Na noite da última quarta-feira (12/09), o público da New York Fashion Week testemunhou o primeiro desfile da SavagexFenty, a nova empreitada de Rihanna no mundo da moda (e, por que não, dos negócios), mais especificamente no ramo de lingeries. Mas como estamos falando da maior bad gal dos últimos anos, claro que todo o conceito de Erva Daninha – especificamente a Poison Ivy vivida por Uma Thurman em“Batman & Robyn” (1997) – desenvolvido por ela para a apresentação ultrapassou o que se espera de uma marca tradicional da área: aqui, modelos negras, plus size (de verdade, não aquelas que usam 38 e têm o corpo escultural), carecas, grávidas, asiáticas e diversas se uniram para mostrar que, mais uma vez, a popstar estava prestes a ressignificar o que entendemos por moda, beleza e sexualidade.
Pensar em roupa íntima, ainda mais no emaranhado da indústria da moda, pode remeter, mesmo para alguém mais consciente, àquele endeusado “corpo sarado”, que a mídia por muito propagou – e ainda propaga! – como o “corpo ideal do verão”. Decáda após década, nos deparamos com um novo biótipo ideal estabelecido – mas sem jamais deixar de cumprir o ideário de magreza -, espalhado à exaustão por editoriais de revistas do ramo aos já cansativos desfiles anuais da Victoria’s Secret. É raro encontrarmos uma exceção que pareça verdadeiramente autêntica à regra.
Consciente disso, Rihanna têm apostado forte no mundo das tendências, mas sob uma nova óptica. Mesmo que esta direção fashion não seja exatamente novidade em sua carreira tão diversa (afinal, a cantora/atriz/empresária já assinou uma coleção para a Puma há não muitos anos), desta vez o ícone de Barbados parece ter ido mais além: inicialmente com sua própria linha de cosméticos e, agora, com uma marca de lingerie feita para todos os tamanhos e gostos.
Desde que o catálogo foi divulgado na loja virtual da marca, junto às fotos promocionais que traziam uma Rihanna sedutora e confiante, o que mais despertou a atenção dos consumidores e curiosos no portfólio da SavagexFenty – além da variedade de cores e tamanhos que iam do PP ao 3XG – foi a escolha das modelos para expor os produtos à venda. Nas fotos da marca de Robyn, sai o torso esculpido para poder dar vazão à diversidade, sem nunca perder a autoconfiança.
E prova de que a inclusividade não era apenas estratégia de marketing da musa foi o desfile que ocorreu no Brooklyn Navy Yard. Mesmo com a presença de Gigi Hadid e Joan Smalls – beldades que já emprestaram seus corpos para a Victoria’s Secret -, o destaque absoluto ficou por conta da pluralidade apresentada na passarela, com modelos de todos, todos os tipos, num show teatral e imponente.
Tamanho o leque de heterogeneidade que até mesmo grávidas prestes a darem à luz tiveram seus momentos de brilhar – incluindo uma em especial: Slick Woods, parceira de Rihanna tanto nos bastidores quanto nas divulgações e que, apenas horas após o evento, entrou em trabalho de parto.
Em entrevista à Elle norte-americana, a popstar declarou que queria incluir todas as mulheres em seu desfile: “Eu queria cada mulher no palco com energias diferentes, raças diferentes, estágios diferentes de feminilidade, de cultura. Eu queria que as mulheres se sentissem celebradas. […] As mulheres estão dominando o mundo agora, e é uma pena para os homens”.
Como dito, o sucesso no ramo não é uma novidade. Já há quase um ano, Rihanna deu seus primeiros passos para um mercado mais variado com o lançamento de sua linha de cosméticos. A princípio recebida com cinismo por aqueles que achavam que ela estava apenas pegando onda na fama e no sucesso dos produtos de Kylie Jenner, a Fenty Beauty, refresando um mercado que por tanto tempo não permitiu dar às mulheres pretas sua devida atenção, logo mostrou a que veio com bases em mais de 40 tonalidades diferentes.
Elogiada por sua qualidade e por seu diferencial, sendo até mesmo eleita pela revista Time como uma das melhores invenções de 2017, a marca foi um sucesso absoluto e instantâneo de crítica e de vendas aqui e acolá.
E mais: abraçou ainda a quebra de estereótipos de gênero, promovendo o uso de maquiagem em homens, como o ator Daniel Kaluuya, do sucesso “Corra!”, que presente no red carpet do Oscar deste ano, usava uma das tonalidades de base da linha. Assim como Ezra Miller, que se rendeu aos encantos de beleza de Riri e, ousando ainda mais, apareceu com todo o seu estilo fluído comemorando o batom Fenty brilhoso na divulgação de “Liga da Justiça”, em Pequim.
Rihanna, portanto, parece já ter provado e consolidado a ideia de que suas ambições não são a curto prazo. Bem sucedida como cantora há mais de dez anos, sua entrada para o mundo dos negócios e da moda trouxe não somente mudanças no quesito estético, como em sua reinvenção do sportswear para a Puma ou no papel da primeira embaixadora negra da Dior; mas também no social, enxergando na população negra e na diversidade feminina não só uma oportunidade de mercado, mas uma clientela que também merece ser ouvida.
Muitas outras estrelas talentosas já tentaram o mesmo em vários âmbitos, mas não obtiveram tal êxito ou revolução de pensamentos em uma indústria conhecida desde o seu fundamento por pregar simultaneamente a liberdade de expressão e a exclusão de tudo o que foge ao padrão. Rihanna, afinal, parece ser aquela ímpar figura no showbizz, ideal para guinar em massa uma ruptura com o passado na expectativa de encabeçar um presente e um futuro mais inovadores e inclusivos.