Na coluna de outubro com os principais lançamentos musicais de artistas nacionais e internacionais LGBTQIA+, Fabiano Moreira* comenta uma leva de novidades que inclui os álbuns de Maria Beraldo e Charli xcx; os EPs de Aretuza Lovi e La Cruz; além dos singles de Lady Gaga, Frimes, Danny BondMarcos Sacramento, Hiran e Nina Oliveira.

Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist para não perder os próximos lançamentos.

Maria Beraldo – “Colinho”

Há seis anos, Maria Beraldo, 36 anos, mudava a forma de falar sobre a homossexualidade feminina com Cavala, seu belo álbum de estreia e saída do armário. Um tempo sem ter tanto a dizer e ocupada demais assinando a direção de peças de Felipe Hirsch (“Fim”, “Lázarus”, “Língua Brasileira”, “Autorretrato”, “Fantasmagoria” e “Av. Paulista”, que estreia em fevereiro), compondo trilhas para diversos longa-metragens e para o Balé da Cidade, ela volta a conjugar seu sexo no mundo com Colinho, com parcerias com Zélia Duncan, Ana Frango Elétrico e Negro Leo e um passeio por funk, samba, pop, jazz, folk e canção popular. Batemos um papo, por e-mail, para falar como o álbum parte de um assunto particular, a sua sexualidade, para ressoar o coletivo. “Vivemos em um sistema comandado pela lógica do capital, no qual o consumidor absoluto é o homem cis. É ele quem manda, é pra ele que as coisas são destinadas, é ele quem escolhe, é ele quem come, é ele quem possui. Ser lésbica é a recusa desse sistema, estruturalmente: não, não vou te dar de comer. Não vou viver pra você. Não quero o que você tem pra me dar. Não sou sua”, dispara, em papo comigo para a Sexta Sei.

Charli xcx – “Brat and it’s completely different but also still brat”

Charli xcx está dando aulas de cultura pop com a divulgação de brat, lançado em junho deste ano e desdobrado em mais dois volumes: Brat and it’s completely different but also still brat, que chegou em outubro; e Brat and it’s the same but there’s three more songs so it’s not, na sequência do lançamento. Em uma indústria ávida por lançamentos, essa é uma boa forma de manter a própria produção relevante em feats bem sacados que atraem ainda mais visibilidade, com colaboradores como Julian Casablancas, Bon Iver, The 1975, Shygirl, Ariana Grande e Caroline Polachek

La Cruz – “El Nene Vol. 1”

Quem deu a dica do reggaeton queer do venezuelano radicado em Madrid La Cruz foi o kingo carioca Dornelles. Desde então, comecei a acompanhar os clipes sexy do artista, que acaba de lançar a primeira parte do seu álbum de estreia, El Nene Vol 1, que ganhou clipe com a mulher trans não-binária e porto-riquenha Villano Antillano para “Privado”. Ganharam clipes também “Sahara”, que tem garotos rebolando com o calor do deserto simulado em um apartamento; tem a mesa posta por um lorão, em “Fancy”; e até o corpito brasileiro sem comparação, em “Easy Boy”. Ele contou à imprensa que o EP é dedicado à sua criança viada interior. Definitivamente, desafia o estabelecido e transforma a adversidade em empoderamento.

Aretuza Lovi – “Borogodó 2: Sob a Bênção do Sertão”

A drag queen Aretuza Lovi lança a primeira parte do seu quarto disco, Borogodó 2: Sob a Bênção do Sertão, dando continuidade à navegação pelos ritmos do Norte do Nordeste do país. “As bandas de forró sempre me fascinaram muito e ajudaram a criar minha identidade. Em ‘Borogodó’, eu pude colocar em prática essas inspirações e tudo que aprendi e absorvi de cultura desses artistas que sempre ouvi. Sempre amei essa cultura e agora estou também trazendo músicas e ritmos que eu amo e que marcaram a minha vida e uma geração”, conta a drag, que lançou uma versão forrozinha de “Sacrifice”, de Elton John, que virou “Vou pro bar”, feat com Klessinha a Baronesa. Em “Reboladão”, ela tem a participação da banda baiana Àttooxxá; e em “Tutti Frutti”, do Calcinha Preta.

Lady Gaga – “Disease”

Lady Gaga está como a nação “little monster” gosta no clipe de Halloween para “Disease”, servindo looks de terror no single que anuncia o seu próximo álbum, prevsto para fevereiro  e por ora apelidado de LG7. No mesmo dia, ela lançou também uma versão ao vivo de “Die With A Smile (Live in Las Vegas)”, com Bruno Mars. Com “Disease”, ela cravou seu nome no 12º lugar da parada Top 50 Global — degrau que demarcou também seu maior debut solo na plataforma. Isso tudo logo depois de lançar Harlequin, álbum inspirado em Harley Quinn, personagem do filme Coringa: Folia a Dois

Frimes – “Filme Trash”

“A música ‘Filme Trash’ é basicamente um roteiro inspirado nos filmes de terror e horror de baixo orçamento dos anos 2000, sem preocupação com continuidade, efeitos especiais camp e todos aqueles clichês que encontramos nesses filmes. A letra é quase narrada como se fosse uma cena de Todo Mundo Em Pânico ou a série Scream Queens, principais referências para a produção e composição”, me conta Frimes, pelo Whatsapp, sobre o seu lançamento de Halloween, que ganhou clipe dirigido pelo maranhense Lucas Sá. A música tem atmosfera densa com ritmos inspirados no witch house e no dark pop e foi feita especialmente para o Halloween. No clipe, Frimes é a final girl do filme, sendo perseguida por um serial killer mascarado interpretado por ela mesma. “Gravamos em um único dia, com uma equipe repleta de amigos em um surto criativo. O videoclipe é inspirado nos bastidores de uma gravação de uma cena de um filme de horror fake em que os erros de gravação e a cena de assassinato se misturam em desdobramentos de metalinguagem do próprio fazer fílmico”, conta Lucas.  

Danny Bond – “Travessuras ou Rolas Duras?”

Danny Bond também serviu Halloween lançando o single “Travessuras ou Rolas Duras?”, inspirado em um dos primeiros memes virais de sua carreira. A faixa fará parte da versão deluxe de seu último álbum, EPica 2, lançado no final de agosto. Produzido por PZZS, responsável pelo beat de seu último hit, “Cachorra Absurda”, com MC Naninha, Travessuras ou Rolas Duras?” é mais um exemplo do funk explícito e bem humorado característico de Danny Bond. A faixa mescla funk, phonk e eletrônico, aos moldes de “GET UP BITCH! shake ya ass”, de Anitta e Victoria.

Marcos Sacramento – “Voltei”

Uma das músicas mais bonitas e potentes lançadas em outubro certamente foi “Voltei”, canção de Baden Powell e Paulo César Pinheiro que antecipa o álbum Arco, do carioca Marcos Sacramento, 64 anos, que chega no dia 8 pela Biscoito Fino. Sacramento homenageia, com a canção e o clipe, o duo queer brasileiro Les Étoiles, formado por Luiz Antônio e Rolando Faria, que fez grande sucesso na Europa, especialmente na França, nas décadas de 1970 e 1980. “‘Voltei’ chegou aos meus ouvidos, pela primeira vez, na versão pungente do duo Les Étoiles, que são uma enorme referência pra mim, na música e na vida. Minha gravação é um tributo a esses dois artistas e suas interpretações e performances cheias de suingue, que fizeram os europeus rebolarem sem cerimônia”, pontua Sacramento. O álbum foi produzido pelo festejado Elisio Freitas, e conta com as participações de Kassin (baixo) e Marcelo Costa (bateria e percussões). Sacramento está em sua melhor forma. Que bom.

Hiran e Gabi Lins – “Miudinho”

O baiano Hiran se uniu à também baiana Gabi Lins para lançar a faixa Miudinho, que antecede seu próximo álbum, que chega em novembro, seu projeto mais solar e pop até hoje. A faixa veio acompanhada de clipe, já trazendo o tom romântico e descontraído que colore o novo disco. Miudinho é uma lovesong sensual e suingada que tem a cara do verão. Hiran é apadrinhado por Caetano Veloso e Paula Lavigne.

Nina Oliveira – “Essa Menina Tem”

Cantora e compositora bissexual vinda de Guarullhos, município da zona metropolitana de São Paulo, Nina Oliveira tem voz e afinação que desmancham em delícias na orelha, como mostra no terceiro single de sua gostosa era forrozeira, Essa menina tem, composição dela com produção musical de Paulo Novaes, que veio depois de Casa de Boneca e Feitiço. A artista fala abertamente nesta canção sobre um flerte que acontece entre duas mulheres. “A música é sobre um momento em que eu estava descobrindo minha bissexualidade. É uma história engraçada, porque me interessei por uma moça que parecia corresponder, mas no fim, nada aconteceu. Nessa dinâmica, percebi que sou muito diferente com cada gênero. Com homens, me sinto mais no controle, mas com mulheres, sou aquele clássico tipo bi que tem medo de mulher e acaba na mão delas”, conta Nina, rindo. Quando compôs a faixa, ela estava ouvindo muito Morena Tropicana, de Alceu Valença. “Cabelo de uma mata tão fechada”, foi a forma encontrada de descrever um black power exuberante. No visualizer safadinho, ela mostra o local de onde veio, geográfica e socialmente. “É uma periferia que já sofreu muitas desapropriações, mais da metade do bairro já deixou de existir, e me vi sem registros de como era esse local da minha infância, tão importante pra minha história”, desabafa. “Durante parte da minha infância e adolescência, trabalhei em um comércio de bairro, muito parecido com o que escolhemos como locação para esse visualizer. Esse comércio foi, por muitos anos, o sustento da minha família.”

 

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*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O GloboTribuna de MinasMix BrasilRG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, escreve na Tribuna de Minas; no Baixo Centro, fazendo a Sexta Sei; e aqui, na Híbrida


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