Com o aumento de registros nas últimas semanas, o Brasil chegou a 945 casos da mpox confirmados em 2024 e superou o total registrado ao longo de todo o ano passado, segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde.

Entre 1º de janeiro e 3 de setembro, o Brasil já teve 945 casos confirmados ou prováveus da mpox, um aumento de quase 11% em relação ao total do ano passado, quando o País acumulou 853 diagnósticos positivos para a doença.

No último dia 15, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que um surto de mpox na África representava uma “emergência sanitária global”, o primeiro alerta deste nível desde a pandemia da Covid-19. Desde junho, a região central do continente africano tem sofrido um aumento repentino e até então inédito de casos da doença, graças à cepa 1b do vírus, considerada uma variante mais grave e transmissível do vírus.

O Brasil ainda não tem registros de casos da mpox causados pela cepa 1b. A variante que circula por aqui é a cepa 2, responsável pelo primeiro surto global do vírus, em 2022.

Naquele o ano, o Brasil acumulou mais de 10 mil casos da mpox. Ainda hoje, somos o segundo país com mais registros da doença, atrás apenas dos Estados Unidos.

Os casos voltaram a aumentar no Brasil a partir do final de junho, segundo os dados do Ministério da Saúde. Médicos e pesquisadores que tratam a doença no país também relataram à Híbrida que houve um aumento de casos da mpox nas últimas semanas, mas nada que se compare ao nível registrado em 2022.

São Paulo é o estado que concentra mais de metade (51,4%) dos casos de mpox confirmados em 2024. Quase 95% dos pacientes no Brasil são homens, com idade entre 18 e 35 anos.

Total de casos da mpox registrados no Brasil, por semana epidemiológica (Fonte: Ministério da Saúde)
Total de casos da mpox registrados no Brasil, por semana epidemiológica (Fonte: Ministério da Saúde)

Desde o primeiro surto a mpox há dois anos, a maioria dos casos tem se concentrado entre “homens que fazem sexo com homens” e têm múltiplos parceiros, segundo a definição da OMS. A principal forma de transmissão tem sido por contato sexual.

“Essa é uma população que está mais associada aos casos, mas precisamos ter cuidado em não estigmatizar. Isso aumenta as chances de violência, de intolerância, e também afasta a população-chave das ações de saúde”, observou o infectologista André Citroni Palma, que trabalha em uma clínica particular de São Paulo focada no atendimento ao público LGBTQIA+. Ele reforça que é importante não pensar em “público de risco”, mas “prática de risco”. “O vírus não vê se a pessoa é gay ou heterossexual.”

“É muito importante trabalhar a própria percepção da comunidade”, apontou o infectologista Rafael Galliez, à frente do Núcleo de Enfretamento e Estudos de Doenças Infecciosas Emergentes e Reemergentes (NEEDIER) da UFRJ.

Ele citou comportamentos de risco como o uso dos aplicativos de encontro, festas de sexo e o “chemsex”, prática de transar sob efeito de drogas que tem crescido nos últimos anos principalmente nos centros urbanos. “Precisamos olhar também a população LGBTQIA+ periférica”, frisa.

Mpox é “emergência de saúde global” 

O surto atual de mpox começou em maio deste ano, na África do Sul. No mês de junho, a República Democrática do Congo, país da região Central do continente, se tornou o epicentro da doença, com 96% de casos confirmados da cepa 1b, uma variante do vírus considerada “mais grave e transmissível”.

Essa é a segunda vez que a OMS emite seu nível mais alto de alerta para a mpox desde 2022, quando os primeiros casos surgiram também na África e rapidamente se espalharam pelo mundo entre junho e setembro.

Pela gravidade da situação atual, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, também emitiu um comunicado solicitando aos fabricantes de vacinas contra a doença que submetessem novas doses para aprovação de uso em caráter emergencial, uma vez que elas são escassas em todo o mundo.

“Este é, sim, um motivo de alerta, monitoramento e preocupação. Contudo, é importante reforçar que não há motivo para alarme”, afirmou a ministra da Saúde Nísia Trindade há duas semanas, quando houve o anúncio da OMS. “Devemos permanecer vigilantes e seguir as recomendações disponíveis para lidar com essa emergência de importância internacional, considerando a presença do vírus no Brasil.”

Como se transmite a mpox?

A varíola dos macacos é transmitida por contato próximo e prolongado com o vírus. Isso pode acontecer através da saliva, de gotículas respiratórias ou das lesões de pele. Partilhar itens pessoais com pessoas infectadas também pode aumentar a possibilidade de disseminação da doença.

Como começa a mpox? Quais os principais sintomas?

No quadro clínico típico, a pessoa começa a ter febre, dor de cabeça, na garganta e nas costas 2 a 4 semanas após se infectar com o vírus. Dias depois, começam a aparecer lesões de pele, que podem ser apenas uma ou várias, parecidas com a catapora.

No entanto, existem variações. Algumas pessoas têm lesão de pele, mas não têm febre. Outras têm febre, mas não tem gânglio aumentado. E há também quem manifeste apenas uma lesão específica.

Existe vacina disponível no Brasil? Todos podem se vacinar?

Segundo a OMS, apenas pessoas que tiveram contato próximo com um paciente infectado ou que integram algum grupo de alto risco devem ser consideradas para a vacinação neste momento.

No Brasil, antes da confirmação da chegada da nova cepa, o Ministério da Saúde informou que negociava com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) a aquisição emergencial de 25 mil doses do imunizante.

A mpox tem cura? Como é o tratamento?

Na enorme maioria das vezes, a mpox tem uma evolução benigna e a pessoa melhora sozinha dentro de alguns dias ou semanas. As lesões cicatrizam e ela está curada. Quando alguém está com mpox, os remédios indicados costuam ser sintomáticos para tratar a febre, a dor de cabeça ou lesões, como antitérmicos e analgésicos.