Chavela Vargas nasceu no dia 17 de Abril de 1919, na Costa Rica. Desde pequena, não se conformava com as expectativas binárias sobre gênero em seu país. Atraída às formas mais masculinas de se vestir, ela enfrentou, já na infância, conflitos com a família, que era fortemente contra sua expressão e chegava a escondê-la quando recebia visitas. Aos 17 anos, então, ela mudou-se para o México, em busca de uma carreira como cantora.
Diferentemente de várias outras histórias de pessoas que alcançaram a fama no começo, seu sucesso não veio de primeira. Cantando na rua, Vargas vestia roupas masculinas que amava e foi apenas aos 30 anos que ganhou um pouco de notoriedade na área.
A música ranchera era entendida como um gênero onde homens mexicanos podiam liberar as emoções que normalmente tinham vergonha de expressar. Chavela, com um estilo próprio de se vestir e cantar, adentrou essa cena. Ela ia para o palco com uma arma, um xale vermelho e um violão, performando músicas de amor escritas de homens para mulheres e se recusava a mudar os pronomes das letras.
Seu primeiro álbum foi lançado com o apoio do cantor José Alfredo Jiménez, que acabaria se tornando seu amigo ao longo dos anos. Com o passar do tempo, ela lançou outras músicas e recebeu diversos elogios por seu trabalho, o que fez com que conhecesse diversas celebridades e figuras famosas do México.
Uma conexão notável que teve foi com Frida Kahlo, outra mulher queer com quem Vargas viveu um relacionamento. Mas ela não era uma pessoa que gostava de se fixar num romance só, e acabou experienciando vários outros encontros ao longo da vida, incluindo, ao que tudo alega, um flerte com a atriz hollywoodiana Ava Gardner.
Apesar de ser elogiada por sua arte, o alcoolismo foi afastando-a dos palcos. Nos anos 1970, Vargas foi, aos poucos, desaparecendo do olhar do público, e precisou da ajuda de pessoas que não participavam da sua vida ou sequer sabiam de sua fama.
Boa parte dos créditos de sua recuperação pertencem à Dra. Alicia Elena Pérez Duarte y Noroña, parceira romântica de Vargas durante esse período ao qual ela se refere como “meus quinze anos no inferno”. O relacionamento, no entanto, não foi saudável, já que Noroña percebeu com o tempo que “Vargas não precisava de álcool para ser violenta”. A cantora guardou rancor e negou publicamente qualquer ajuda que tenha recebido por parte de sua ex-parceira.
Em 1991, Vargas conseguiu retornar à ribalta. Um ano depois, foi redescoberta por Pedro Almodóvar, participando na trilha de filmes como Kika, A Flor de Meu Segredo, Carne Trêmula, Julieta e o mais recente Dor e Glória. Aos 81 anos, ela se assumiu publicamente como lésbica no livro autobiográfico “Y si quieres saber de mi passado”. Embora nunca tenha negado seus envolvimentos com diversas mulheres no passado, o ato de se declarar abertamente pareceu reconfortá-la.
Vargas faleceu em 2012, aos 93 anos. Ao longo de sua carreira, ela derramou todas as emoções no palco, e parecia ter problemas em manter relacionamentos de longo prazo, fossem eles românticos ou platônicos. No fim das contas, seu envolvimento mais longo sempre foi consigo mesma.
Este texto foi adaptado do original de Laura Darling e faz parte do projeto Making Queer History, cuja existência só é possível graças a doações. Se tiver interesse, você pode fazer uma doação única no Paypal ou tornar-se um Patrono.