Pessoas negras são as principais vítimas da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) no Brasil, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde no início desta semana. O grupo, que é formado por pretos e pardos, representa 60,5% de todas as mortes causadas pela doença entre 2011 e 2021, um aumento de oito pontos percentuais durante o período analisado.

O total dos casos de Aids entre a população negra também aumentou 12 pontos percentuais, saltando de 50,3% para 62,3% no período. A maior incidência foi entre pessoas pardas, que tiveram um crescimento de 51% e representam a maioria absoluta das notificações para a doença, enquanto as pretas registraram aumento de 11,3% durante o mesmo intervalo.

A tendência se repete na proporção de óbitos causados pela Aids: 46,5% das mortes registradas foram entre pardos, enquanto pretos correspondem a 14%.

A incidência da Aids entre jovens negros de até 14 anos é ainda maior, representando 70% de todos os casos notificados pelo Sistema Único de Saúde (SUS); na faixa etária dos 15 aos 29 anos, essa proporção chega a 63,7%.

Os dados fazem parte do 2º Boletim Epidemiológico da População Negra, um levantamento feito pelo Ministério da Saúde e que não era atualizado desde 2015. Segundo o governo federal, o documento tem a finalidade de “guiar políticas públicas de combate ao racismo, redução das desigualdades e promoção da saúde ao longo dos próximos anos”, uma vez que infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) como Aids, sífilis e hepatites virais são consideradas socialmente determinadas.

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Assim, os números referentes à sífilis mostram um panorama similar ao da Aids. Se a proporção de casos entre pretos e pardos era de 50,2% em 2011, dez anos depois essa porcentagem saltou para 59%. Em relação às hepatites virais, os negros também são os principais atingidos e representam 55% dos casos de hepatite B e 47% dos de hepatite C.

Naturalmente, pretos e pardos compõem a maior parte da população brasileira, mas o estudo divulgado mostra que o racismo é um determinante social de saúde. A cor da pele define quem estará mais vulnerável às ISTs no nosso país.

Uma medida a curto prazo anunciada pelo Ministério da Saúde é implementar uma nova forma de diagnóstico no SUS, feita através de um teste rápido que será capaz de identificar, ao mesmo tempo, se o paciente foi infectado por sífilis e HIV. A tecnologia é inédita na rede pública e começará a ser implementada ainda este ano, segundo a pasta.

“Algumas políticas já estão em andamento, outras em recuperação. A saúde da população negra é uma prioridade do governo federal, que compreende os determinantes sociais que causam muitos obstáculos de acesso à saúde desta população”, afirma Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.

Ainda de acordo com o governo, o objetivo é eliminar ou controlar, até 2030, um total de 14 doenças que atingem populações de maior vulnerabilidade social, incluindo as principais infecções sexualmente transmissíveis.