Mais de 20 anos desde que lançou seu primeiro disco com os Scissor Sisters, o grupo que o catapultou ao estrelato e levou a cultura queer para o mainstream do pop no início do milênio, o multiartista Jake Shears está de malas prontas para debutar nos palcos do Brasil como um artista solo. “Estou ansioso para sair mais, muito mais. Quero passear, quero fazer coisas, quero me divertir bastante”, comenta diretamente de Londres, em uma videochamada com a Híbrida.

A primeira e única vez que Jake veio ao Brasil foi em 2010, quando se apresentou em São Paulo com o Scissor Sisters. Agora, ele é a atração principal das próximas megaedições da Kevin e tem dois shows marcados para este fim de semana: primeiro, no Rio de Janeiro, na sexta-feira, 31; e, depois, em São Paulo, no sábado que antecede a Parada do Orgulho LGBTQIA+, a maior do mundo.

Em ambos os shows ele deve mesclar na setlist alguns dos muitos sucessos dos Scissor Sisters (“Laura”, “Take Your Mama”, por exemplo) com o repertório do seu disco mais recente, o elogiado Last Man Dancing, que como o nome sugere é feito pra dançar do início ao fim. “Eu meio que juntei em um único projeto várias músicas pop que eu tinha com aquela sensação de pista de dança. Eu amo composições tradicionais, mas quis testar os meus limites um pouco”, explica.

Pra isso, Jake dividiu o disco em dois momentos. No primeiro, o ouvinte se depara com músicas mais radiofônicas e pop, como a faixa-título e os singles “Too Much Music” e “Voices”, uma colaboração muito aguardada com sua amiga pessoal Kylie Minogue. Quando chega em “8 Ball”, parceria com o produtor e DJ Le Chev, o trabalho parece entrar nas altas horas da madrugada de uma balada, com faixas mais experimentais em uma fusão de techno, trance e tudo quanto é vertente eletrônica possível.

“Quis fazer algo que talvez fosse um pouco mais experimental e inesperado, e possivelmente algumas coisas sem vocais e sem outras pessoas cantando ou eu cantando com outras pessoas. Queria sair da caixinha”, conta Jake.

Assim, ele costurou as músicas em sequência, de forma que uma faixa se une à próxima com a ajuda de colaboradores como Big Freedia, o ícone queer do bounce de Nova Orleans, que aparece em “Doses”; e a atriz Jane Fonda, que emprestou seus vocais para dar as boas vindas à psicodelia eletrônica de “Radio Eyes”.

“Acho que eu não fazia um verdadeiro ‘disco de festas’ em muito tempo”, observa Jake. “Meu primeiro álbum solo era muito emotivo e pessoal, tinha uma espécie de tom romântico e era muito sincero. Dessa vez, eu quis fazer algo sem nenhum sentimentalismo atrelado, algo bem divertido e polido. Simplesmente tentei fazer algo que não tinha feito antes.”

Nesse sentido, o “disco de festa” mais recente que Jake Shears fez foi em 2012, quando lançou com seus companheiros do Scissor Sisters o Nightly Hour, o último do grupo (até aqui, pelo menos), responsável pelos sucessos “Let’s Have a Kiki” e “F*** Yeah”. Mesmo que mais de uma década já tenha se passado desde então, a marca que o grupo deixou na cultura pop de forma geral ainda permanece.

Desde que surgiu com a explosão queer do seu primeiro álbum autointitulado, a banda formada por Jake, Ana Matronic, Babydaddy, Del Marquis e Randy Real furou a bolha do mainstream com uma expressão artística e autêntica que mesclava androginia, camp e viadagem, com um impacto até difícil de mensurar na era pré-internet, mas que definitivamente abriu o caminho para artistas declaradamente LGBTQIA+ que despontam no pop de hoje.

Mas o próprio Jake Shears consegue enxergar a importância desse legado? “Acho que hoje é um pouco mais fácil (ser um artista abertamente LGBTQIA+). E é culturalmente interessante o tanto de artistas abertamente queer, realmente está proliferando. Tenho orgulho do que o Scissor Sisters pode ter feito para abrir a porta minimamente. Fico feliz em fazer parte desse legado”, diz.

Inclusive, esse é o tema do podcast Queer The Music, no qual Jake Shears troca figurinhas com outros artistas LGBTQIA+, como Olly Alexander (Years & Years), Peaches, St Vincent e Sylvester.

“Tem sido ótimo conversar com uma gama tão diversa de pessoas, dos jovens que fazem música agora aos que vieram antes de mim, e entender as diferentes perspectivas. O legado e a linhagem de pessoas queer na música não é um assunto muito comentado. E acho que sou o cara certo para explorar isso pois sou fascinado por música e pelos processos criativos das pessoas.”

Como Jake Shears nunca foi a uma edição da Kevin, explico que a festa é tradicionalmente dividida em dois espaços: a pista de dança eletrônica; e o lado mais “obscuro” dos dark rooms. Questionado se pretende explorar ambos, ele ri.

“Eu sou muito grato pela existência de dark rooms. E fico feliz que as pessoas gostem de usá-los. Eu não realmente frequento…”, diz, ainda rindo. “Mas eu provavelmente vou dar uma olhada. Sempre dou uma geral nas festas.” Mas, se algum fã encontrá-lo por lá, ele adianta com bom humor que não seria o momento mais adequado para pedir uma selfie. “Isso não seria muito legal pra mim.”

"Quis fazer algo que talvez fosse um pouco mais experimental e inesperado", diz Jake Shears sobre o disco "Last Man Dancing" (Foto: Damon Baker | Divulgação)
“Quis fazer algo que talvez fosse um pouco mais experimental e inesperado”, diz Jake Shears sobre o disco “Last Man Dancing” (Foto: Damon Baker | Divulgação)

Serviço – Jake Shears x Kevin

  • Zig Studio Rio de Janeiro 
    31 de Maio, sexta-feira, das 22:00 às 07:00
    R. Sacadura Cabral, 154 – Saúde
    INGRESSOS AQUI
  • Zig Studio São Paulo 
    1 de Junho, sábado, das 22:00 às 06:00
    Av. Olavo Fontoura, 650
    INGRESSOS AQUI