Enquanto o governo Bolsonaro impõe um dos períodos mais sombrios para a cultura na história do Brasil, o Festival do Rio anunciou há dois meses sua 21ª edição. Uma das principais vitrines do nosso audiovisual, o evento volta entre 9 e 19 de dezembro, com uma programação espalhada por 15 pontos da capital carioca, de Niterói à Gávea, e cerca de 100 títulos. Neste ano, a Híbrida é parceira oficial do evento, com foco na seleção de filmes do Prêmio Félix, a mostra LGBTQ que integra a programação geral.

Dentre os filmes que chegam nesta edição do festival, estão o segundo da atriz, diretora e roteirista Greta Gerwig, “Adoráveis Mulheres”, escolhido para abrir oficialmente esta edição; o satírico e polêmico “Jojo Rabbit”, do neozelandês Taika Waititi, onde ele vive uma versão imaginária de Adolf Hitler; “O Escândalo”, que conta com a presença de Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie e é inspirado nas histórias de assédio sexual sofridas por funcionárias da Fox News; e “O Caso Richard Jewell”, último trabalho de Clint Eastwood baseado na história de um segurança que se tornou o grande suspeito de bombardear as Olimpíadas de Atlanta, em 1996. 

Para celebrar, nós da Híbrida selecionamos abaixo os filmes nacionais e estrangeiros mais imperdíveis e que concorrem ao Prêmio Felix, representando nas telonas a amplitude de vivências e narrativas relacionadas à diversidade de gênero. Confira os títulos abaixo: 

“Alice Júnior” (Gil Baroni; Brasil)

Grande vencedor do último Festival Mix Brasil, “Alice Júnior” é uma das grandes apostas no Prêmio Felix e na Première Brasil. Em tom de comédia-romântica, a história acompanha Alice, adolescente e youtuber trans interpretada por Anne Celestino Mota, em busca de seu grande sonho: dar o primeiro beijo. A missão se complica ainda mais quando ela se muda de Pernambuco e para uma cidade conservadora e precisa lidar com todos os desafios do local e do próprio ensino médio, que pela própria natureza já não é um processo fácil. 

“Aos nossos filhos” (Maria de Medeiros; Brasil)

Adaptado da peça de teatro homônima e inspirado na canção de mesmo título de Ivan Lins, Aos Nossos Filhos aborda o conflito geracional entre mãe e filha – interpretadas por Marieta Severo (Vera) e Laura Castro (Tânia), respectivamente -, com a ditadura militar e o Brasil de hoje como panos de fundo. A trama lida com a homossexualidade de Tânia, o preconceito em torno de sua primeira gravidez com a esposa, as memórias da ditadura e o Brasil contemporâneo. O filme também conta com a participação de José de Abreu, Marta Nóbrega, Aldri Anunciação, Ricardo Pereira e Cláudio Lins.

“Aos Nossos Filhos”

“Breve história do planeta verde” (Santiago Loza; Argentina)

Único título que aparece tanto no Félix quanto na Première Latina do Festival, o longa do argentino Santiago Loza é focado na história de uma jovem mulher trans (Romina Escobar) ao descobrir que sua avó faleceu. Ela então embarca numa jornada com dois amigos próximos para manter o legado que lhe foi deixado: devolver o alienígena escondido no porão ao seu planeta de origem. Vencedor do Teddy Awards de Melhor Filme no Festival de Berlim,  o longa aproveita a figura do extraterrestre para abordar temas como preconceito, aceitação e pertencimento.

“Carlinhos e Carlão” (Pedro Amorim; Brasil)

Luís Lobianco, comediante reconhecido pelo público por seus papéis na TV e no “Porta dos Fundos“, vive os dois personagens principais desta trama reveladora do cineasta Pedro Amorim: Carlão, o funcionário preconceituoso de uma concessionária, onde é famoso por suas piadas machistas e homofóbicas; e Carlinhos, seu alter-ego homossexual que aparece com a chegada da noite.  

C
“Carlinhos e Carlão”

“O chão sob os meus pés” (Marie Kreutzer; Áustria)

O austríaco O Chão Sob Os Meus Pés acompanha Lola (Valerie Pachner), uma consultora de negócios que controla a sua vida com a mesma eficiência que usa para otimizar os lucros em seu trabalho. Porém, à medida que tenta focar em suas ambições e deixar o passado para trás, as linhas entre realidade e alucinação começam a se tornar um problema para Lola. O thriller psicológico é assinado pela diretora Marie Kreutzer e rodou por alguns festivais internacional antes de chegar à mostra Panorama.

“E então nós dançamos” (Levan Akin; Suécia)

Depois de arrancar elogios do público que o assistiu durante o Mix, o longa escolhido pela Suécia para representar o país na próxima edição do Oscar chega ao Festival do Rio. Com a dança como pano de fundo e manobra para takes de tirar o fôlego, o filme é centrado em Merab (Levan Gelbakhiani), um jovem dançarino que, no auge de sua carreira, precisa lidar com a chegada do talentoso Irakli (Bachi Valishvili), seu principal rival e, também, sua paixão secreta.

“Frankie” (Ira Sachs; França)

Com o roteirista carioca Mauricio Zacharias nos créditos, Frankie é estrelado pela francesa Isabelle Huppert na pele da atriz que dá nome ao longa. Após descobrir que pode morrer em poucos meses graças a uma doença terminal, ela embarca em uma viagem por Sintra, em Portugal, onde precisa lidar tanto com a iminência de sua morte, o assédio dos fãs e o pesar antecipado de seus familiares. O longa estreou em Cannes e concorreu à Palma de Ouro.

“Judy” (Ruper Goold; UK)

Dentre os vários legados de Judy Garland está o de ter sido alçada ao posto de ícone pela comunidade LGBTQ+, seja por sua interpretação de “Over the Rainbow”, pela trajetória marcada por dificuldades e vícios ou por seu papel como Dorothy ter rendido um código secreto para reconhecimento de homens gays. Na biografia estrelada por Renée Zellweger, os altos e baixos de sua carreira e de sua vida pessoal são narrados por Ruper Goold, que foca na última turnê realizada pela artista antes de sua morte. O papel deu a Renée seu retorno triunfal e que, segundo predições, pode lhe garantir o seu segundo Oscar.

“Piedade” (Cláudio de Assis; Brasil)

Piedade, no drama do diretor Cláudio de Assis, se refere a uma cidade fictícia no litoral do Nordeste, onde o bar Paraíso do Mar é famoso por sua moqueca de cação e atualmente comandado por Dona Carminha (Fernanda Montenegro) e pelo filho mais velho Omar (Irandhir Santos). Com a chegada de uma petrolífera, o negócio familiar acaba tornando-se exemplo de resistência local contra a atuação de grandes corporações e palco da disputa territorial entre moradores e Aurélio (Matheus Nachtergaele). Após uma estreia elogiada no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o longa também chamou atenção pela cena de sexo protagonizada por Matheus e Cauã Reymond, que vive o proprietário de um cinema para adultos Sandro. 

“Retrato de uma jovem em chamas” (Céline Sciamma; França)

O longa francês, que venceu a Queer Palm em Cannes e abriu a 27ª edição do Festival Mix Brasil é outra atração imperdível do Festival do Rio. Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem artista que se encarrega de pintar, secretamente, um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento. Na medida em que começam a conviver uma com a outra, a união entre elas cresce e se transforma em algo maior do que mera amizade. Leia aqui a nossa crítica do filme e sua importância sobre o olhar feminino no cinema. 

“Que os olhos ruins não te enxerguem” (Roberto Maty; Brasil)

O documentário aborda a diversidade de gênero, classe e raça dentro da comunidade LGBTQ+ na cidade de São Paulo e como essas identidades influenciam na trajetória de cada um dos personagens, ao mesmo tempo em que ajudam a mudar o entorno nos quais eles estão inseridos. Com cenas filmadas pelas periferias da metrópole paulistana, no metrô e até na Parada do Orgulho LGBTI, o longa traça um panorama provocante e necessário.

 

“Matthias e Maxime” (Xavier Dolan; Canadá)

O mais recente trabalho do canadense Xavier Dolan também estreou em Cannes, onde ganhou uma recepção mista. Centrado na relação entre os personagens titulares, interpretados por Gabriel D’Almeida Freitas e pelo próprio diretor, respectivamente, o público acompanha o estranhamento enquanto dois amigos de longa data têm suas sexualidades questionadas após compartilharem um beijo de cena.


Para conferir as datas, horários e locais de exibição, basta acessar o site oficial do Festival do Rio, com a programação completa do evento.