Demi Lovato subiu pontualmente às 21h30 ao palco do Espaço Unimed, em São Paulo, para o segundo show da turnê Holy Fvck no Brasil. Divulgando o disco de mesmo nome, lançado há menos de duas semanas, a estrela que cresceu nas telas da Disney mostrou que sua veio pop rock (ou apenas rock, dependendo de a quem você perguntar) pulsa mais forte do que nunca.

Não que Demi seja estranha a esse gênero musical. Na verdade, está longe disso: seus primeiros sucessos e boa parte de sua discografia são recheados de guitarras e com métricas de rock, assim como sua estética sempre esteve mais próxima disso do que a de uma popstar tradicional, com raras exceções ao longo do ano.

Na setlist do show de Holy Fvck, a artista inclusive ignora muitas das baladas dramáticas do seu catálogo – nada de Tell Me You Love Me, Stone Cold, Dancing with the Devil e Anyone. Mas isso não significa que os grandes momentos vocais deixam de acontecer, é só que agora eles vêm acompanhados por guitarras e bateria ao invés de um piano.

Das 19 músicas apresentadas nessa turnê, que ainda passa em Belo Horizonte na sexta-feira (2), antes de invadir o Palco Mundo do Rock In Rio no próximo domingo (4), nove são de Holy Fvck. Sucessos como “Sorry Not Sorry” e o hino bissexual “Cool For The Summer”, que fecha o show, foram gravadas originalmente em formato pop chiclete para as pistas de dança e agora ganham uma releitura com produção de rock e bate-cabelo de metaleira para se adequarem à nova fase da artista.

A tarefa de Demi era difícil: engajar o público em um show de músicas majoritariamente quase inéditas até duas semanas atrás. Mas em 2015, quando veio ao Brasil pela primeira para se apresentar em um evento fechado da Vevo para 400 convidados, ela conseguiu fazer exatamente isso com o então fresquíssimo Confident.

E apesar de algumas dessas novas faixas terem empolgado menos o público do que as antigas, a maioria delas era cantada aos berros, com destaque para “4 Ever 4 Me”, exatamente uma… balada, também sobre superar obstáculos e aprender a se valorizar. Até a própria Demi se surpreendeu: “Vocês estão cantando palavra por palavra! Isso é incrível!”.

A troca da artista com o público brasileiro rendeu bons momentos, como o já mandatório acenar da bandeira verde e amarela, além de um vai e vem entre Demi e a plateia: “Vocês que são ‘gostosa'”, riu a artista. O momento foi logo antes de ela dedicar “City Of Angels”, sobre o desejo de transar em todos os pontos turísticos de Los Angeles, aos “fãs excitados”: “This one is for my horny fans!”, avisou.


Além do apoio no próprio repertório, Demi vende a sua faceta mais roqueira com a presença de Nita Strauss, que antes disso trabalhava como guitarrista do Alice Cooper, e o auxílio de dois covers: “Iris”, clássico dos Goo Goo Dolls pra trilha de Cidade dos Anjos, e “La La”, outro standard do pop rock produzido nos anos 2000 e originalmente de Ashlee Simpson.

Curiosamente, Ashlee namorou na época de “La La” com Wilmer Valderrama, hoje ex-noivo de Demi Lovato e a inspiração por trás de muitas das músicas em seus quatro últimos discos. Entre as mais recentes, “29” é declaradamente para o ator e fala sobre a diferença de idade entre o casal, ao mesmo tempo em que alude ao conceito de “consentimento” para uma adolescente de 19 anos.

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“Queria agradecer vocês porque vi que essa música viralizou no TikTok (acima) e muitas pessoas têm compartilhado seus próprios relatos parecidos. É só por isso que a gravei e ela está no mundo”, disse Demi antes de cantar versos como “você é um colecionador” e “todos meus problemas paternos e essa merda continua”.

Assim como aconteceu na apresentação de Rosalía em São Paulo e, a essa altura, já se tornou recorrente em shows e festivais internacionais, o público gritou por uns bons dois minutos “Fora, Bolsonaro”. O momento veio no intervalo antes do bis com “My Happy Ending” e não teve a participação de Demi, mas nem por isso foi menos estrondoso.

Outros pontos altos do show foram os coros e celulares erguidos da plateia em “Skyscraper” e “Don’t Forget”, além da empolgação de Demi com as novas “Freak” e “Eat Me”. Aos 30 anos, a artista tem vida e carreiras que rendem muitas músicas, estéticas e personalidade no futuro, mas essa parece ser a sua mais autêntica e vulnerável até aqui.