Depois de ter participado da última edição do “Show dos Famosos”, no Domingão do Faustão, onde encarnou personagens que vão de Britney Spears a Oswaldo Montenegro, Hugo Bonemer tem se mantido ocupado nos últimos meses. Ao lado da família Schurmann, que inspirou o filme “Pequeno Segredo” (2016), ele tem percorrido o litoral brasileiro para recolher plástico dos oceanos e lutar pela preservação do meio ambiente, uma das principais bandeiras levantadas pelo ator.
Mas, para além da causa ambiental, Hugo, que no ano passado se assumiu publicamente gay ao falar sobre o relacionamento com o também ator Conrad Helt, também tem usado sua plataforma para defender o movimento LGBTQ. Através das redes sociais, ele aborda inclusão e conscientização, partindo da sua própria história pessoal para se conectar com seus mais de 300 mil seguidores.
Uma das principais figuras na nova leva do teatro musical brasileiro, tendo estrelado montagens como “Rock In Rio – O Musical” e “Ayrton Senna – O Musical”,. onde deu vida ao maior piloto do país, Hugo também coleciona dublagens importantes no currículo – é ele quem dá voz a Freddie Mercury, na versão em português de “Bohemian Rhapsody” (2018). Fora da ribalta, Hugo também já particvipou de novelas que vão de“Malhação” a “A Lei do Amor”, no horário nobre.
Em entrevista exclusiva à Híbrida, Hugo Bonemer conta como tem sido o último ano fora do armário, as mudanças que isso acarretou (ou não) na vida profissional e como foi encarnar a lendária senhorita Britney Spears em rede nacional. Confira:
H: Em uma das entrevistas que você deu quando se assumiu gay, você disse que já chegou a ser homofóbico e achar que tinha algo de errado com você. O que te ajudou a extrapolar esse pensamento para se aceitar? E que idade mais ou menos você tinha quando começou a perceber que era “diferente” e, depois, ao se assumir como tal?
HB: Fazer terapia e me investigar me ajudou a entender que eu achava que lutava contra os outros, mas era contra mim mesmo. Sempre soube que nasci gay. Só me disseram que era algo ruim e eu decidi que precisava mentir.
H: Durante o Show dos Famosos, você homenageou vários artistas, dentre eles Britney Spears e Amy Winehouse. No caso da Britney, sentiu algum nervosismo por estar caracterizado como uma mulher e numa performance mais sensual?
HB: Me senti super nervoso, porque não estimulei ainda o suficiente o meu lado feminino. Embora saiba dançar dentro dos espetáculos de teatro musical, me sinto super travado pra danças que usem o quadril.
H: Você tem passado bastante tempo nas últimas semanas se dedicando à limpeza dos oceanos com a família Schurmann. O que te motivou a prestar mais atenção em questões ambientais?
HB: O desafio que a Fernanda Cortez me propôs, de usar uma caneca e contar quantos copos de plástico eu teria usado. Foi assustador. Depois vi documentários e assumi a responsabilidade por destruir o planeta e minha própria saúde.
H: Você também se mostrou bastante favorável à criminalização da LGBTfobia pelo STF. Como você acha que essa decisão pode ajudar outros LGBTs, levando em consideração o governo que está em vigor no país?
HB: Fazer com que a sociedade entenda que ela comete um crime estrutural contra LGBTs através da legislação é um passo muito importante para a saúde mental de quem nasce LGBT+. O homem tem a mesma quantidade de costelas que a mulher, a terra é uma esfera e a ciência moderna aponta a sexualidade como definida antes do nascimento, por motivos biológicos e genéticos.
Vamos deixar a espiritualidade cumprir seu papel de nos trazer o pertencimento do todo e a proteção de Deus, e deixar que as pessoa sejam felizes como nasceram?
H: Você tem mais de 300 mil seguidores no Instagram. Penso que, com a exposição, inevitavelmente alguém deva te atacar vez ou outra por sua orientação sexual. Como você lida com esse tipo de ataque? Sente que é uma responsabilidade usar sua plataforma para falar sobre esses temas e tentar conscientizar as pessoas?
HB: Pra boa parte dos ataques, respondo “não consigo acompanhar suas fantasias”. Porque geralmente vem de pessoas extremamente curiosas de como eu me comporto na cama. Não é minha responsabilidade conscientizar pessoas. A função do artista não é a de influenciar ou de trazer respostas, mas sim a de fazer mais perguntas.
H: Desde que se assumiu, sentiu algum impacto, positivo ou negativo, na sua carreira?
HB: Não sei avaliar ainda. Continuei trabalhando em coisas para as quais já tinha sido contratado, (exceto o Faustão). Não acredito que alguém vá assumir que deixou de me contratar por esse motivo, todo mundo sabe que seria um crime se dissesse. Eu diria que, se a pessoa se sentir feliz assim, siga sua vida como quiser. Mas se sentir um aperto no peito, e quiser sentir o prazer de ter a liberdade de segurar a mão de quem ama na rua, então se joga. Não tem hora nem momento certo.