Nossa lista anual de melhores músicas LGBTI+ finalmente está aqui, com um “cardápio” extremamente eclético de artistas nacionais e internacionais que envolveram a nossa comunidade com seus lançamentos ao longo de 2022. Pagode, rock, eletrônica, pop, funk, R&B, MPB… Essa seleção de 50 faixas tem pelo menos uma que certamente vai te agradar. Abaixo, confira o que mais tocou nos fones da equipe da Híbrida neste ano.

Ah, não deixe de conferir também as listas de 2021, 2020 e 2019.  E seguir a nossa playlist abaixo com a seleção deste ano.

1. Ludmilla – “Maldivas”

Depois de estrear no Rock In Rio e vencer o primeiro Grammy Latino da carreira, fica difícil pensar em alguém que teve um ano melhor que Ludmilla. A carioca, que se lançou no funk, encontrou a consagração no pagode, nicho pouco explorado por novos artistas, principalmente da nossa comunidade. Em todos os volumes, versões, shows e desdobramentos do Numanice (que já tem um cruzeiro marcado pro ano que vem), a artista parece à vontade sem abrir mão de toda a sua identidade e parcerias LGBTI+, pretas e periféricas, vide “Maldivas”, uma declaração de amor à sua esposa, Brunna Gonçalves. / João Ker

2. Pabllo Vittar e MC Carol – “Descontrolada”

Desde que a parceria entre Pabllo Vittar e MC Carol foi anunciada, o público já sabia que viria pedrada pela frente. Mas o resultado excedeu qualquer expectativa e rendeu uma faixa dançante, safada e envolvente que combina as melhores características das duas artistas. Lançada pouco antes das eleições, o grito da niteroiense clamando, comandando e quase profetizando que “Vai dar PT!” também assumiu um tom político que foi ecoado ao longo dos dois turnos do pleito. / J. K.

3. Johnny Hooker – “NSRA da Encruzilhada”

É preciso sabedoria, cuidado e habilidade para fazer música em português que soe popular e não caia no clichê ou no cafona exagerado – até porque uma certa dose de ambos é sempre bem-vinda. Nesse samba autodestrutivo escrito por Filipe Catto, Johnny Hooker canta a vontade de fumar seu Derby em paz, em uma referência nicotinada que por si só já é inesquecível, mas ao mesmo tempo resgata um pouco da fossa amargurada que o artista mostrou em seu disco de estreia (e conquistou qualquer pessoa que ouviu) e não soa repetitiva, enquanto reina suprema sobre um baile de máscaras e Marlboros. / J. K.

4. Gloria Groove – “Vermelho”

Depois de um 2021 insuperável, Gloria Groove lançou seu aguardado segundo álbum, Lady Leste, que, como já era de se esperar, é recheado de músicas sobre e para rebolar até o chão, além do R&B que ela sabe comandar como ninguém, com destaque para a parceria com Marina Sena em “Apenas um neném”. Mas, em ano de eleição, essa menina de “Vermelho” ganhou um sentido a mais enquanto deixava o país galudão só pra ver uma vitória nas urnas (e no flerte), descendo com a mão no popozão. / J. K.

5. Ga1 Costa e Marina Sena – “Para Lennon e McCartney”

Ninguém sabia, mas a releitura de “Para Lennon e McCartney” com Marina Sena seria a última gravação inédita em estúdio de Gal Costa, que morreu em novembro. Originalmente composta por Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant, do Clube da Esquina, e gravada na voz de Milton Nascimento na década seguinte, a releitura é produzida por Guilherme Kastrup, resposável pelo trato primoroso no trabalho mais recente de Elza Soares. Nesta versão, a declaração de reconhecimento e de amor à América do Sul e a Minas Gerais ganha novo significado pela combinação de vozes das artistas baiana e mineira. Marina, que sempre frisou sua admiração e inspiração em Gal, ganhou na loteria da MPB e fez dessa parceria com sua musa um marco inevitável na história de ambas.  / J. K.

6. Daniela Mercury – “Baiana”

Uma das vozes mais potentes na defesa do setor cultural durante o governo de Jair Bolsonaro, a rainha Daniela Mercury levou o ativismo político para a sua produção musical dos últimos anos (ou décadas?), seja na releitura de “Apesar de Você” ou no “resgate” de “Milla”. Mas pouco antes do fim desse trauma político e já embalada no clima pós-pandemia, a soteropolitana joga “Baiana” na roda como uma celebração à cultura brasileira recheada de referências que vão de Caetano Veloso a Vinícius de Moraes, Tom Jobim e Mário de Andrade. Essa nova leva de repertório calcado no axé e no samba-reggae tem pitacos de linguagem não-binária (“Terra-mãe de todes”) com eletrônica brazuca e potencial de movimentar as milhares de pessoas que ela arrasta pelo carnaval, pelo Brasil e pelo mundo – sem deixar a reflexão sociopolítica pra trás. / J. K.

7. Noporn – “Sereia”

Eu tenho muito orgulho de ser um lianer, nome dado pelo jornalista Renan Guerra, risos, aos fãs de Liana Padilha, fundadora e voz do duo de música eletrônica Noporn, que acaba de lançar o segundo disco com o novo produtor e integrante Lucas Freire, Contra Dança. Este é o quarto álbum do projeto, que está completando 20 anos de serviços prestados à cena clubber nacional. O disco traz 12 faixas que têm a noite e o sexo como protagonistas e foram compostas durante e após a tour recente pela Europa. / Fabiano Moreira

8. Rico Dalasam – “Tarde D+”

Assim como em seu disco anterior, Dolores Dala Guardião do Alívio (DDGA), que chegou primeiro como EP, o rapper Rico Dalasam, um dos melhores letristas da atual safra de compositores brasileiros, lançou este ano o EP Fim das Tentativas, com seis faixas, que vai se desdobrar em seu próximo álbum. O trabalho é uma continuação para DDGA e conta com as participações especiais do Tuyo, na faixa-título, e Céu, na canção “Guia de um amor cego”. O trabalho dá continuidade à parceria com o produtor Dinho, com batidas do rap e trap flertando com gêneros mais populares, como o pagodão baiano e o piseiro. Sempre romântico, Rico fala de superação após tantos desencontros. / F. M. 

9. Simone Mazzer – “Mulheres Livres”

Em Deixa Ela Falar, Simone Mazzer coloca o vozeirão tão bem conhecido na noite carioca para cantar um manifesto de liberdade política, sexual, romântica, corporal e feminina. “Mulheres Livres”, entretanto, vem embalada com gostinho de carnaval e guiada pela interpretação envolvente, animada e e potente de Simone.  / J. K.

10. Deize Tigrona e DJ Chernobyl – “Foi Eu Que Fiz”

Tenho uma história de amor muito bonita com a Deize Tigrona. Fiquei muito feliz quando ela, finalmente, foi abraçada e envolvida pelo amor da Batekoo Records, responsável pelo lançamento de seu segundo disco, Foi Eu Que Fiz, com as canetadas da diva, que assina todas as letras de suas músicas, embaladas em ritmos como funk, trap, pop, rock e música eletrônica. O disco foi todo construído em cima de colaborações com Malka (que assina a producão), JLZ, Teto Preto, DJ Chernobyl, Francêsbeat e Badsista. / F. M.

11. Luísa Sonza – “Cachorrinhas”

Ache o que quiser achar de Luísa Sonza, mas a artista, ao que tudo indica, vai continuar esbanjando sua libido e liberdade financeira sem pedir licença, com clipes megaproduzidos e dignos de popstar internacional. “Cachorrinhas” pode não tocar seu coração, mas, como já diria Shakira, os quadris não mentem com a batida servida pela dupla do Tropkillaz. A letra tem algo que poucas pessoas podem se identificar (quantas de nós somos popstars com cachorras chamadas Rita Lee ou Britney?), mas a produção e o fator x de Luísa comandando a música (e mais uma coreografia de joelho) são irresistíveis. / J. K.

12. Anitta, Mr. Catra, Papatinho, MC Kevin O Chris e YG – “Que Rabão”

O muito anunciado e aguardado segundo disco de estúdio lançado por Anitta com foco no mercado internacional teve pouco espaço para a língua portuguesa. Esse funk de 150 bpm reúne três dos maiores nomes de gerações diferentes no olimpo do batidão carioca e mostra que a nossa menina de Honório Gurgel continua acertando a mão na mistura de funk com rappers gringos, cartada que vem funcionando desde “Vai Malandra”. / J. K.

13. Urias – “Tanto Faz”

O álbum de estreia da cantora Urias, Fúria, chegou conquistando números importantes. Ela é a primeira mulher trans e negra a ter álbum em primeiro lugar dos mais vendidos do iTunes Brasil e duas músicas do mesmo álbum, simultaneamente, no Top 15 do iTunes BR. O primeiro single oficial, “Tanto faz”, deixa de lado a fúria, constante em suas músicas, para mostrar a vulnerabilidade da artista. / F. M.

14. Karol Conká – “Por Inteira”

Conhecida pela energia, força e deboche do seu rap, Karol Conká tem mostrado um lado musical mais suave desde que saiu da “casa mais vigiada do Brasil”. O disco Urucum traz muitos desses bons momentos, como em “Mal Nenhum”, “Subida” e “Por Inteira”, todas com essa vibe produzida por RDD. / J. K.

15. Hiran – “Beijou Porque Quis”

Expoente da cena rap e LGBTI+, o baiano Hiran tem feito ondas com seu som e, em “Beijou Porque Quis”, ele aproveita a marola para navegar na cadência de um flow que emula a noite quente em que “tava ali parado”, foi beijado e já “imagina um príncipe encantado”. Quem nunca? / J. K.

16. Quebrada Queer – “Metralhada”

O Quebrada Queer, primeiro cyper/coletivo de rap LGBTI+ do mundo, lançou o excelente HoloForte, em maio, mixando as palavras “holograma” e “forte”. O clipe de “Metralhada” mostra o poder das gatas no flow, nos looks, na runway, no fechamento. O disco ainda traz uma boa mistura de rap, funk carioca, trap e MPB. E (muito) talento. / F. M.

17. Daniel Peixoto e CL4RI – “Late Night Memories”

O cearense Daniel Peixoto, que explodiu com o eletropunk da banda Montage, aborda um lado mais sensível e vulnerável da sua arte nessa parceria com a novata CL4RI, conterrânea que já estreia com voz marcante e quê de Lana Del Rey. O single, em inglês, carrega letras, produção e harmonias assombrosas de ambos, em uma grata surpresa pelo amadurecimento de Daniel e o début promissor da sua conterrânea. / J. K.

18. Alice Caymmi e Cleo – “Na Sua Mente (Me Tira da Mira)”

Escrita para a trilha do filme homônimo, a faixa é a segunda parceria entre as artistas, que já lançaram juntas um remix para “Sozinha”, lançada originalmente no disco homônimo de Alice Caymmi. Regada a drama, a faixa é produzida por Michael Sullivan com ares de 007 e mostra de novo que elas combinam, enquanto prova o talento de Alice como compositora. / J. K.

19. Thiago Pantaleão – “Desculpa por Eu Não Te Amar”

A primeira vez que eu vi o Thiago Pantaleão foi só aquele barulhão do tabu sendo quebrado em “Bumbum Check”, clipe com Villa e Ruxell no qual Pantaleão rebola como só ele sabe rebolar. É muito controle do bumbum! Ele acaba de lançar seu primeiro álbum, Fim do Mundo, pela Som Livre, com direção artística de Pablo Bispo e produção musical de Ruxell e Gondim. O primeiro single, “Desculpa por eu não te amar”, já antecipava o mix gostoso de pop rock e R&B do trabalho e estourou, com mais de 1,5 milhão de plays, falando sobre responsabilidade afetiva. / F. M.

20. Dornelles – “Kama Surta”

Na playlist de janeiro, o carioca Dornelles fez o seu outing com “Queimado”, sua primeira música com temática queer. Como toda gay, o processo correu muito, muito rápido (risos) e deu em “Kama Surta”, seu novo single, que ganhou clipe filmado em uma espécie de bordel no Rio. A produção do funk 170 BPM é do DJ Swag do Complexo, do webhit “Colegagem (Eu já sentei pro seu marido)”. / F. M. 

21. Aretuza Lovi e Getúlio Abelha – “Baião de Dois”

Aretuza Lovi tem atiçado há tempos um disco influenciado por ritmos nordestinos, que finalmente veio aí. Borogodó pt.1 veio aí e traz uma parceria com Getúlio Abelha, o autodeclarado sad clown of forró do Ceará, pra dançar de umbigo colado e chinelo arrastando no chão. / J. K.

22. Rohma e Fairy Adams – “Manda Nudes”

“Kobra”, duo transante de Rohma e Letrux, passou aqui na playlist de junho, já anunciando o disco @rroboboy, lançado pelo italiano radicado no Brasil e com produção de Jonas Sá e Thiago Nassif. No álbum, ele canta “Esquinas”, de Djavan, em italiano, que virou “Solo Io”, com clipe de animação futurista. O som emula Gorillaz, Nine Inch Nails e Stromae e tem momentos bem gays e hilários, como “Strong Golden Shower” 🗣🗣🗣 e “Manda Nudes”. / F. M.

23. Grag Queen – “Libélula”

Grag Queen se apresentou em alguns dos principais palcos e eventos do País e ainda lançou um total de oito singles ao longo do ano, impulsionada pela vitória no Queen Of the Universe, reality show de competição musical comandado por RuPaul. Mas apesar do esforço, de competência vocal e da agenda lotada, ainda falta a artista estabelecer uma identidade própria para além de músicas que parecem pensadas como fórmulas robóticas para viralizar e não mostram tanto uma alma ou personalidade própria, como nesta faixa com uma metáfora já batida sobre superação. / J. K.

24. Mavi Veloso – “Names”

Artista trans e mineira de Coromandel Mavi Veloso é radicada na Holanda e faz a sua estreia na indústria com o lançamento do bom disco Travesti Biológica. Formada em artes visuais com post master em performance e mestrado em voz, ela usa o disco para discutir questões de identidade e gênero na voz que pesquisou na academia. No trap “Names”, ela se inspirou em termos habitualmente utilizados para ofensas e humilhações de pessoas trans, ressignificando-os para um espaço de orgulho e empoderamento. / F. M.

25. Lia Clark – “Não Fui Eu”

Mantendo a consistência, Lia Clark lançou a primeira parte do seu disco homônimo, no qual mantém as batidas frenéticas de funk e letras mais que explícitas. “Não Fui Eu” traz todos os ingredientes necessários para funcionar numa pista, além de versos sobre aquela “amnésia” pós-bebedeira que todos já passamos ou vamos passar um dia. / J. K.


1. Beyoncé – “Alien Superstar”

Mesmo sem os aguardados “visuais”, RENAISSENCE já era um dos principais álbuns do ano antes mesmo de ser lançado, simplesmente por marcar o retorno de Beyoncé ao pop dançante que nós, LGBTIs, tanto sentimos falta. Dedicado à cultura ballroom e ao tio gay da artista, o disco trouxe uma produção afinada que passeia por diferentes vertentes da eletrônica com um uso sublime de samples, como no ápice de “SUMMER RENAISSENCE”, que mescla Donna Summer e Prince como nenhum outro artista conseguiria. Assim, é praticamente impossível escolher apenas uma faixa para entrar nessa lista, mas como temos tal tarefa, a aposta vai para “ALIEN SUPERSTAR”, cuja letra igualmente divertida, arrogante e sensual traz o melhor da Abelha Rainha, abrindo o caminho para performances memoráveis e, baseado apenas nos memes, um clipe transcendente e unique! / João Ker

2. Tove Lo – “2 Die 4”

Uma das compositoras mais afiadas a surgirem no cenário pop dos últimos anos, Tove Lo sabe muito bem como mesclar tesão e tristeza, provocando crises existenciais na pista desde o primeiro single. Dirt Femme, seu primeiro lançamento independente, traz reflexões sobre relacionamentos modernos e amores líquidos que deixariam o próprio Bauman intrigado, mas sem esquecer os versos-chiclete e as batidas fresquíssimas. Em “2 Die 4”, ela faz uma oferta irrecusável ao seu pretendente e ao ouvinte para se jogarem numa aventura dançando na chuva ou onde a música tocar. / J. K.

3. Sam Smith e Kim Petras – “Unholy”

Ainda há artistas que tentam e conseguem driblar os algoritmos da era do streaming e da fórmula “fácil” de um viral no TikTok. Mas também há aqueles que sabem manipular essas regras em benefício próprio, como foi o caso de Sam Smith, que entra em sua “era de vilã” acompanhado de Kim Petras nessa parceria irresistível, pervertida e extremamente queer que marcou simultaneamente a primeira vez de uma cantora trans e de um artista não-binário no topo da principal parada da Billboard. A batida suja do bass potencializa a letra sobre uma esposa que não sabe dos “segredos sujos” que o marido guarda e, se você não entendeu de primeira, o clipe superproduzido e inspirado em Moulin Rouge deixa tudo mais claro, colorido e divertido. / J. K.

4. Harry Styles – “As It Was”

Eleito o segundo maior popstar do ano pela Billboard (atrás apenas do latino homoerótico-e-igualmente-queerbaiter Bad Bunny), o Beyoncé do One Direction lançou seu terceiro disco como artista solo e sentou no topo das principais paradas semana após semana. A pitada psicodélica no seu pop rock acompanhada de um estilo não-binário nos tapetes vermelhos, clipes bem produzidos, corpo tatuado e jugular hipnótica já transformaram Harry Styles no Rei do Pop para a nova geração, mesmo que os descendentes e guardiões do legado de Michael Jackson não gostem do título. se você ousou ver TV ou ouvir rádio este ano, “As It Was” foi inescapável, assim como o carisma que ele sabe usar e esbanjou na passagem pelo Brasil. / J. K.

5. Britney Spears e Elton John – “Hold Me Closer”

Repetindo a fórmula usada com Dua Lipa no hit “Cold Heart”, Sir Elton John resgatou trechos de três dos vários clássicos em seu catálogo para criar um mosaico de versos, vocais e batidas envolventes em “Hold Me Closer”. Mas apesar da sua genialidade, é a presença da lendária senhorita Britney Spears que sopra vida própria à faixa e dá novo sentido ao refrão já conhecido de “Tiny Dancer”, nessa colaboração que marca sua primeira vez em um estúdio de gravação desde que se livrou da tutela do pai. Segundo o produtor Andrew Wyatt, Elton encomendou queria uma música que as pessoas “ouvissem bebendo e dançando em Ibiza”. Missão dada e cumprida, a colaboração tem tudo pra crescer no verão daqui e já atingiu o topo da parada de música dance/eletrônica da Billboard. / J. K.

6. Rosalía – “Despechá”

Dona do Álbum do Ano pelo Grammy Latino, Rosalía conseguiu um feito quase impossível com seu Motomami: estourar pra além do hype mantendo-se fiel à sua identidade artística e estética sonora sem abandonar o espanhol. Se músicas como “Saoko” e “Hentai” já abriram o caminho para a aclamação da crítica, a chegada estrondosa do mambo de “Despechá” consolidou sua presença sem volta entre as melhores de 2022. / J. K.

7. Anitta – “Envolver”

Se você é brasileiro, pode ser contra a Fifa e o Catar, mas acabou torcendo pela Seleção em algum ponto da última Copa do Mundo. Esse mesmo sentimento de patriotismo e orgulho nacional que raramente move as massas foi sentido por grande parte do País quando Anitta estava prestes a fazer sua estreia na parada internacional da Billboard e mutirões de streaming se espalharam pelo Brasil até entre quem não era tão fã assim dela. A vitória veio suada e com muita ajuda do TikTok, mas veio em abril, quando nossa carioca de Honório Gurgel atingiu o topo do ranking global da publicação mais tradicional de música do mundo. Hoje, é quase obrigação moral de todo brasileiro se jogar no chão e arriscar a coreografia de “Envolver” quando ela toca em algum lugar. Mesmo que essa não seja sua música mais original ou “envolvente”, o reggaeton sensual foi um marco de alegria e motivo de celebração em um ano que novamente testou todas as nossas resistências psicológicas e emocionais. / J. K.

8. Oliver Sim – “Hideous”

É mais difícil do que parece assistir a um membro de grupo/banda tentar a almejada carreira solo com sucesso e sem parecer uma sombra do seu “ato” original. Mas apoiado por letras constrangedoramente sinceras e confessionais e munido com o trunfo de uma voz marcante, Oliver Sim conseguiu seguir na direção de seus amigos do The XX e ainda assim fazer algo diferente do que produzia no trio. Hideous Bastard, seu primeiro disco individual e totalmente produzido por Jamie XX, já abre com versos sobre suas inseguranças de se sentir feio, ser soropositivo e um dependente químico em recuperação. Tinha tudo pra ser uma fossa sem fim, mas a mão de Jamie nos sintetizadores, a crueza das desilusões e o tom distinto da voz de Oliver, que já tinha brilhado de forma discreta aqui e ali, transformam esse álbum em um projeto imaculado para se ouvir do início ao fim sem chances de se render à inércia, mas sim com disposição de enxergar a mesma luz no fim do túnel que ele refletiu no último disco do The XX e que o transformam em parte essencial do grupo – mesmo que ele nem sempre se sinta assim, e tudo bem. / J. K.

9. Charli XCX – “Constant Repeat”

Em Crash, Charli XCX fundiu coesamente todas as mudanças pelas quais passou em sua trajetória artística: do synthpop de True Romance, chegando ao apelo comercial pop-rockista de Sucker até seus últimos lançamentos catapultados pela PC Music. “Constant Repeat”, faixa que infelizmente não foi alçada ao posto de single, resume perfeitamente a proposta do disco. Entre as brincadeiras com o autotune e a batida de resgate ao passado, ao mesmo tempo em que inserida num futuro, a música apresenta Charli em sua versão mais mainstream, mas sem perder as raízes que ajudaram-na a se distinguir das demais artistas do cenário pop atual. / Maria Eugênia Gonçalves

10. Rina Sawayama – “Send My Love To John”

Rina Sawayama conquistou nosso coração com os excessos e extravagâncias de sintetizadores em seus primeiros pops, mas em seu segundo disco de estúdio, Hold The Girl, a artista nascida no Japão toma alguns riscos a mais que nos fazem amá-la ainda mais. Entre as lamúrias de ser uma popstar em “This Hell”, a solidão da faixa-título e o humor macabro de “Frankenstein”, está a dilacerante “Send My Love To John”. Com violão e narrativa de balada country, a música ilustra de forma mais explícita as inspirações queer na vida e na arte de Rina, que canta no lugar de uma mãe imigrante pedindo desculpas por não ter aceitado a sexualidade do filho, mas agora manda seu amor ao namorado (John) do rapaz. A letra inteira é de embrulhar o estômago e molhar os olhos, principalmente se você levar em conta que é inspirada em uma história real. / J. K. 

11. Bad Bunny – “Tití Me Preguntó”

Quando Bad Bunny ganhou reconhecimento mundial há dois anos, com o excelente YHLQMDLG, o cantor deixou claro que era um dos artistas mais promissores da língua espanhola. Em 2022, com o igualmente ótimo Un Verano Sin Ti, sucesso estrondoso de público e crítica, ele parece ter solidificado seu curto, mas não menos impressionante legado. “Tití Me Preguntó”, terceiro single do disco, talvez seja a canção que melhor explique seu fenômeno: o porto-riquenho não é apenas mais um expoente do reggaeton, mas seu intérprete popular mais complexo e também experimental. Relatando a dificuldade de Bunny em ser fiel a uma pessoa só, a faixa é um dos momentos mais empolgantes do ano por misturar as batidas já características do ritmo latino à infusão do trap e de sintetizadores. / M. E. G.

12. SZA e Phoebe Bridgers – “Ghost in the Machine”

Quando a parceria entre SZA e Phoebe Bridgers foi anunciada, a internet entrou em choque: como seria possível que duas artistas de sonoridades tão distintas funcionassem na mesma faixa?! “Ghost in the Machine”, mais que uma união perfeita entre as duas cantoras – ancorada nos sentimentos de melancolia e isolamento da “era digital”, traços presentes nas letras de ambas as discografias -, é a prova de que SZA pode ir muito além do R&B e modular sua voz entre diferentes gêneros com sucesso. / J. K.

13. Caroline Polachek – “Billions”

“Billions”, primeiro single lançado por Caroline Polachek em 2022 e que provavelmente figurará na tracklist de seu próximo álbum, Desire, I Want To Turn Into You, com lançamento previsto para o próximo ano, tem tudo o que se espera de uma faixa da cantora: alterações nos timbres vocais, produção de Danny L Harl (que trabalhou com ela no disco de estreia, Pang) e frases curtas, mas pegajosas. Ainda assim, a canção se destaca com ajuda do vídeo surrealista e da participação de um coral infantil do Trinity Choir de Londres ao final. / M. E. G. 

14. Jessie Ware – “Free Yourself”

Produzida por Stuart Price, que já assinou trabalhos de Madonna, Pet Shop Boys e Kylie Minogue, “Free Yourself” é mais uma excelente faixa de Jessie Ware em sua versão disco. A cantora, que iniciou a carreira no início da década passada com um som voltado para o R&B, abraçou a pista de dança há dois anos com o maravilhoso What’s Your Pleasure e, desde então, não a abandonou mais. Sua única canção lançada em 2022 deixou claro que a Simone Tebet do Reino Unido parece, enfim, ter encontrado o seu lugar. Com o apoio inabalável, é claro, da comunidade LGBTI+. / M. E. G.

15. Carly Rae Jepsen e Rufus Wainwright – “The Loneliest Time” 

A música disco fez oficialmente seu retorno em 2022. Dos discos de Beyoncé e Drake, passando por faixas inéditas de Jessie Ware (“Free Yourself”) e Lizzo (“About Damn Time”), o gênero, que marcou a passagem da década de 1970 e 1980, encontrou mais uma representante no ano com Carly Rae Jepsen e a faixa que dá título a seu quinto álbum de estúdio, The Loneliest Time. Parceria com Rufus Wainwright, a música traz a cantora canadense fantasiando sobre o retorno com um ex da forma mais melodramática possível. E funciona, porque seu carisma permite que as comparações com Shakespeare na letra e o tom camp do vídeo pareçam sinceros. / M. E. G.

16. Demi Lovato – “29”

Surfando na onda que trouxe de volta o pop rock aos ouvidos das novas gerações, Demi Lovato retomou com força total a estética e sonoridade que marcaram o início da sua carreira. O disco Holy Fvck é cheio de momentos punk e letras confessionais sobre vícios e superações. Em “29”, ela abre o coração e reflete sobre o término com o ator Willmer Valderrama, que já foi tema de tantas outras canções de amor, ódio e arrependimento da artista ao longo dos anos. Dessa vez, entretanto, a clareza de atingir a idade que ele tinha quando começaram a namorar traz uma nova perspectiva sobre relacionamentos entre um homem de 29 anos e uma adolescente de 17 – isso tudo com guitarras pesadas e vocais inflamados de ódio. / J. K.

17. Florence + The Machine – “My Love”

Acostumada a lançar músicas sobre traumas, autodestruição e relacionamentos tóxicos, para dizer o mínimo, Florence Welch se aventura pelo rock dançante em Dance Fever, ao mesmo tempo em que questiona seu papel em um gênero musical que por mais de uma década não reconhece sua originalidade ou genialidade. Em faixas como “King”, “Free”, “Choreomania” e algumas outras, ela traz os elementos já conhecidos da dança contemporânea salpicados sobre uma bateria e embalsados em letras de renúncia á negação que lhe é destinada dentro do rock. Mas é em “My Love”, com clipe e coreografia épicos e algo remetendo às suas primeiras gravações, que as vísceras aparecem e ela nos remete aos tempos mais simples em que era possível dançar enquanto sua voz narrava a superação de um coração vazio, abandonado ou partido. / J. K.

18. Taylor Swift e Lana Del Rey – “Snow On The Beach”

Faz anos que Taylor Swift declara publicamente sua paixão pela caneta de Lana Del Rey. Como ambas são colaboradoras frequentes e amigas de Jack Antonoff, uma parceria entre elas sempre pareceu inevitável. Pois eis que a loirinha conseguiu e Lana tornou-se a única artista convidada na alegoria neurótica e romântica de Midnights, disco que marca seu retorno ao pop. Ainda que a participação seja tímida e um pouco apagada, as vozes harmonizam perfeitamente no refrão, nessa declaração apaixonada que se nasceu como um clássico instantâneo na discografia de ambas. / J. K.

19. Shakira e Ozuna – “Monotonía”

Existe uma teoria não-oficial entre fãs da música pop de que uma diva nunca está tão bem no comando de sua criatividade do que quando está passando por um término. E, depois de passar por um dos divórcios mais acompanhados e escrutinizados do ano, Shakira soube como aproveitar a dor e o hype neste reggaeton de coração partido, cujo clipe faz alusão visual ao ex-marido Gerard Piquet e a música quase chega a pedir desculpas por um dos fins mais tristes possíveis: aquele em que o casal cai na “monotonia” e não há mais emoção, tesão nem ruptura dramática. / J. K.

20. Lizzo – “About Damn Time”

Só de existir e resistir às críticas constantes, Lizzo já é uma figura inestimável no horizonte da música pop contemporânea. Ela não precisaria, mas consegue extrapolar não só os padrões estéticos como musicais, criando um som original, com músicas identificáveis e igualmente inspiradoras. “About Damn Time” é mais um hino de empoderamento que, mesmo não gostando de admitir, todos precisamos de vez em quando. / J. K.

21. Willow – “Split”

Willow (Smith) cresceu sabendo do seu potencial para mover multidões desde que “Whip My Hair” foi um hit espontâneo na década passada, quando ela tinha apenas 10 anos. Hoje, aos 22, ela é um dos maiores expoentes e principais pioneiras da ressaca de pop rock/punk que toma os charts  artistas revelação. O disco <Copingmechnism> tem as mesmas guitarras, baixos e bateria que transformaram esse em um dos gêneros imperativos no início dos anos 2000, trazendo inclusive as letras e baladas inescapáveis e irresistíveis de então. O trabalho é produzido por Chris Greatti, que está mais acostumado com as pistas e vertentes eletrônicas, mas aqui consegue transformar todas as angústias da jovem em pérolas rebeldes que trazem sua voz como abre-alas ao invés de escondê-la. / J. K.

22. Mariah Carey e Brandy – “The Roof (When I Feel The Need)”

Já faz alguns anos que Mariah Carey tem projetado mais a sua faceta de Rainha do Natal do que qualquer outra, mas quem estava vivo na virada do milênio sabe que ela é o suprassumo do R&B e da fusão de pop e hip hop. A reedição do aniversário de 25 anos do Butterfly, disco que conquistou as paradas e a crítica em 1997, é um aceno discreto para ninguém se esquecer desse reinado de MC sobre um gênero que, assim como o pop rock/punk, volta a conquistar as novas gerações. A releitura do sucesso “The Roof”, uma balada R&B sobre as lembranças de um encontro sexual e extraconjugal, encontrou a harmonia perfeita na participação de Brandy, outro ícone do ritmo que não só atende as demandas muito específicas da cantora original, como as extrapola e cria um orgasmo sonoro que, mesmo chegando um quarto de século depois, ainda soa fresco, cativante e envolvente como um amante sob a chuva. / J. K.

23. FKA Twigs e The Weeknd – “Tears In The Club”

Uma das artistas mais influentes dos últimos anos, ainda que nem sempre reconhecida por isso, FKA Twigs lançou suas CAPRISONGS em formato de mixtape para explorar as várias fases de uma gata capricorniana. A parceria com o The Weeknd é o mais próximo que ela chegou de um som comercial, mas ainda assim sem abrir mão de suas esquisitices e vocais agudos distorcidos, que carregam melancolia e libertação sexual na mesma medida, uma mistura perfeita para as pistas, o lugar onde ela pertence (mesmo que pareça não querer na maior parte do tempo). / J. K.

24. Miley Cyrus e Anitta – “Boys Don’t Cry (Live)”

Você pode amá-la ou odiá-la, mas nos últimos cinco anos Anitta tem conseguido se estabelecer sem concorrências como a principal artista do Brasil, pelo menos aos olhos do mercado gringo. Tanto que ela foi a única convidada do show já antológico de Miley Cyrus no Lollapalooza, onde elas cantaram juntas “Boys Don’ Cry”, um pop rock da brasileira altamente influenciado por The Weeknd. No palco, a girl from rio e a ex-Hannah Montana interagiram de igual pra igual, atingindo o mesmo nível de energia, vocais, sensualidade e porralouquice. A entrada desse registro ao vivo no streaming é uma vitória para nós, brasileiros, para Miley e para Anitta, que certamente herdou tanto quanto rendeu plays para a sua amiga. / J. K.

25. Diana Ross e Tame Impala – “Turn Up The Sunshine”

Diana Ross é uma das divas que já poderia colocar a cabeça com tranquilidade no travesseiro e dormir sabendo que já fez história e uma legião de gays felizes, principalmente durante seu auge na virada dos anos 1970 para os 1980. Ainda assim, ela decidiu entregar um novo hino solar e dançante que, nós, aceitamos com muita boa vontade. Em parceria com Tame Impala e ganhando até remix de PNAU (o mesmo que levou Elton John e Dua Lipa pras pistas de todo o mundo), “Turn Up The Sunshine” é a única coisa boa a sair de um filme sobre Minions e funciona bem demais para qualquer set animado de verão ou balada pop. / J. K.