Do funk ao pop, passando pela MPB e o hip hop, artistas LGBTQs impulsionaram mais do que nunca a produção cultural no Brasil e no mundo, mostrando que o mercado e o público estão prontos para ouvirem as diferentes nuances da comunidade. Abaixo, listamos os 20 melhores discos e EPs lançados esse ano, desde novatos como Quebrada Queer, Jão, Potyguara Bardo e Ctrl+N, a nomes já estabelecidos, como Pabllo Vittar, Silva e Mahmundi. Confira:

20. Mc Xuxú, ‘Senzala’

Lançado no início do ano, o primeiro disco de Mc Xuxú mostra o talento da artista mineira para criar refrões divertidos enquanto narra dilemas e delícias da vivência de uma mulher trans. Equilibrando irreverência com a dose certa de militância, ela entrega batidas eficientes com trocadilhos desinibidos (‘Kit Assume’ e ‘Cuida do Seu’ são destaques nesse sentido), perfeitos para animar uma pista de dança.

19. Aretuza Lovi, ‘Mercadinho’

Apostando basicamente em quase todos os ritmos e parcerias presentes em uma fórmula para hit certeiro no ‘mercadinho’ nacional, Aretuza faz um mexidinho de pop à brasileira cozinhado para estourar nas caixas de som em qualquer festa. E apesar de o resultado render alguns deslizes (‘Que Não Falte Amor’ evidencia sua fraqueza vocal e ‘Pisa Menos’ soa básica, no mínimo), também traz momentos bons: ‘Catuaba’ (com Gloria Groove) e ‘Batcu’ (com Valesca) são impossíveis de ignorar.

18. Jão, ‘Lobos’

No meio do caminho entre o emo, a sofrência e o pop, Jão lançou seu primeiro disco misturando umjeito meio sertanejo de cantar com letras melodramáticas e batidas básicas de trap. Ainda assim, a dor de cotovelo somada aos hábitos excessivamente autodestrutivos (a gente entendeu que você curte The Weeknd, beleza) rende uma boa trilha sonora para adolescentes na fossa. É quando aposta despe a produção de artifícios, como em ‘Eu quero ser como você’ e ‘Ainda Te Amo’, que o rapaz brilha e nos lembra da mesma alma que ele apresentava em covers pelo Youtube.

17. Years and Years, ‘Palo Santo’

O segundo disco do trio britânico chegou encharcado de hits pop chiclete, com contribuições de alguns dos novos mestres nesse gênero, como Greg Kurstin, Julia Michaels e Justin Tranter. Inevitavelmente, a combinação de refrões grudentos com a produção debochada e o carisma de Olly Alexander funcionam bem, com destaque para ‘If You’re Over Me’, ‘Rendezvous’ e ‘Karma’. Ainda assim, a fórmula não traz nada de novo ao panorama geral e as 12 faixas poderiam ter sido 9.

16. Davi, ‘Quando’

Indo em uma direção criativa completamente oposta à da Banda Uó, Davi conseguiu mostrar sua identidade ao longo das cinco faixas do EP de estreia. Mais romântico e vulnerável do que geralmente deixava mostrar no grupo, o artista começou a carreira solo com o pé direito, investindo pesado e com sucesso no dream pop, como na ótima ‘DUV’. Leia aqui nossa entrevista com ele.

15. Mc Tha, ‘Versões’

Depois de ‘Valente’ e a parceria com Jaloo em ‘Céu Azul’, Mc Tha relançou seus singles em versão acústica e mostrou que, para além da agitação, ela tem controle vocal para ser uma das melhores promessas da nova geração. Surpreendentemente, os funks funcionaram perfeitamente bem nessa nova roupagem, com destaque para ‘Bonde da Pantera’ .

14. Kim Petras, ‘Turn Off The Lights – Vol. 1’

Apostando na sonoridade eletrônica e uma estética de Halloween (o álbum foi lançado em 31 de outubro, afinal de contas), Kim fez barulho na cena pop com seu début repleto de letras com duplo sentido e uma parceria tão inesperada quanto bem-vinda com Elvira, a Rainha das Trevas. Destaque para a instrumental‘TRANSylvania’.

13. Lia Clark, ‘É Da Pista’

Como o próprio nome já indica, Lia chega em seu primeiro disco usando o funk e suas letras divertidas para colocar o povo pra dançar. Na tracklist, faixas já conhecidas e queridas dos fãs, como ‘Q.M.T’ e ‘Tipo de Garota’, além de novas e boas surpresas, como ‘Nude’, ‘Taca Raba’ (com Pankadon) e a parceria com Gloria Groove em ‘Terremoto’.

12. Cupcakke, ‘Ephorize’

Houve um tempo em que rappers preferiam regurgitar suas frustrações na música ao invés de logar no Twitter. Com dois álbum lançados esse ano (‘Euphorize’ e ‘Eden’), Cupcakke mostra que tem muito a dizer e dá voz a todos seus monstros e fetiches. Em ambos os LPs, ela versa sem vergonha sobre as vivências de uma mulher negra e trans na cama e na rua, que não abre mão de suas fantasias sexuais nem de sua arte.

11. Quebrada Queer, ‘Ser’

O EP de estreia do primeiro cypher queer da América Latina já chegou atendendo às altas expectativas. Com raps que atacam direto na jugular e uma produção de ponta, o grupo passeia por influências do reggae, do trap e do hip hop, com espaço para cada um dos seus membros brilhar no flow. Leia aqui a nossa entrevista exclusiva com o Quebrada.

10. Ctrl+N, ‘Grita’

Depois do sucesso que ‘Eu Prefiro’ conseguiu nas redes, a dupla do Ctrl+N (que falou com a Híbrida este ano, aqui) não demorou a repetir a dose de deboche e diversão em um EP que vem repleto de pontos altos, como ‘Armário’ e ‘Play’. Questionando papeis de gênero, como na intrigante ‘Pornô’, Nigel Anderson e Haroldo França mostram que a cena independente ainda pode criar surpresas positivas para o público LGBT.

9. Potyguara Bardo, ‘Simulacre’

Como se o trocadilho no título do disco já não fosse um indicativo, o primeiro álbum de Potyguara vem mostrando toda a potência criativa a ser explorada na cena drag brasileira. E, em um ano quando a presença dessas artistas tem sido mais latente do que nunca, a artista do Rio Grande do Norte consegue se destacar com originalidade em letras e produções inteligentes, que bebem em gírias do pajubá e na cultura nordestina. Se ‘Mamma Mia’ soa perfeita para qualquer balada, faixas como ‘Plene’ e ‘Você Não Existe’ oferecem um escapismo lírico e sonoro de ponta.

8. Sophie, ‘Oil Of Every Pearl’s Un-Insides’

Poucas artistas têm conseguido inovar na música pop e apresentar trabalhos revolucionários, que não soam como nada ouvido antes no gênero. É o caso de Sophie, que pegou seu envolvimento com a PC Music e apresentou um trabalho intrigante, que assusta ao mesmo tempo que contagia. Com distorções eletrônicas na voz e nas batidas, ela desafia os conceitos de gênero da música e de sua própria figura, ao mesmo tempo em que zomba de padrões pré-estabelecidos, atropelando-os para apresentar algo totalmente novo – ou ‘um novo mundo/mundo de mentira’, como declara. Um mundo onde humanos processam emoções e desejos como computadores e estes também são capazes de sentir, quase como uma crise existencial do Daft Punk em meio a uma onda de ketamina. Seria um andrógeno andrógino ou apenas um dos futuros possíveis para a música pop?

7. Caio Prado, ‘Incendeia’

Com os versos afiados na poesia, Caio Prado dá vasão a seus medos, paranoias e romances em seu segundo LP, brincando com as palavras da mesma forma que costura melodias. Se ‘Zera a Reza’ vem embutida com berimbaus e influências da capoeira, ‘Xeque Mate’ regojiza o golpe final em um relacionamento e a faixa que dá nome ao trabalho é quase uma dança (ou desafio) de acasalamento. Com momentos urgentes, como na desaforada ‘É Proibido Estacionar na Merda’, o disco aponta tanto um novo rumo para o artista como para a própria música brasileira, enquanto debate raça, gênero e política.

6. Troye Sivan, ‘Bloom’

Da descoberta de sua sexualidade aos 17 (com a ótima ‘Seventeen’) ao hino para as passivas com a faixa que dá título ao álbum, Troye passeia pelas descobertas, confusões, desejos e melancolias de um jovem gay se apaixonando pela primeira vez em seu segundo LP. Com poucas e certeiras parcerias (Ariana Grande em ‘Dance To This’ conjura o casamento musical perfeito), o artista ainda evita o pop óbvio e mostra uma surpresa positiva com menos hits manufaturados para as pistas de dança e mais momentos de vulnerabilidade.

5. Mahmundi, ‘Para Dias Ruins’

Em seu segundo LP, Marcela Vale continua pintando os vários tons do verão com a doçura de sua voz, aprofundando-se em várias camadas da música popular brasileira, no sentido mais puro do termo. Do gingado do reggae e do samba à nostalgia da bossa nova, o trabalho dividido com Lux Ferreira traz nas letras e no frescor da produção uma explosão de romance solar como só o Rio de Janeiro, terra-natal de Marcela, pode proporcionar. E ainda há espaço para batidas eletrônicas e até um pico de melancolia, como na deliciosa ‘As Voltas’.

4. Silva, ‘Brasileiro’

Em seu quinto álbum de estúdio, Silva pegou as influências de sua turnê com o repertório de Marisa Monte e se aprofundou em ritmos brasileiros, deixando um pouco de lado os sintetizadores e mostrando outras facetas de sua habilidade como cantor e compositor. Além da colaboração com Anitta na ótima ‘Fica tudo Bem’, ele mantém a verve doce e romântica com outros destaques, como ‘Prova dos Nove’, ‘Ela Voa’ e ‘A Cor É Rosa’. Leia aqui nossa entrevista com ele.

3. Pabllo Vittar, ‘Não Para Não’

Talvez, em algum ponto mais à frente de sua carreira, Pabllo possa abordar com mais ênfase o aspecto queer de sua vida nas músicas que lança. Por ora, enquanta ainda se firma como uma das maiores popstars brasileiras na história e esgota shows pelo país afora, o importante é fazer hits que coloquem seus fãs para dançar e toquem nas rádios. E em seu primeiro disco lançado por uma gravadora, ela faz isso melhor que ninguém. NPN traz uma colagem de ritmos que vai do seu já conhecido brega ao funk e ao pagode, presente na inusitada ‘Trago Seu Amor de Volta’, com Dilsinho. A parceria com Ludmilla (‘Vai Embora’) já era sucesso certo antes mesmo de ter nascido, enquanto ‘Seu Crime’ traz uma nova colaboração entre a drag queen e Diplo, que entrega mais um neoclássico de sua produção. Para o carnaval, a aposta será a faixa que abre o trabalho, ‘Buzina’, cujo potencial pode coroá-la pelo terceiro ano consecutivo como rainha da festa, depois das febres de ‘Todo Dia’ e ‘Corpo Sensual’.

2. Blood Orange, ‘Negro Swan’

Existe um motivo pelo qual Dev Hynes tornou-se um dos principais compositores e produtores da nova geração. Em seu sexto disco, isso fica ainda mais claro, à medida em que ele cria uma atmosfera de melodias delicadas para debater o papel de pessoas negras e queer na sociedade. Para isso, Dev conta com a ajuda de rappers consagrados, como Diddy e A$AP Rocky, mas também de nomes do ativismo norte-americano, como Janet Mock. Em ‘Family’, a autora, produtora e roteirista fala sobre o conceito de família entre a população trans; ‘Holy Will’ traz um toque de esperança gospel pela voz de Ian Isiah; ‘Orlando’, que abre o LP, mergulha na infância de Dev e na sua dificuldade em se encaixar socialmente, ao mesmo tempo em que traz sirenes e transições similares às que ele aplicou em ‘Givin’ me Life’, sua parceria com Mariah Carey; já ‘Smoke’, que encerra o disco, aponta para um futuro de mudanças positivas. Se ‘Moonlight’ inseriu com maestria essa narrativa no cinema, Blood Orange criou seu equivalente na música, em um campo que antes só havia sido explorado dessa forma por Frank Ocean.

1. Janelle Monaé, ‘Dirty Computer’

Presença certa em qualquer lista de fim de ano, Janelle Monaé conseguiu investigar como mais ninguém em 2018 os papeis de uma mulher negra e queer – e todas as delícias e dores que vêm com isso. Do desabafo no rap ‘Django Jane’ à explosão orgásmica de ‘I Like That’, passando pela adoração feminina em ‘Pynk’ (com Grimes), Janelle mostra sua versatilidade artísitca e lírica em um trabalho que já seria perfeito sonoramente, não fosse também o tratamento visual que torna toda a experiência de ‘Dirty Computer’ ainda mais instigante e surpreendente.

 

Abaixo fizemos uma playlist com os maiores destaques de cada álbum, é só seguir e soltar o play: