Revista Híbrida
Música

As 50 melhores músicas de artistas LGBT+ em 2023

As 50 melhores músicas LGBT+ lançadas em 2923

A nossa lista anual com as 50 melhores músicas de artistas LGBTQIA+ está finalmente no ar, com os principais lançamentos dos últimos doze meses comentados e elencados. São 25 músicas nacionais e outras 25 internacionais – nesta última seleção expandimos um pouco os critérios para incluir também aquelas divas que, apesar de não serem oficialmente da comunidade, têm carteirinha honorária por serem aliadas políticas e culturais.

Além da lista deste ano, vale visitar também a coluna Playlist, tocada pelo Fabiano Moreira, que mensalmente exerce a árdua tarefa de ouvir e compilar os melhores lançamentos. E, falando em playlist, montamos acima uma com todas as 50 músicas, pra você não deixar nenhuma passar batida.

Abaixo, deixamos também as listas de melhores músicas e álbuns dos anos anteriores. E, caso você sinta falta de algum artista ou lançamento, não deixe de contar pra gente nos comentários.

Confira a retrospectiva completa da Híbrida com as pessoas, momentos, filmes, séries, músicas, beijos e entrevistas LGBTQIA+ que marcaram 2023
Confira a retrospectiva completa da Híbrida com as pessoas, momentos, filmes, séries, músicas, beijos e entrevistas LGBTQIA+ que marcaram 2023

Melhores músicas nacionais de artistas LGBTQIA+ em 2023:

Eu adoro o pernambucano Jáder, que decretei como a nova suprema do forró. Ele lançou, com a artista gay e paraense Aíla, o piseiro “Me Beija”, que ganhou clipaço dirigido por Roberta Carvalho no parque de diversão icônico e retrô da cidade de Belém, o ITA, montado apenas na época do tradicional Círio de Nazaré. Veja a crítica original aqui. (Por Fabiano Moreira)

Se tem dois artistas queer jovens que eu admiro e sempre dou espaço na coluna são Gabeu, o filho de Solimões indicado ao Grammy Latino; e Dornelles, divo funkeiro carioca que e vem aparecendo sempre que lança algo, pois a bicha é babado. Foi a gente quem pediu e veio o feat, o maravilhoso “Colo da Tropa”. “Ah, eu sei que dói, viver galopando na fivela do cowboy”, diz a letra da música, ahahahaha, que ganhou clipe com motos envenenadas, figurinos country fetichistas, dedo no c* e gritaria. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

Artista italiano que escolheu o Brasil como casa, o professor de língua italiana, linguística e tradução na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Sergio Romanelli, 53 anos, e também cantor e compositor Rohma, lançou clipe para “Eu só queria aprender a amar”, com direção de Bruno Ropelato e imagens acrobáticas do atleta Henry Delmondes gravadas na Gym-X, em Florianópolis (SC), onde vive. A faixa faz parte do álbum @rroboboy, produzido pelos craques Jonas Sá e Thiago Nassif. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

Alice Caymmi resgatou suas raízes baianas e uniu forças com Josyara, de Juazeiro, para retrabalharem uma versão etérea e envolvente de“Caravana”, composição de Alceu Valença e Geraldo Azevedo. Em perfeita harmonia, as duas conseguem dar nova roupagem a um clássico de presença cativa no repertório d’O Grande Encontro. (Por João Ker)

A drag queen Aretuza Lovi decidiu antecipar uma das faixas da segunda parte do disco Borogodó com o single “Me Humilhou”, inspirado na BZRP Music Sessions #53, da Shakira, e também contando história de chifre e decepção amorosa. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

Há exatamente um ano, falei aqui da artista conhecida como GA31, que fez fama na internet com uma voz sintetizada, tipo de ajudante virtual, como a Siri, sobre bases eletrônicas que são o fervo clubber. Planeta GA31 é o seu sexto álbum, coroando nove anos de sucesso e profícua produção musical, sempre sem mostrar o rosto, com temas relacionados ao universo LGBTQIA+ e boa música. Planeta GA31 tem participação da drag Frimes, que a gente AMA, em “Pleasure”, além de usar e abusar da Inteligência Artificial (IA) na criação dos visuais, da capa aos clipes. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

Sereia travesti, Viridiana lançou este ano o single “Pérolas de Plástico”, no qual explora as influências da house music e da música disco, criando, na letra, uma narrativa de empoderamento trans. O clipe é belíssimo e foi dirigido por Theo Tajes e Luisa Casagranda. Leia aqui a crítica completa e aqui a nossa entrevista com a artista. (Por Fabiano Moreira)

Com a língua afiada e uma batida eletrônica de deep house, Urias cospe versos sobre o poder de sua pussy e do seu intelecto em “Cuntelectual”, que funcionaria tanto numa batalha de voguing como numa pista de dança. A música foi escrita pela própria artista com ajuda de Davi Sabbag, Number Teddie e o trio da Brabo Music, Rodrigo Gorky, Zebu e Maffalda, esta última responsável também pela produção. A referência a “A Porrada Vai Comer” (Mc Magrinho e Mc Bin Laden) é a cerejinha de funk do bolo. (Por João Ker)

Lançada em comemoração aos seus 20 anos de carreira, “Me Leve” é uma canção intimista, confessional e reflexiva em homenagem às escolhas certas e erradas da vida e o que elas trazem para o bem e para o mal. É uma declaração nostálgica de amor incondicional que Johnny Hooker faz a tudo o que passou e o que ainda vem pela frente, seja o que for. (Por João Ker)

Pra mudar de rumo é preciso ter muito conhecimento, adquirido por anos de estrada, como mostra o cearense Daniel Peixoto em Tropiqueer, seu terceiro álbum como artista solo. Tropiqueer é seu alter ego para contar e cantar aventuras e desventuras afetivas, o marinheiro inspirado nas entidades “Marujos” da Umbanda. O álbum começa e termina com orações aos orixás. “De presente” ganhou clipe filmado em Canoa Quebrada, no Ceará. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

Este foi mais um ano em que Anitta produziu exaustivamente em sua jornada pela aclamação global e a escalada nos charts internacionais. Parecia que a cada mês a cantora tinha uma nova grande aposta da vez, que a seu ver iria abalar as estruturas com números estratosféricos e conquistar o público. Anunciado há anos, o projeto focado em funk finalmente veio, mas, dois meses depois de Funk Generation, a artista já começou a anunciar “Mil Veces” como uma de suas músicas favoritas. Menos de dois meses de novo e ela estava focada em divulgar “Joga Pra Lua”, parceria com Pedro Sampaio e Dennis; “BELLAKEO”, com Peso Pluma; e “Back For More”, com os k-popers do TOMORROW X TOGETHER. Atirando pra todos os lados (algo que tem feito há anos, diga-se de passagem), Anitta acaba deixando o próprio público confuso e com a impressão de que nem ela mesma se importa tanto com o que está publicando, já que tem sempre uma nova aposta à espreita. No meio de tanta confusão, alguns momentos bons acabaram ofuscados, como “Used To Be”, uma letra divertida e com a mistura de funk e pop presente em algumas de suas melhores investidas internacionais. (Por João Ker)

Poucas drag queens no Brasil têm o mesmo talento que Lia Clark para o funk proibidão e,
em LIA CLARK – THE ALBUM, ela reafirma repetidamente a sua facilidade para falar os maiores absurdos enquanto faz o público rebolar. “Pentada++”, entretanto, ganha o reforço bélico de Valesca Popozuda e Tati Quebra Barraco para um hino em homenagem à safadeza das 30+ e 40+, com uma citação divina desta última ao clássico atemporal “Boladona”. (Por João Ker)

Em mais um pop quase rock e amigável, Jão canta sobre seu tema preferido: a vontade de reatar um relacionamento incendiário que nunca deveria ter acabado. “Amor próprio é bom, mas o seu é mais”, ele canta antes do refrão de “Me Lambe”. Com corais de fundo, versos divertidos e um videoclipe divertido (que se assemelha um pouco demais a “Eu te Proíbo de Ter Esse Poder Sobre Mim”, de Bemti), o cantor soa mais confortável e leve que nos trabalhos anteriores, entregando um dos destaque de SUPER. (Por João Ker)

A mudança da carioca Mahmundi para São Paulo transparece em vários momentos de seu quarto disco, Amor Fathi, como em “Fugitivos”, na qual ela admite estar perdida na selva de pedra e suas ondas de avenida. Mas a artista ainda tem inevitavelmente o pezinho na areia, que surge por exemplo em “Noites Tropicais, uma mistura de todo o romantismo, malemolência e maresia pelos quais ela ficou conhecida. (Por João Ker)

À primeira ouvida, Number Teddie até lembra a sonoridade que Jão seguia no início de carreira. Mas fora a forma lamuriosa que o jovem de Manaus escolhe cantar ocasionalmente e os hábitos autodestrutivos de algumas letras, suas composições são mais debochadas e a produção, em grande parte assinada pelo pessoal da Brabo Music, investe de forma mais destemida no rock. “cala boca, por favor” é uma ótima adição a PODERIA SER (bem) PIOR, versão deluxe do seu elogiado disco de estreia (2022), com versos divertidos sobre o pinto não subir por remédios demais ou o próprio pedido do refrão, que dá nome à música. (Por João Ker)

Em algum momento entre a polêmica dos campos de morango e a superexposição do seu término com Chico Moedas, Luísa Sonza conseguiu ter o maior début do Spotify brasileiro e chamar atenção apenas pela sua música. Nesse curto espaço de tempo que parece ter sido há muito mais tempo do que foi, pudemos nos deliciar com os muitos momentos bons de Escândalo Íntimo: a reimaginação de Rita Lee (especialmente do trecho de “chata pacas”), o sample de Vanessa da Mata, as parcerias acertadas com Duda Beat, Marina Sena e Demi Lovato cantando em português que “saudade não tem tradução”. Até a bossa nova de “Chico” tinha conquistado boa parte do público antes do trauma generalizado de toda a história que se desenrolou depois. Independentemente de tudo o que rodeou o lançamento, “A Dona Aranha” ainda se sustenta como uma canção pop, leve e safada sem remorsos, ingredientes para alguns dos maiores e melhores sucessos de Luísa. (Por João Ker)

Uma das muitas coisas sobre Ludmilla que seus projetos no pagode deixaram claro é o talento da artista para cantar dor de cotovelo. Tanto o Numanice quanto as Lud Sessions têm arranjos em que ela deita e rola nos improvisos vocais, algo que ela resgata com tons mais fortes de R&B em “Brigas Demais”. A parceria com Delacruz e Gaab é um dos pontos altos do disco Vilã, feito principalmente de momentos mais agressivos e sexuais que esse. (Por João Ker)

Dizer que FUTURO FLUXO não foi uma unanimidade de público seria um eufemismo. O terceiro disco de inéditas de Gloria Groove tem picos e vales, alguns mais fundos que outros (“BRUXARIA 3000”), mas quando sai dos refrões genéricos e das batidas com letras repetitivas de funk (ainda mais para o catálogo da artista), consegue se sair bem. É o caso de “AO SOM DO TUIM”, “BEAT MEGATRÔNICO”, “BARULHADA” e, principalmente, “AQUECIMENTO SILVETTY”, que eleva o conceito de funk eletrônico do projeto e ainda acena a uma das tradições mais antigas da club music queer: samplear as gongadas de uma drag queen, no caso da icônica Silvetty Montilla, presença fixa na noite e nos palcos de humor do Brasil em uma homenagem há muito merecida. (Por João Ker)

Desde que fritou metade do Brasil com “Rajadão” (que elegemos a melhor música de 2020), Pabllo Vittar ficou devendo um projeto inteiro de sonoridade eletrônica. Noitada é o mais próximo que chegamos disso até agora. Ainda que misture piseiros, forrós e funks aqui e ali, é quando honra a declaração da abertura de que “pertence à noite” que a artista realmente nos pega desprevenidos, como as parcerias com Anitta em “Balinha de Coração” e “Calma Amiga”, interlude com dedos do DJ RaMeMes na produção. Nesse sentido, é “After” que traz a maior surpresa do disco: uma ode à noite com menos de dois minutos em que tudo o que Pabllo quer é continuar dançando, mesmo que a festa tenha acabado. (Por João Ker)

Em seu terceiro disco de inéditas como Letrux, Letícia Novaes parte do pressuposto que nossos instintos, trejeitos e comportamentos não são assim tão diferentes dos animais “irracionais”. Com a paciência de uma aranha, ela vai tecendo um mapa astrológico de bichos composto por amores dilacerantes, reflexões introspectivas, hienas noiadas famintas e todos os habitantes do seu bioma emocional particular. Em “Zebra”, ela e Lulu Santos caem numa noite de dança efusiva e sedutora guiada pelos sintetizadores 80s servidos por Arthur Braganti e João Brasil. Em um deleite sonoro, Lulu declama no refrão, em tom de quase ASMR, versos como “Eu nunca quis ser só seu boy-zinho / Não acredito que nunca mais um ro-le-zi-nho”. (Por João Ker)

Difícil decidir qual a melhor música do maravilhoso terceiro álbum de estúdio de Ana Frango Elétrico, Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua: se a romântica e sofisticada “Insista em Mim” ou o boogie apaixonante de “Electric Fish”. De qualquer forma, uma coisa é certa: a carioca provou porque é uma das artistas mais interessantes da música brasileira na atualidade. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

Sob a alcunha de DJ ANJO, Davi Sabbag pega emprestada a cena underground e mundialmente reverenciada da noite eletrônica de São Paulo para misturar letras em inglês e português sobre batidas progressivamente aceleradas. [(entre)mixtape] costura com cuidado nove músicas em 17 minutos, que atingem seu ápice de megalomania criativa em “¿mentira?”, uma fritação do tech house ao trance com um saxofone que seria perfeito para uma crise psicótica de Carrie Mathison em Homeland. A mixtape é um projeto entre discos e, pelo que o artista adiantou, seu próximo LP deve acertadamente seguir uma sonoridade parecida. (Por João Ker)

Com a voz afiada, o eco do microfone ampliado, uma bateria suja e uma guitarra psicodélica, Filipe Catto saiu vitoriosa na corrida pelo título de melhor tributo a Gal Costa. Da curadoria minuciosa, mesclando favoritas do público a outras seleções inusitadas, a artista gaúcha fez em Belezas São Coisas Acesas Por Dentro uma homenagem à altura das acrobacias vocais, teatralidade, paixão e impetuosidade de Maria da Graça, para muitos a maior cantora do Brasil. Se Silva e Omar Salomão catalisaram o romance de Gal no verso “Ninguém diz ‘eu te amo’ como eu” (“Palavras no Corpo”), é Catto quem traduz pras novas gerações o espírito rebelde de uma cantora que nunca se encaixou em gêneros ou se conformou com a própria arte. Quando ela escorrega pelas paredes de um dos banheiros mais insalubres e visitados de São Paulo no vídeo de “Nada Mais”, é como se desse nova vida ao verso “Dessa vez doeu demais”, apresentando-os à próxima geração e provando que o legado de Gal Costa continuará atemporal como ela própria sempre quis – e conseguiu. (Por João Ker)

Nenhuma estranha à vida noturna, Clarice Falcão já tinha investido nesse cenário como pano de fundo para seu álbum anterior, Tem Conserto. Mas em Truque, seu quarto disco de inéditas e o primeiro no formato visual, ela expande o conceito e traz de volta todas as personalidades e estéticas sonoras dos seus trabalhos prévios. Com letras autodepreciativas e tiradas bem humoradas, a artista fala sobre encontrar mares de ziplocks no chão de um banheiro químico, se montar inteira apenas para levar um truque e “Chorar na Boate”, um sentimento universal para todos que já se emocionaram para o bem ou para o mal em alguma balada. Leia a entrevista com ela aqui. (Por João Ker)

Depois do que pareceu um longo hiato em sua carreira solo, Jaloo voltou à cena com MAU, um disco inteiramente composto, produzido e cantado pela artista, que finalmente cumpre a profecia prometida desde que Jaloo estourou no cenário nacional como uma das artistas mais completas, interessantes e singulares de sua geração. A faixa-título, segundo a própria contou à Híbrida (nessa entrevista aqui), é a música em que ela se permitiu ser mais atrevida e ousada, enquanto assume o papel de vilã em reflexões sobre sexo e superego. “Phonk-me”, por exemplo, é outro ponto alto que não estaria deslocado em uma seleção com o créme de la créme do eurodance Summer Eletrohits, no melhor dos sentidos. Mas com toda a paleta de cores e sons usada para construir MAU, é “Quero te ver gozar” a responsável por melhor ilustrar o toque de Midas que Jaloo tem para criar músicas essencialmente pops e verdadeiramente brasileiras, com mensagens e sentidos nem tão subliminares assim. (Por João Ker)


Melhores músicas internacionais por artistas LGBTQIA+ de 2023

Mykki Blanco lançou em setembro o EP Postcards from Italia, produzido novamente em colaboração com o músico e produtor eletrônico FaltyDL, mostrando uma nova faceta sua nessa “era de cowboy italiano”, com camadas adicionais de música de dança Euro dos anos 90 e acid house. O EP começa com Magic on my back”, um blues bop sexy repleto de riffs cativantes. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

Yves Tumor faz rock psicodélico, mas não aquele do tempo do seu tio avô. Sua performance transgressiva junto à voz atípica o tornaram uma figura mítica e “Heaven Surrounds Us Like a Hood”, um dos grandes singles do incrível Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds), é exemplo claro de seu êxito como artista – embora use influências do passado, sempre se mantem à frente de seu tempo. (Por Maria eugênia Gonçalves)

Mulher trans alemã radicada nos Estados Unidos e vencedora do Grammy, Kim Petras lançou o seu aguardado álbum de estreia, Feed the beast. São 15 faixas de pura perfeição pop, em trabalho fortemente inspirado nos sucessos eufóricos do estilo eurodance que marcaram sua adolescência. A faixa-foco do lançamento foi “King of Hearts”, canção pop confessional na qual se culpa por ter ignorado os sinais de alerta duma traição amorosa. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

“Contact” talvez seja a música mais instantânea do ano: é impossível ficar inerte à sua atmosfera ao longo de seus 4 minutos de duração. Não é só para ouvir, mas também sentir a pista de dança invocada por Kelela, que faz alusão ao UK Garage dos anos 90, mas ainda soando atual e futurista. Irresistível. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

“Já-já-jacaré, jacaré, já-jacaré / Já-já-jacaré quero ir contigo dançar”, canta a sensual e gos-to-sa vocalista do Sofi Tukker, Sophie Hawley-Weld, em “Jacaré”, enquanto executa uma coreografia imitando a mordida do réptil que lembra até o axé “É o bicho”, de Ricardo Chaves, que alegrava os carnavais de 1996. É essa energia de pegação, prazer, lascívia e dedo no olho, literalmente (paro aqui para evitar o spoiler), que o clipe evoca com sua homenagem à beleza do Brasil e à comunidade LGBTQIA+, com letra de Sophie e do poeta Chacal. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

Desire, I Want to Turn Into You, segundo disco solo de Caroline Polachek, é provavelmente o álbum pop do ano. Uma de suas grandes inspirações, evidentemente, foi Sophie, que faleceu em 2021 após um acidente. “I Believe”, composto pela própria Polachek em parceria com Danny L Harle e Ariel Rechtshaid, é uma linda homenagem a ela, tornando o legado da multiartista imortal, exatamente da maneira como ela merece. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

“Kandy” é a melhor música do The Knife lançada em 2023. A afirmação pode, num primeiro instante, parecer estranha: a canção, afinal, não está catalogada diretamente como uma música do duo. Porém, basta um olhar nos créditos para ver que ela foi, afinal, criada por seus integrantes: a produção é assinada por Olof Dreijer e a interpretação é de Fever Ray (nome artístico de Karin Dreijer). “All girls want Kandy” e o retorno do duo sueco que produz música eletrônica e sombria como ninguém. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

Às vezes, a continuação pode ser capaz de superar o original, como é o caso “Boy’s a Liar, Pt. 2”, um dos grandes hits do ano no TikTok. O encontro entre a vulnerabilidade vocal de PinkPantheress com a rispidez de Ice Spice produziu alguns dos versos mais memoráveis de 2023 – da maneira como a primeira pronuncia “liar” até o instrumental influenciado pelo bubblegum pop dos anos 2000. Quem ouviu, não conseguiu mais esquecer. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

Com apenas 23 anos, a britânica Arlo Parks já foi coroada como uma das vozes mais importantes da sua geração. Com uma vulnerabilidade inspirada nas letras confessionais de SZA, como nos contou em entrevista exclusiva, a jovem investiu em uma sonoridade mais eletrônica em My soft Machine, seu segundo disco, o que resultou em “Blades”, canção de amor feita para se declarar na pista de dança. (Por João Ker)

Desde que venceu a primeira edição do American Idol e alcançou o sucesso mundial com “Since U Been Gone”, Kelly Clarkson ficou conhecida por sua enorme potência vocal, principalmente demonstrada nas músicas de término que se tornaram sua marca registrada. Carregando a mesma tocha de Alanis Morissette na década anterior, ela se firmou nesse lugar com um lançamento depois do outro: seu terceiro disco, My December (considerado pelos fãs o mais autoral e melhor de sua carreira), desdobrava esse conceito em 14 música; seu último #1, “Stronger (What Doesn’t Kill You)”, dobrou a aposta na menina do Texas como uma vocalista que sintoniza como poucas a força de um coração partido.

Nos últimos anos, Kelly tem se aventurado pelos papéis de apresentadora matinal, treinadora vocal de reality show, cantora de gospel, country, soul e pops genéricos, até que veio “mine”, sua primeira música após o divórcio do empresário Brandon Blackstock, com quem ficou casada por oito anos e teve dois filhos. De repente, o carro-chefe do disco chemistry, descrito como um passeio “por todas as fases de um relacionamento”, lembrou o público de que ela pode ter sido mil e uma coisas no passado, mas seu melhor ainda está em uma balada inspirada, poderosa e amargurada sobre o fim de um relacionamento. (Por João Ker)

Faz mais de dez anos desde o último lançamento do Gossip, o que torna “Crazy Again” como um antecipadíssimo “bem-vindos de volta” por parte dos fãs. Com Rick Rubin na produção, o grupo volta com menos loucura e fogo nos olhos em “Crazy Again”, liderada por uma Beth Ditto mais suave, reflexiva e sem os desesperos de ira e frustração mostrados em sucessos anteriores como “Heavy Cross” e “Standing In The Way Of Control”. Ainda assim, o retorno ainda é empolgante e preenche uma lacuna no cenário do rock deixada desde que eles encerraram suas atividades. (Por João Ker)

A primeira vez que Lady Gaga se uniu aos Rolling Stones foi como convidada especial para uma apresentação épica de “Gimme Shelter”, em 2012. Mais de uma década depois, ela e os gigantes do rock unem forças novamente para um hino gospel pela paz mundial de proporções apoteóticas, com Stevie Wonder no piano e a produção afiada de Andrew Watt. “Sweet Sounds of Heaven” mostra que, 15 anos depois de sua estreia, a artista ainda tem combustível criativo para nos surpreender, usando a voz de uma maneira até então inédita; para o grupo, este é mais um clássico instantâneo para um catálogo já recheado. A versão completa, com mais de 7 minutos, vale a pena cada segundo e, quando você acha que não tem como melhorar, Gaga e Mick Jagger se enfrentam em uma batalha epopeica de riffs vocais improvisados e harmonizados. Simplesmente divino. (Por João Ker)

Jessie Ware teve mais um ano excelente com o lançamento do álbum That! Feels Good!, irmão não tão distante do antecessor What’s Your Pleasure?. Em “Begin Again”, a britânica traz suas referências de disco/soul a um tom épico – inspirado, inclusive, por sua passagem pelo Brasil no ano passado. É, sem dúvidas, uma honra que tenhamos influenciado Ware a compor uma das melhores músicas de seu catálogo. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

As expectativas estavam altas para o retorno de Olivia Rodrigo após o bem sucedido SOUR, seu álbum de estreia, e a jovem não decepcionou: GUTS, lançado este ano, não só supera o disco predecessor, como demonstra que Olivia está disposta a brincar com outras sonoridades inclusas no guarda-chuva do pop/rock. “bad idea right?” é o melhor exemplo disso, com sua letra sarcástica e seus acordes remanescentes do gênero nos anos 90. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

Numa era que ainda respira os resquícios de um pop mais minimalista, é uma dádiva ter alguém como Carly Rae Jepsen, que consegue, como ninguém, falar sobre a descoberta de um novo amor de maneira eufórica e dinâmica. “Psychedelic Switch” é mais uma prova disso, com a já habitual narrativa lírica da canadense que, desta vez, é acompanhada de uma melodia mais experimental, influenciada pelo trabalho do duo Daft Punk. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

Nenhuma estranha em puxar inspirações do cinema, SZA pegou emprestado de uma das melhores obras da filmografia de Quentin Tarantino a história de uma ex escanteada que decide matar o namorado por vingança. “Eu fiz tudo sóbria, fiz tudo por nós”, admite, na mistura de hip hop e R&B confessional que é sua marca registrada. A música, que já era ótima por si só, ganhou em abril a cereja do bolo com os versos de Doja Cat detalhando o passo a passo de sua própria fantasia vingativa, um rap mais memorável que boa parte do seu próprio disco lançado este ano. (Por João Ker)

Após um hiato de 5 anos desde o lançamento do EP boygenius, o supergrupo lançou seu primeiro disco, The Record, em março deste ano. “Not Strong Enough”, um dos singles de divulgação, resume bem por que a união entre Phoebe Bridgers, Julien Baker e Lucy Dacus dá certo: cada uma tem espaço para se destacar e, ainda assim, criar um trabalho coeso. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

Encarando o camp bem nos olhos, Sam Smith chega em uma balada de helicóptero e se balança pendurados nos cristais de um lustre enorme enquanto usa uma capa dourada e canta o que parece algo tirado da gaveta de demos não lançadas por George Michael. De um jeito essencialmente britânico, elu deixa claro no refrão de que não saiu de casa para fazer amigos (em português brasileiro, o bom e velho “hoje tem!”). Se você ainda não entendeu, elu “precisa de um amante” e, para isso, vai até uma orgia queer regada a champanhe, “torneiras” que atiram pra todos os lados e uma lista de convidados copiada diretamente d’O Alienista. “I’m not here to make friends” é mais um capítulo na história de liberação sexual para e artista, o que tem sido uma delícia de acompanhar. (Por João Ker)

Desde que decidiu investir na dança, Dua Lipa tem dado pouco ou nenhum espaço para a concorrência na corrida pelo posto de main pop girl. Agora, se o Future Nostalgia já apontava nessa direção criativa, “Houdini” deixa claro que o caminho à frente da artista será marcado por coreografias e músicas construídas sob medida para as pistas de dança. Produzido por Kevin Parker (Tame Impala) e Danny L Harle (Charli XCX, Caroline Polachek), o single é mais um exemplo do talento de Dua para comandar músicas leves, divertidas, com refrões cativantes e produções irresistíveis, algo que ela cristaliza no videoclipe e na excelente versão estendida, já imprescindível em qualquer playlist de verão. Segundo a própria, seu terceiro disco de estúdio terá uma sonoridade de “pop psicodélico” e, depois desse gostinho, mal podemos esperar para o que promete ser mais um ano em que a voz da artista será inescapável. (Por João Ker)

Deixe a cargo de Billie Eilish para transformar uma música para a trilha sonora de Barbie em mais uma balada dilacerante e confessional para o seu catálogo já extenso nesse nicho de pop minimalista. Acompanha apenas de um piano e com a voz carregada de melancolia, ela questiona seu papel no mundo enquanto vai cavando mais uma indicação ao Oscar de Melhor Canção Original. “What Was I Made For?” repete a parceria com o irmão FINNEAS e ainda tem as mãos preciosas de Mark Ronson e Andrew Watt na produção, que souberam muito bem criar a atmosfera perfeita para o momento mais emocionante de um dos maiores filmes do ano. (Por João Ker)

A panssexual Janelle Monaé faz uma ode ao poder feminino, ao batom e à crocodilagem em “Lipstick Lover”, anunciando o seu próximo álbum, The Age of Pleasure, que chega em 9 de junho. O clipe, dirigido pela artista e por Alan Ferguson, mostra como ela gosta de batom na nuca (ui!) e a força dos movimentos pélvicos, em uma festa só para garotas. Leia a crítica completa aqui. (Por Fabiano Moreira)

“A&W” não é a primeira música com transição de Lana Del Rey – há quatro anos, tivemos a psicodélica “Venice Bitch”, por exemplo. Porém, esta talvez seja a que melhor resuma o legado da cantora: da passagem do folk ao trap, a simbologia do sonho americano e a criação de uma persona. Não é apenas uma das melhores músicas do ano; é também uma das mais importantes do já extenso catálogo de Lana. (Por Maria Eugênia Gonçalves)

Responsável por algumas das farofas mais chics do pop, Kylie Minogue tem sido uma figura consistente e inovadora do gênero há quatro décadas. Tension, seu 16º disco de estúdio, mostra que a diva australiana ainda tem o faro apurado para saber o que funciona nas pistas e no seu público, que tratou logo de abraçar por completo o projeto e, principalmente, “Padam Padam”, seu carro-chefe. A música foi inescapável este ano e restaurou o status de Kylie como uma das principais deusas no panteão do pop. Good for her! (Por João Ker)

Depois de tantas fases, personalidades e sonoridades diferentes, foi quando pareceu mais genuína, confortável e feliz consigo mesma que Miley Cyrus atingiu seu maior sucesso crítico e comercial. Por mais que Endless Summer Vacation não seja um “disco de divórcio”, como ela deixou claro, “Flowers” foi o hino de empoderamento certo na hora certa, que finalmente saciou a curiosidade do público sobre as idas e vindas da artista com o ex-marido Liam Hemsworth. No auge de sua forma física e habilidade vocal, a cantora admite que o relacionamento foi bom até não ser mais e resumiu em versos “fáceis” que não precisa de nada nem ninguém para conversar, dançar, ser feliz e se amar. (Por João Ker)

Depois de sucessos moderados aqui e ali, 2023 foi o ano em que Troye Sivan se firmou como um dos atos pop mais interessantes dessa nova leva de artistas promissores. E a promessa se cumpriu: deixando a melancolia que marcou seus trabalhos iniciais, o jovem australiano finalmente se entregou às delícias de ser um gay com 20 e poucos ou tantos anos (ele tem 28) em Something To Give Each Other, disco que ele descreve como uma carta a todos os tipos de amor, daqueles que podem durar alguns minutos, fins de semana ou a vida inteira.

Esse primeiro lugar poderia muito bem ser de “Rush”, seu primeiro single com refrão viciante e clipe orgástico regado a poppers que se tornou uma escolha recorrente de DJs ao longo do ano. Mas o diferencial de “One Of Your Girls” é exatamente seu conteúdo lírico, no qual Troye declara o desejo de ser um broder, uma menina ou qualquer coisa que o seu crush heterossexual desejar na calada da noite. Um sentimento comum à maioria dos gays, mas ao mesmo tempo um tabu pouco abordado, principalmente na forma que o artista escolheu fazê-lo.

A produção da música entrega uma versão meio lo-fi que parece uma evolução mais sensual e milimetricamente pensada (a delicadeza com que o violão começa a tocar no pré-refrão e a distorção da voz no refrão e depois, de novo, no “e-very-bo-dy”) do bedroom pop no qual Troye investia quando começou a carreira no bom Blue Neighborhood. O clipe dirigido por Gordon Von Steiner, mostra o twink mais famoso do pop montado da peruca ao salto agulha, batendo cabelo, executando coreografias e servindo beleza fishy como as verdadeiras popstars dos anos 2000. O vídeo causou reações divididas entre o choque e o tesão e, mais importante, gerou também um debate sobre arte drag, crossdresser, androginia e fluidez de gênero que, com sorte, ajudou numa maior aceitação, ainda que tímida, de homens que fogem aos estereótipos de masculinidade. (Por João Ker)

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