*Texto original de Laura Mills

Em sequência ao artigo sobre o Institut für Sexualwissenschaft (Instituto de Sexologia), nós seguimos para um dos fundadores do Instituto: Magnus Hirschfeld, um homem judeu e gay da Alemanha, nascido em 1868, que viveu e lutou contra a ascensão de Adolf Hitler.

Apesar de o Instituto ter sido uma das realizações mais prestigiosas de Magnus, ele não foi a única. Como médico, Hirschfeld foi a primeira pessoa de que se tem registro a pesquisar sobre LGBTs, acreditando que conhecimento era uma ponte para a igualdade. E, apesar de algumas informações terem sido refutadas ou modificadas, ele ainda estava anos à frente do seu tempo.

Magnus Hirschfeld com duas cross-dressers em frente ao Instituto de Sexologia, na década de 1920 (Foto: Reprodução)
Magnus Hirschfeld com duas cross-dressers em frente ao Instituto de Sexologia, na década de 1920 (Foto: Reprodução)

Hirschfeld não acreditava na binaridade do gênero ou da sexualidade, mas sim num leque amplo de identidades, registrando até 64 delas em sua pesquisa. Seu trabalho não era puramente teórico e, entre suas aplicações práticas, ele fez a primeira cirurgia moderna de readequação sexual, sendo um pioneiro nesse campo. Devido à sua especialização, era apelidado de “Einstein do sexo”, um título ao qual respondia com “Einstein é o Hirschfeld da física”.

Hirschfeld também foi um membro central de muitos grupos ativistas, incluindo o Comitê Científico Humanitário, um dos primeiros grupos registrados de ativismo LGBT; e a Liga para a Proteção das Mães, uma organização feminista. Ele tinha muitas ideias progressistas além do seu ativismo e acreditava no acesso fácil a abortos e controle de natalidade.

Durante a Primeira Guerra, Hirschfeld fez parte de um grande movimento para revogar o Parágrafo 175, que tornava a homossexualidade ilegal na Alemanha. Ele começou uma petição para derrubá-la e conseguiu mais de 50.000 assinaturas, incluindo as de Albert Einstein, Thomas Mann, Hermann Hesse e Richard von Kraft-Ebbing. Apesar de seus esforços, a lei só foi revogada muito após sua morte, em 1994.

Logo vai chegar o dia em que a ciência terá uma vitória sobre o erro, a justiça sobre a injustiça, e o amor humano sobre o ódio e a ignorância
– Magnus Hirschfeld

Magnus Hirschfeld também era conhecido por ter co-escrito e co-estrelado no filme “Diferente dos Outros” (“Anders als die Andern”, 1919), um dos primeiros filmes com homossexuais retratados de forma positiva. Mesmo que ele se considerasse um cidadão do mundo, viveu na Alemanha durante a maior parte da sua vida, mesmo sendo gay e judeu.

Em 1920, Hirschfeld foi atacado no caminho de casa após uma palestra. Ele foi deixado na rua com o crânio fraturado e vários outros ferimentos. Apesar do perigo, permaneceu na Alemanha o máximo que conseguiu, saindo apenas quando o Instituto foi queimado e ele forçado a se exilar na França.

Hirschfeld não caiu em desconhecimento depois disso, apesar das esperanças dos fascistas. Hirschfeld viveu o resto dos seus dias ao lado de seus dois companheiros, Li Shiu Tong e Karl Giesse, e continuou sua pesquisa sobre as vidas da comunidade queer. Ele tentou recriar o Instituto na França, mas não conseguiu.

Magnus Hirschfeld e Li Shiu Tong durante a Liga Mundial pela Reforma Sexual, em 1932 (Foto: Reprodução)
Magnus Hirschfeld e Li Shiu Tong durante a Liga Mundial pela Reforma Sexual, em 1932 (Foto: Reprodução)

Mesmo com todo seu pioneirismo e ativismo, Magnus Hirschfeld não era de jeito algum um homem perfeito. Ele frequentemente errava em suas teorias e podia ser impiedoso em suas políticas, certa vez chegando ao ponto de ameaçar tirar oficiais de alto escalão do armário.

Independentemente disso tudo, ele era um homem da ciência, que acreditava no conhecimento e na educação como verdadeiros caminhos para a igualdade.

Este texto faz parte do projeto Making Queer History cuja existência só é possível graças a doações. Se tiver interesse, você pode fazer uma doação única no Paypal ou tornar-se um Patrono.