Nascida Johanna Petronella Vrugt no dia 31 de Janeiro de 1905, em Roterdão, Holanda, Anna Blaman é o pseudônimo da autora que se tornou referência na emancipação das mulheres lésbicas holandesas durante a década de 1950, com suas discussões pertinentes voltadas para a solidão, a dependência emocional e, especialmente, sua ferrenha crítica à instituição matrimonial.

Filha de Pieter Jacob Vrugt e Johanna Karolina Wessels, Blaman entendeu já aos 16 anos de idade que se sentia atraída por outras mulheres, mas pareceu não se perturbar com esta descoberta. Naquela época, conheceu a mulher que se tornou o amor de sua vida, quando foi diagnosticada com diversas doenças crônicas: a enfermeira Alie Blosch.

Blosch cuidou de Blaman durante um período extremamente difícil de sua vida e especula-se que o pseudônimo da autora tenha sido inspirado nela. Esse amor, no entanto, acabou sendo platônico já que a enfermeira se apaixonou por um coreógrafo homem. Mesmo assim, elas continuaram amigas.

Alie Blosch e Anna Blaman [Foto: Reprodução]
Alie Blosch e Anna Blaman [Foto: Reprodução]
Logo após o entendimento como lésbica, Blaman tentou carreira como professora de francês – algo que não daria certo por conta de sua saúde imprevisível. Essa experiência fracassada, de alguma maneira, acabou a levando ao mundo da escrita – onde, enfim, obteve maior sucesso.

Inicialmente, publicou poesias nas revistas Criterium e Helikon. Em seguida, lançou seu primeiro romance, Vrouw en vriend [Mulher e Amiga, em tradução livre], em 1941. Sete anos depois, escreveu Eenzaam avontuur [Aventura Solitária]. Já nessas primeiras obras, Blaman foi bastante franca sobre duas questões que lhe importavam: sua sexualidade e seu desgosto pela instituição do casamento.

Em seus romances, ela discutiu abertamente a experiência queer e o casamento, enquanto defendia ideias como independência e satisfação sexual para mulheres. O tema mais recorrente em seus trabalhos, entretanto, foi a solidão. Ela foi criticada por mesclar histórias de isolamento com personagens LGBTI+, apesar de utilizar o exílio de forma positiva, criticando a dependência social em seus diversos âmbitos.

Blaman acompanhada de sua amada moto [Foto: Reprodução]
Blaman acompanhada de sua amada moto [Foto: Reprodução]
À época, nas raras ocasiões em que as holandesas conseguiam entrar para o mercado de trabalho, mulheres recebiam bem menos do que os homens. Geralmente, não conseguiam o suficiente para viverem sozinhas e serem independentes. E, mesmo que decidissem se casar, não poderiam mais manter seus empregos. Blaman cresceu tendo noção desta situação e rejeitando-a completamente.

Seguindo seus ideais, ela acabou nunca se casando e tornou essa decisão claramente pública. Na Holanda dos anos 1950, Blaman – com sua crítica ferrenha ao casamento, sua busca pela independência, o uso de roupas tradicionalmente masculinas e a companhia da fiel moto -, acabou se tornando a imagem perfeita de uma lésbica para muitas pessoas.

Johanna Petronella Vrugt/Anna Blaman faleceu aos 55 anos de idade, em 1960, por causa de uma embolia. Cinco anos depois, o prêmio Anna Blaman Prijs foi criado, dedicado a homenagear “aqueles cujos trabalhos têm conexão importante com a cidade de Roterdão”.

Em 1974, seu último livro, “De verliezers” (“Os Perdedores“), foi publicado, e focou na história de pessoas marginalizadas pela sociedade. Mais de cinco décadas após a morte da autora, um monumento em sua homenagem foi inaugurado em sua cidade natal. Criada pelas artistas Maria Roosen e Arild Veld, a escultura é uma réplica fiel da moto que Blaman utilizava com frequência.

moto que Anna Blaman usava com frequência foi transformada em monumento [Foto: Joey Johannsen/Flickr/Reprodução]
A moto que Anna Blaman usava com frequência foi transformada em monumento [Foto: Joey Johannsen/Flickr/Reprodução]