ANDRESSA ALVES: “FICO FELIZ EM AJUDAR OUTRAS PESSOAS A SE LIBERTAREM”
por LÍVIA MUNIZ
Imagina nascer no país do futebol, mas ao invés de uma bola, ganhar uma boneca? Essa é a premissa na vida de milhões de brasileiras lidando até hoje com a ideia de que o futebol ainda é “coisa de menino”. Por isso, quando criança, Andressa Alves viu apenas uma solução: transformar as cabeças das bonecas em bolas de futebol. Foi assim que a paixão pelo esporte começou para a atacante da Seleção Feminina, como o primeiro passo de um longo caminho que vai levá-la a disputar mais uma Copa do Mundo em julho deste ano, a terceira da sua carreira.
Aos 30 anos, Andressa viaja rumo à Austrália e Nova Zelândia – sedes do Mundial em 2023 – em um dos melhores momentos da carreira. Já são mais de 100 jogos vestindo a Amarelinha como profissional, e a terceira vez disputando uma Copa, mas a primeira sob o comando da técnica sueca Pia Sundhage, que assumiu a Seleção logo após a campanha de 2019. Por isso, a expectativa é enorme para trazer o sonhado título mundial.
“Vai ser uma das maiores Copas, em termos de visibilidade e de apoio. O Brasil chega muito forte, então a ansiedade está grande”, disse Andressa em entrevista exclusiva à Híbrida. “É difícil comparar o trabalho (dela) com o de outro treinador, mas posso dizer que um dos pontos positivos da Pia é que, individualmente, as jogadoras estão vivendo um ótimo momento e ela está podendo aproveitar isso. O Brasil chega mais forte e mais estruturado”, acrescentou.
Após quatro anos atuando pela Roma, Andressa Alves se despediu do clube ao final dessa temporada como uma das jogadoras mais vitoriosas que já passaram por lá. Com 12 gols, a atacante foi uma das artilheiras na conquista inédita do Campeonato Italiano, fechando a trinca de títulos depois de ter vencido a Copa da Itália e a Supercopa no ano anterior.
“Acho que encerrei meu ciclo com a Roma de uma forma fantástica. Entrei para a história do clube, sou uma das principais jogadoras que já atuou pela Roma e sei que meu nome vai ser sempre lembrado com muito carinho pelos torcedores e pelo clube”, avalia. Nesta quarta-feira (28), ela anunciou sua entrada para o Houston Dash, dos Estados Unidos.
Se desde pequena Andressa esteve acostumada a quebrar tabus de gênero, ela também precisou enfrentar barreiras por causa de sua sexualidade. A paulistana é casada com a ex-jogadora Fran, que foi medalha de prata com a Seleção nas Olimpíadas de Pequim.
Elas se conheceram em 2012, quando duelaram em equipes adversárias na Copa do Brasil, mas o receio de represálias e da perda de patrocinadores fez com que a relação só fosse revelada sete anos mais tarde. Hoje em dia, as duas fazem questão de falar sobre o casamento e de compartilhar o amor nas redes sociais, inspirando outras mulheres lésbicas a também se libertarem do medo.
“Eu me sinto muito feliz por ajudar outras meninas a se espelharem em mim e na minha esposa. Acho importante você ter uma figura no mundo esportivo que possa dar o exemplo. Então fico feliz em ajudar outras pessoas a se sentirem amadas, se libertarem e serem como quiserem. Serem sua melhor versão”, disse ela.
O DESEJO, tema desta nossa edição , vem para Andressa Alves em forma de sonhos, anseios, aspirações. A paulistana criada em Franco da Rocha prefere separar seus objetivos da vida profissional com os da pessoal, mesmo que, para uma atleta, muitas vivências acabem se complementando. Ainda assim, ela não esconde quais os objetivos que pretende realizar nos dois campos.
“Acho que o que eu mais desejo no mundo é vencer a Copa; isso no lado profissional. E no lado pessoal, é que eu e minha esposa possamos ser mães”, concluiu.
Que Andressa consiga realizar isso e muito mais.