No 11º e penúltimo episódio da primeira temporada de RuPaul’s Drag Race Brasil, as queens que integraram o elenco retornam, todas montadas, belíssimas (você não pode perder), para um quiprocó com a apresentadora Grag Queen no palco principal e a entrega do título de Miss Simpatia. Entre as principais controvérsias debatidas esteve a aliança entre as competidoras cariocas e uma fake news que tomou conta da edição antes mesmo de ela ter ido ao ar. As polêmicas que surgiram nas últimas semanas com o assédio online do público, porém, ficaram de fora. Confira abaixo o que achamos.

ATENÇÃO: SPOILERS ADIANTE!

A uma semana da grande final, Diva More, Tristan Soledade, Melusine Sparkle, Aquarela, Rubi Ocean, Dallas de Vil, Naza, Shannon Skarlett e o top 4 formado por Betina Polaroid, Hellena Malditta, Miranda Lebrão e Organzza se reuniram no palco principal, relembrando os grandes momentos da temporada, com retrospectivas para a trajetória de cada uma e, é claro, a lavação de roupa suja sobre os desentendimentos que figuraram na edição.

Uma das principais questões, sintetizada por Rubi, foi a existência de uma possível aliança, subliminar ou declarada, entre as garotas do Rio – algo também observado por nós, espectadores, especialmente à medida em que a competição se acirrava. As cariocas afirmaram que a aliança realmente existiu e Organzza tomou a frente para admitir que a união era sim declarada.

“Não foi uma coisa que a gente combinou e decidiu: ‘vamos fazer aqui uma aliança’. Mas sim uma questão de se conhecer e estar num lugar muito distante de casa, fora dos seus amigos, com pessoas que a gente não conhece, com pessoas que estão criando impressões da gente numa competição…”, declarou a queen.

Quanto a isso, Aquaria (vencedora do título Miss Simpatia, votado pelas próprias colegas) revelou não ter ficado acuada, porque já conhecia as adversárias e ficou feliz de vê-las no programa. Grag, como ex-participante de um reality show (a apresentadora venceu a primeira temporada do Queen of the Universe, que reuniu 14 drag queens cantoras de todo o globo), disse entender a relação entre as filhas, pela importância de se ter um lugar seguro e alguém de confiança durante uma competição.

Um diálogo maduro entre as participantes, que novamente demonstraram entender a dinâmica de um programa de disputa habituado a, eventualmente, colocar umas contra outras. Tal reação difere em muitos níveis da que foi manifestada pelo público durante as semanas de exibição da temporada. Falaremos um pouco mais sobre isso adiante.

Naza, Shannon Skarllet, Organzza, Hellena Malditta, Betina Polaroid e Miranda Lebrão [Foto: Paramount+/Divulgação]
Naza, Shannon Skarllet, Organzza, Hellena Malditta, Betina Polaroid e Miranda Lebrão [Foto: Paramount+/Divulgação]
Voltando ao que foi exibido: outro ponto importante da reunião foi o espaço dado a Diva More para desmentir, mais uma vez, as acusações que começaram a pipocar sobre um possível flerte ideológico da queen com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

“É algo muito sério e que eu lutei contra isso quando foi preciso e Diva More não é essa pessoa que está sendo taxada pela maior parte, infelizmente, da própria comunidade LGBTQIA”, afirmou.

A gaúcha aproveitou o momento de destaque para se queixar sobre o apoio – ou a falta dele – dado a algumas queens durante o lipsync, algo que já havia sido dito às câmeras por Melusine Sparkle bem no começo da temporada.

Shannon e Organzza, que se manifestaram a favor de Betina Polaroid durante a primeira dublagem, pediram desculpas a Diva, dizendo entender o lado da queen, mesmo que, naquele momento, estivessem apreensivas pela irmã carioca.

O perdão, no entanto, não foi estendido a Melusine pela maneira como ela decidiu refrasear a situação. Para Organzza, a intenção de vibrar por uma irmã durante o embate era de torcida, e não de diminuir o talento da oponente. “Não me coloque num lugar em que não estou”, disse.

Tal momento nos relembrou de um decisivo untucked na 10ª temporada regular dos Estados Unidos, quando The Vixen, tida como a antagonista da edição, rebateu Aquaria sobre a maneira como ela a colocava diante do público. “Você criou uma narrativa em que eu sou a negra raivosa e você é a garotinha branca inocente. Quando você diz que estou sendo negativa, mas na verdade só estou retrucando suas acusações, isso é lido como uma questão racial”, disse.

Não achamos que a intenção de Melusine tenha sido pintar um estereótipo para sua colega. No entanto, essa visão de Organzza como uma participante abrasiva e arrogante – características comumente atribuídas de forma pejorativa a pessoas negras que decidem falar o que pensam – parece ter sido abraçada por boa parte do público nas redes sociais.

Isso nos leva a uma certa decepção sentida nesse quiprocó, que foi a de não capturar todos os desdobramentos ocorridos aqui fora nas últimas semanas – uma decisão menos intencional e mais devida à logística de gravação, uma vez que a reunion foi filmada antes mesmo de a temporada ir ao ar.

Diva More, Tristan Soledade, Melusine Sparkle, Aquarela, Rubi Ocean e Dallas de Vil [Foto: Paramount+/Divulgação]
Diva More, Tristan Soledade, Melusine Sparkle, Aquarela, Rubi Ocean e Dallas de Vil [Foto: Paramount+/Divulgação]
Desde o último episódio, quando os ataques a determinadas queens se tornaram mais presentes e repreensíveis, chegando a uma cena vexatória em uma Watch Party do Rio, o clima de tensão foi para além do público, atingindo a própria harmonia entre as queens.

O fandom de Drag Race é tóxico, isso não é novidade. Para quem está habituado à franquia, já ocorreram diversas situações de ataques de fãs a determinadas participantes, com ofensas gratuitas e completamente desproporcionais ao entretenimento proposto e oferecido pela atração.

Ainda assim, quando a edição brasileira foi anunciada e, posteriormente, chegou ao ar, existia uma esperança de que aqui seria diferente. Foram anos e mais anos aguardando por uma versão para chamar de nossa, com muito anseio para descobrir e conhecer novos talentos drags que seriam divulgados ao redor do globo. O desejo era o de demonstrar como nosso elenco, talentoso e diverso em suas nuances, traduziria o espírito brasileiro em sua melhor essência, abraçando publicamente a comunidade LGBTQIA+.

É uma pena, portanto, que o resultado tenha saído tão distante do esperado, com o público indo atrás das competidoras para destilar seu veneno e as próprias participantes alimentando esse desgaste publicamente. Mesmo que elas tenham mantido o decoro na última segunda-feira (13), quando participaram do De Frente Com Blogueirinha, as discussões e acusações trocadas aqui fora estão longe de passar o sentido de comunidade que se espera do programa, pelo menos enquanto ele ainda está sendo trasmitido.

É difícil dizer se é possível que daqui em diante aprendamos com o nossos próprios erros. A final está próxima e os ânimos seguem à flor da pele. Drag Race virou, literalmente, uma analogia LGBTQIA+ ao futebol – uma cultura tão criticada pela comunidade por seu comportamento aversivo a minorias. Porém, fica ao menos a torcida para que as participantes continuem conseguindo mostrar seu talento, atingindo patamares até então inimagináveis.

Em entrevista ao canal de DesiRée Beck, ex-Caravana das Drags, Shannon revelou já ter feito quase o valor do prêmio principal de Drag Race Brasil através de ações e eventos. Enquanto o público não aprende a ser mais humano, esperamos a mesma quantia bancária para todas as participantes, que merecem fazer muito sucesso aqui fora a despeito de qualquer hater.

Até lá! Axé!


RuPaul’s Drag Race Brasil está disponível para streaming no catálogo do Paramount+. No restante da América Latina, a exibição está por conta da WoW Presents Plus. Na televisão, a transmissão está por conta da MTV Brasil, todas as quartas-feiras, às 21h.