro até domingo. Através de seu perfil oficial no Twitter, ele informou o recolhimento de “Vingadores – A Cruzada das Crianças”, sob o pretexto de defender crianças da ilustração de um beijo gay entre dois personagens, o que classificou como “conteúdo sexual”.
“A Prefeitura do Rio determinou que os organizadores da Bienal recolhessem esse livro, que já foi denunciado inclusive na internet e que traz conteúdo sexual para menores. Livros assim precisam estar embalados em plástico preto, lacrado e com um aviso do lado de fora sobre o conteúdo. Portanto, a prefeitura do Rio de Janeiro está protegendo os menores da nossa cidade”, afirmou.
Pessoal, precisamos proteger as nossas crianças. Por isso, determinamos que os organizadores da Bienal recolhessem os livros com conteúdos impróprios para menores. Não é correto que elas tenham acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades. pic.twitter.com/sFw82bqmOx
— Marcelo Crivella (@MCrivella) September 5, 2019
Publicada no Brasil em 2016 pela Editorial Salvat e a Panini Comics, “Vingadores – A cruzada das crianças” narra a juventude de alguns super-heróis da Marvel, entre eles Wiccano e Hulking, que vivem um romance nesse universo. A história foi criada originalmente em 2010 por Allan Heinberg e Jim Cheung.
A censura de conteúdos editoriais e artísticos com suposto teor sexual foi prática recorrente durante a Ditadura Militar (1964. – 1985), atingindo vários artistas e autores. Um dos episódios mais famosos desse período aconteceu com o disco “Índia” (1973), de Gal Costa, que trazia a cantora com os seios à mostra na capa.
Em nota enviada à Revista Híbrida, a organização da Bienal afirmou que o evento “dá voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser“. “Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. A direção do festival entende que, caso um visitante adquira uma obra que não o agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor”.
A HQ da Marvel começou a chamar atenção nas redes sociais após uma mãe ter comprado o livro para o filho e feito reclamações na internet. Nesta quarta, o título ainda foi alvo de críticas do vereador Alexandre Isqueiro (DEM), durante fala na Câmara Municipal do Rio. Em comunicado, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) confirmou a notificação do caso e afirmou que, em caso de descumprimento, o evento poderá ter sua licença cassada.
A produção do festival reforçou que, neste fim de semana, terá uma programação especialmente dedicados às literaturas trans e LGBTQA+. Dentre os autores convidados, estão Luísa Marilac, Amora Moira, Pepita, João Silvério Trevisan, Jaqueline Gomes de Jesus e Tobias Carvalho.
Desde que assumiu a Prefeitura do Rio, Marcelo Crivella tem feito de seu mandato um palco para impor a sua ideologia de bispo da Igreja Universal, com atenção especial à temática LGBTQ. Em 2017, ele cortou os fundos de apoio à Parada do Orgulho LGBTI e, no ano seguinte, censurou a exposição “Queermuseu” e a exibição da peça “O Evangelho segundo Jesus, Rainha dos Céus”, protagonizada por Renata Carvalho, na Mostra Corpos Visíveis.
Confira aqui a programação completa da XIX Bienal Internacional do Livro.