Uma das figuras mais importantes da comunidade LGBTQIA+ do Brasil, Indianarae Siqueira se fez presente em mais uma Parada do Orgulho LGBTI+ no Rio de Janeiro no último domingo (19). Este é um compromisso do qual elu não abre mão, desde que esteve na primeira edição da marcha mais tradicional do país, em junho de 1995.

Aos 52 anos, dos quais mais de 30 foram dedicados à militância, Indianarae faz coro ao tema “O Amor, a Cidadania e a Luta LGBTI+ Jamais Vão Recuar”, para que a comunidade não perca direitos importantes conquistados arduamente durante décadas. 

“O que nós conquistamos hoje, o direito à família, o direito ao casamento, o direito à nossa existência, isso tudo já nos foi dado. Muita gente morreu por isso, muita gente sofreu por isso. Vamos continuar lutando, não recuaremos até que tenhamos um país livre de opressões, livre de sofrimento”, disse durante uma conversa com a Híbrida

“Infelizmente, estamos no país que mais mata pessoas LGBTQIAPN+ no mundo, e isso precisa parar. Nossa luta não recua enquanto todas as vidas forem respeitadas e a gente tenha paz”, completou. “Se a gente não alcançar isso na nossa geração, espero que as próximas possam herdar um planeta livre de opressões.”

O ativismo de Indianarae é lembrado pelo seu trabalho com a Casa Nem, que acolhe pessoas trans e travestis e foi fundada por elu em 2016, além de presidir o grupo TransRevolução. Ser uma pessoa pública e de tanta relevância fez com que Indianarae se tornasse alvo constante de ataques e ameaças de morte nas redes sociais. 

“A gente sabe da responsabilidade de tudo que a gente fala, de todas nossas posições. Recebemos muito ódio quando nos tornamos uma pessoa pública”, refletiu, sem deixar de ver também o lado positivo dessa exposição. “Você recebe também uma quantidade muito grande de amor, e acho que isso nos move a seguir em frente. Ser uma pessoa pública da comunidade mais atacada no mundo, que a todo momento sofre com ondas de conservadorismo que querem acabar com essa comunidade, mostra que somos muito fortes.”

Desde que a sigla LGBT foi incluída na Parada, ainda em 2008, outras letras foram aos poucos acrescentadas para representar diferentes grupos de orientações sexuais e identidades de gênero. Atualmente, a sigla completa seria LGBTQQICAAPF2K+, o que tem gerado algumas críticas e também memes quanto à real necessidade de tantos caracteres e divisões dentro de um espectro que parece infinito. Mas para Indianarae, a questão principal é que todos e todes devem ser acolhidos pela comunidade. 

Indianarae em frente à força policial, resistindo contra a remoção em meio à pandemia, horas antes do despejo (Foto: Pokira | Revista Híbrida)
Indianarae em frente à força policial, resistindo contra a remoção em meio à pandemia, horas antes do despejo (Foto: Pokira | Revista Híbrida)

“Quero frisar que cada LGBTQIAPN+ é importante. Cada pessoa não-binária, cada lésbica, cada intersexo, cada pessoa trans, cada travesti, assexual, pansexual e todas as outras identidades e orientações que foram surgindo, que sejam integradas”, avalia. “Que a gente possa dar força e esperança a quem tá chegando, para que a gente possa não mais sobreviver, mas viver. Não é sobre uma pessoa, mas sobre toda a nossa comunidade que precisa ainda lutar pelo básico. A gente não quer mais só o básico, a gente quer tudo.”

A militância de Indianarae também vai além da pauta LGBTQIA+. A paranaense radicada no Rio ressalta seu apoio à Palestina, em meio aos conflitos territoriais com Israel

“Que a Palestina possa ter seu espaço, que Israel possa ter seu espaço, sem mais muros. Que a gente não veja mais países transformados em prisões a céu aberto. Então, se querem a devolução dos reféns de Israel, e é justo que queiram isso, Israel tem que lembrar de devolver cinco mil prisioneiros palestinos que estão presos sem nenhum julgamento, sem nenhuma condenação. Então precisamos lembrar de todas as lutas, e usar nossa pauta para lutar contra as atrocidades que estão sendo feitas contra o povo palestino”, completou.

LEIA TAMBÉM: