A ativista transgênero Lorena Borjas resistiu e sobreviveu ao tráfico de pessoas e à exploração sexual. Em 30 de março deste ano, entretanto, a “mãe” das transexuais latina na comunidade do Queens, em Nova York, se tornou uma das vítimas do novo coronavírus, e aqui nós vamos relembrar sua trajetória, mesmo em meio à pandemia da Covid-19.

Aos 60 anos, Lorena ganhou o título de “mãe” da comunidade transgênero e latina no bairro do Queens, em Nova York, após mais de três décadas de trabalhos prestados à comunidade LGBTI+ local, incluindo a luta pelo direito das trabalhadoras sexuais, dos imigrantes e das pessoas soropositivas. Ela nasceu na em Vera Cruz, no México, em 1960, e aos 20 anos imigrou para os Estados Unidos.

Foi apenas em 2017 que ela conseguiu tornar-se oficialmente uma cidadã americana, em um tempo relativamente curto antes de sua morte. Durante seus primeiros meses no país, ela chegou a morar em um alojamento com 20 outras trabalhadoras sexuais para conseguir financiar sua transição de gênero.

Sob as rigorosas leis norte-americanas dos anos 1990, Lorena foi presa algumas vezes enquanto trabalhava nas ruas como trabalhadora sexual. Duas dessas acusações foram por crimes dos quais, na verdade, ela foi uma vítima: tráfico de pessoas e exploração sexual. Ao garantir-lhe o green card, Andrew Cuomo, atual governador de Nova York, também perdoou oficialmente a ativista por essas condenações.

 

Parlamentar Alexandria Ocasio-Cortez homenageia Lorena Borjas e divulga sua iniciativa de arrecadação de verbas

A partir de 1995, Lorena passou a se dedicar inteiramente ao ativismo, apesar de já ter trabalhado em prol de sua comunidade desde que pisou nos EUA. Durante suas atividades, ela era reconhecida por sua compaixão, seu amor e sua união. Também era famosa por andar com uma bolsa de rodinhas, na qual carregava todos os instrumentos que poderiam ser necessários para sua jornada diária.

Dentre suas muitas funções, Lorena distribuía preservativos que ela mesma retirava na Secretaria de Saúde local e entregava às profissionais de sexo. Ela também abastecia com seringas e agulhas limpas as mulheres transexuais que estavam fazendo tratamento hormonal e as levava para exames regulares de HIV/Aids.

Em entrevista ao The New York Times, Cecilia Gentili, uma ativista amiga e seguidora de Lorena, conta: “O respeito e a dignidade que ela deu à nossa luta foram o máximo empoderamento. Ela nos levou a brilhar autenticamente, a tornar-se uma insubordinação imparável, um grito de subversão que diz que estou aqui e também mereço felicidade. Alguma magia rara ela nos deixou”.

Poucos dias antes de falecer, o Lorena Borjas Community Fund , fundo criado por ela para pagar a fiança de profissionais do sexo detidas pela polícia, lançou uma campanha de arrecadação de verbas para garantir a subsistência de pessoas transgênero em vulnerabilidade social durante a pandemia. Até o momento, mais de U$ 30 mil já foram levantados pela instituição.

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