Poucas horas após a manifestação que lotou a Cinelândia com milhares de pessoas protestando a execução de Marielle Franco na última quinta (15), o Parque Lage também se tornou palco para homenagens à vereadora durante o show que Caetano Veloso fez em prol da “Queermuseu”. O evento, que também contou com um leilão para angariar fundos para a campanha em parceria com a Benfeitoria, arrecadou mais de R$300 mil apenas em sua primeira noite e já garantiu a vinda da exposição para o Rio de Janeiro, que deve ser lançada em junho.
Organizado nas Cavalariças do Parque Lage, onde a “Queermuseu” ficará exposta, o leilão reuniu 81 peças de artistas como Adriana Varejão, Anna Bella Geiger e Efraim Almeida, cuja obra “Pouso 3” foi vendida por mais de R$40 mil. Rafael Alonso, que também doou uma de suas telas para a ocasião, comentou a importância da exposição para o atual momento de censura e conservadorismo no país: “A questão mais importante é em torno da existência de exposições cujos temas talvez não sejam tão ‘palatáveis’ para uma parcela da população. Nesse momento, precisamos colocar essa discussão em pauta, porque deve ser possível fazer essas exposições. O debate vai muito além das obras que estarão aqui, mas sim da possibilidade de continuarmos pensando criticamente no Brasil”.
O artista plástico e compositor Cabelo também comentou com a Híbrida sobre o significado simbólico não só da exposição, mas do fato de elas acontecer graças ao apoio do público, através do financiamento coletivo. “Devido a todos esses acontecimentos políticos, no Brasil e no Rio, é importante os artistas se manifestarem contra a onda de fascismo que quer chegar com força, mas que nós vamos combater de frente. Temos que tirar força de acontecimentos como o assassinato da Marielle, para respondermos à altura e de cabeça erguida”.
Por volta das 22h30, em torno da piscina do Parque Lage, Caetano Veloso deu início ao seu show com a música “Milagre do Povo”, composta para Jorge Amado. “O tom da nossa celebração de resistência mudou, então quero abrir com essa música que diz muito sobre o nosso país e a incapacidade do Brasil de superar a escravidão”, declarou para a plateia.
Caê ainda chamou ao palco Maria Gadú, que abriu sua participação com uma versão de “Triste, louca ou má”, de Franciso El Hombre, e Marisa Monte. Emocionada, Gadú também puxou gritos de resistência de “Marielle, Presente!”, que foram respondidos pelo público com punhos para o alto e outros coros de “Fora Temer”, replicados novamente durante a apresentação dos dois em“Odeio”.
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Com ingressos a R$500 (inteira) e R$250 (meia), o show ainda conseguiu assegurar seu caráter democrático graças a um convite de Caetano postado em suas redes sociais, no qual chamou os manifestantes da Cinelândia para se unirem a ele durante a apresentação. Um grupo com mais de 20 jovens chegou ao local logo após a manifestação e recebeu da própria equipe do artista o aval para entrarem no espaço e participarem do evento.
Ao fim do evento, a piscina, coberta por bolas de plástico, acabou servindo de alívio para o calor carioca e foi invadida pelos convidados, dentre eles Sophie Charlotte e Daniel de Oliveira, que também não resistiram à brincadeira. De repente, a frase que Caetano soltou durante o show fez ainda mais sentido: “Tudo isto acontecendo nesta cidade. Como pode?” Bom, pelo menos naquela noite, nós vencemos: assim como tentaram calar a “Queermuseu” em vão, pelo que se viu no Parque Lage e tem-se visto desde a última semana, a voz de Marielle também continuará ecoando.
Leia a matéria especial sobre a “Queermuseu” na nossa edição #2 ORGULHO