Aos gritos de fãs e sob os flashes dos fotógrafos. Foi assim a passagem do elenco de The Idol na última segunda-feira (22) pelo tapete vermelho que leva ao Théâtre Lumière, reservado às grandes estreias do Festival de Cannes. Escrita por Sam Levinson (Euphoria), Reza Fahim e pelo cantor Abel “The Weeknd” Tesfaye, a série da HBO estrelada por Lily-Rose Depp dividiu opiniões na riviera francesa.

Certamente, não é das tarefas mais fáceis analisar a obra, pois apenas dois dos cinco episódios foram exibidos no festival. “Tem muitas cenas de sexo. É extremamente visual. Penso que a repercussão será bastante controversa”, diz a jornalista sueca Helena Lindblad, na saída do cinema.

Nos minutos iniciais do primeiro episódio, vemos um ensaio fotográfico de Jocelyn (Depp), que está se preparando para seu retorno aos palcos e às paradas de sucesso após um colapso psicológico. Durante a cena, ela se deixa fotografar com o seio à mostra, o que gera uma discussão entre os presentes. A cantora finaliza o bate-boca com “o corpo é meu” e faz o ensaio com o seio desnudo. Ela é uma estrela pop que mora em sua mansão e vive cercada por seu empresário, interpretado por Hank Azaria, e por uma figurona da indústria musical magistralmente interpretada por Jane Adams.

A ação na série começa a tomar corpo quando a foto de uma relação sexual da cantora se torna viral na internet e os personagens ao seu redor escondem o fato, com medo que ela tenha uma crise psicológica. “A série aparenta ter um elenco diverso com pessoas negras, gordas e trans. Mas, indo além das aparências, os personagens sugerem uma transgressão que não se desenvolve”, comenta a jornalista italiana Alessandra de Tommasi.

O trabalho propõe ser uma provocação também à indústria de Hollywood, traçando paralelos com a indústria musical. The Weeknd é Tedros, o dono de uma casa noturna e o guru de autoajuda para jovens artistas. É ele quem protagoniza as cenas de sexo nos episódios exibidos em Cannes. A linha é tênue entre as polêmicas da ficção e da realidade. “É difícil ter uma conexão com a protagonista. Vejo a vulnerabilidade da atriz, mas não da personagem”, analisa Lindblad.

Originalmente, a cineasta Amy Seimetz dirigiu The Idol até abril de 2022, quando a ideia ainda concebia seis episódios. Segundo a revista Rolling Stone, a diretora iniciou o trabalho com roteiros incompletos e sem a menor ideia de como os episódios seriam finalizados. Após um desentendimento com The Weeknd, ela deixou a direção. A função foi assumida por Levinson, que descartou os quatro episódios filmados pela diretora. A perda de material é calculada em aproximadamente US$ 75 milhões (R$ 372 milhões).

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Até então, a série continha a perspectiva feminina de Seimetz. Se The Weeknd não concordava com a diretora americana por esta razão, isso nunca foi dito de fato. Mas ao assistir aos episódios de The Idol, é perceptível que a narrativa parte de um olhar masculino.

Nos primeiros episódios de 55 minutos, vemos cenas de nudez das atrizes com seios e virilhas à mostra, além de pouca roupa. Já os personagens masculinos estão sempre com o torso coberto, mesmo durante o sexo. Há quem diga em Cannes que The Idol é um soft porn, mas ainda teremos mais três episódios pela frente para tirar as conclusões.

The Idol chega ao catálogo da HBOMax no próximo dia 4 de junho. O elenco ainda tem nomes como Jennie (Blackpink), o cantor Troye Sivan, Daniel Levy, a atriz trans Hari Nef e o produtor Mike Dean.