Após um ano agitadíssimo para RuPaul’s Drag Race – com temporadas inéditas no Reino Unido (em dose dupla), Canadá, Holanda e estreia na Oceania, Espanha e Itália -, já foi divulgada na última semana o elenco que competirá pela coroa na 14ª edição dos Estados Unidos, com estreia marcada para o próximo dia 7. Entre as 14 participantes na disputa, o que chamou a atenção dos fãs da franquia foi não só a inclusão de duas mulheres trans no casting – algo inimaginável há apenas algumas temporadas -, mas também do primeiro homem heterossexual e cisgênero na história do programa.

Concorrem pelo prêmio principal de U$ 100.000,00 e o título de “próxima superestrela drag da America” as drag queens Alyssa Hunter (de Cataño), Angeria Paris VanMicheals (Atlanta), Bosco (Seattle), Daya Betty (Springfield), Deja Skye (Fresno), Jasmine Kennedie (New York City), Jorgeous (Nashville), June Jambalaya (Los Angeles), Kerri Colby (Los Angeles), Kornbread “TheSnack” Jeté (Los Angeles), Lady Camden (Sacramento), Maddy Morphosis (Fayetteville), Orion Story (Grand Rapids) e Willow Pill (Denver).

A inclusão de Maddy, primeiro homem hétero cis do reality, tem sido motivo de controvérsia nas redes sociais. Fãs de Drag Race têm questionado como essa escolha foi feita antes da participação de alguma mulher cishetero na versão estadunidense, além de levantar a discussão sobre o possível desconforto que as demais queens podem sentir ao dividir um espaço tão íntimo como o werkroom com alguém que não compartilha da mesma orientação ou tenha passado pelas mesmas experiências de vida e opressões que pessoas LGBTI+.

Maddie Morphosis, primeiro participante homem cishétero da franquia (Foto: VH1/Reprodução)
Maddie Morphosis, primeiro participante homem cishétero da franquia (Foto: VH1/Reprodução)

Respondendo à polêmica, Maddy fez um post em seu Instagram, dizendo que “não tem a intenção de mostrar para o mundo que ‘homens hétero podem fazer drag'”. “Acho que uma das melhores coisas de terem surgido da minha inclusão no elenco é estar abrindo a oportunidade de se falar mais sobre representatividade dentro da cena drag. E espero que isso ajude a levar mais grupos marginalizados a serem mostrados e representados”, escreveu.

 

O debate em torno da escolha de uma pessoa hétero cis num espaço tradicionalmente associado a cultura LGBTI+ chegou a agitar o Brasil meses atrás, quando surgiram rumores sobre uma versão nacional de “RuPaul’s Drag Race” comandada por Xuxa Meneghel. No centro da discussão, os principais argumentos a favor lembravam que a loira sempre defendeu e foi enaltecida por fãs LGBTI+, ao mesmo tempo em que há quem acreditasse que o posto deveria ser dado a uma pessoa da própria comunidade.

Embora a seleção de Maddy para o casting tenha levantado a ira de alguns, a presença de duas mulheres trans no elenco, Kerry Colby e Kornbread “TheSnack” Jeté, foi amplamente celebrada. Após um histórico de opiniões questionáveis sobre a inclusão de pessoas transsexuais no programa – RuPaul já chegou a dizer que não aceitaria como competidoras mulheres transgênero que passaram por transição por acreditar que isso mudaria todo o conceito de drag.-, a apresentadora se desculpou em seu Twitter no ano passado e, desde então, modificou uma das principais frases de efeito da atração: “Que vença a melhor mulher”  para “Que vença a melhor drag queen”.

Com a autorevisão de seus conceitos, RuPaul tem ampliado aos poucos as identidades de gênero e orientações incluídas no reality. Nas últimas temporadas, houve espaço para o primeiro homem trans na história da competição (Gottmik, na última edição dos EUA) e a primeira mulher trans a ganhar a coroa (Kylie Sonique Love, no All Stars 6).

Kerry Colby e Kornbread “TheSnack” Jeté, participantes trans da 14ª temporada de RuPaul's Drag Race EUA (Foto: VH1/Reprodução)
Kerry Colby e Kornbread “TheSnack” Jeté, participantes trans da 14ª temporada de RuPaul’s Drag Race EUA (Foto: VH1/Reprodução)

A inclusão de um homem hétero não é exatamente algo a ser celebrado por si só, mas os caminhos e oportunidades que isso pode abrir para outras pessoas fora da ideia “padrão” do que é uma drag queen, sim. Assim como a própria Maddy, os fãs também esperam que sua adição traga novos representantes de grupos minoritários ainda não contemplados no programa.

Para celebrar esse e outros avanços recentes na história de RuPaul’s Drag Race, lembramos abaixo cinco das principais participantes das últimas temporadas dos EUA e Reino Unido que têm ajudado a ampliar essa compreensão sobre a arte drag:

BIMINI BON-BOULASH

Bimini Bon-Boulash da 3ª temporada de RuPaul's Drag Race Reino Unido (Foto: BBC/Reprodução)
Bimini Bon-Boulash, da 3ª temporada de RuPaul’s Drag Race Reino Unido (Foto: BBC/Reprodução)

Finalista da 2ª temporada do Reino Unido e favorita ao prêmio principal para muitos fãs, Bimini Bon-Boulash é uma drag não binária. No programa, assumiu sua identidade de gênero ao lado de outra competidora, Ginny Lemon. “Não-binário não é uma coisa nova, é apenas um novo termo. É basicamente alguém que não se sente masculino ou feminino, eles variam entre os dois”, disse. Atualmente, Bimini faz parte do elenco de modelos da agência Next e já chegou a desfilar na Semana de Moda de Londres.

GOTTMIK

Gottmik da 13ª temporada de RuPaul's Drag Race EUA (Foto: VH1/Reprodução)
Gottmik, da 13ª temporada de RuPaul’s Drag Race EUA (Foto: VH1/Reprodução)

Primeiro homem trans da história do reality, Gottmik foi uma das finalistas da 13ª temporada dos EUA. “As pessoas não costumam entender como alguém nascido mulher pode se identificar com homem mas ainda querer performar e se expressar artisticamente como uma drag feminina”, disse sobre sua arte. À época de sua participação, Michelle Visage, do time de jurados, revelou que “a inclusão de Gottmik é maravilhosa para homens trans que acham que não têm um lugar no programa; [já que] eles têm”.

KYLIE SONIQUE LOVE

Kylie Sonique Love, vencedora da 6 temporada de RuPaul's Drag Race All Stars (Foto: Reprodução)
Kylie Sonique Love, vencedora da 6 temporada de RuPaul’s Drag Race All Stars (Foto: Reprodução)

Primeira vencedora trans sob a decisão de Rupaul no All Stars 6 – Angele Anang venceu a 2ª temporada do Drag Race Tailândia, em 2019, que conta com outro time de jurados -, Kylie Sonique Love veio da 2ª temporada da versão estadunidense, onde revelou, durante a reunião, ser uma mulher trans. “Eu quero compartilhar quem sou com o mundo e inspirar as pessoas a viverem suas verdades e não se abaixarem para ninguém porque nós só habitamos este mundo uma vez e esta vez tem que contar”, disse à época de sua coroação.

SCAREDY KAT

Scaredy Kat, da 1ª temporada de RuPaul's Drag Race Reino Unido (Foto: BBC/Reprodução)
Scaredy Kat, da 1ª temporada de RuPaul’s Drag Race Reino Unido (Foto: BBC/Reprodução)

Integrante do elenco da 1ª temporada do Reino Unido, Scaredy Kat chocou o público ao revelar que estava em um relacionamento amoroso com uma mulher. Para a Out, afirmou que, ao entrar para o reality, tinha receio de ser julgada pelas demais participantes: “achei que seria odiada porque não era como elas. Mas acabou sendo uma reação completamente oposta e foi realmente tranquilo. Os fãs foram igualmente positivos, o que é realmente brilhante.”

VICTORIA SCONE

Victoria Scone, da 3ª temporada de RuPaul's Drag Race Reino Unido (Foto: BBC/Reprodução)
Victoria Scone, da 3ª temporada de RuPaul’s Drag Race Reino Unido (Foto: BBC/Reprodução)

Primeira mulher cisgênero da franquia, Victoria Scone integrou o time da 3ª temporada do Reino Unido. “Alguns de vocês precisam entender que uma mulher cis fazendo drag como uma mulher ainda é um foda-se para a sociedade. Eu incorporo todos os estereótipos de gênero que me foram insinuados (como mulher) pela sociedade. Eu os elevo, rio, e então faço uma grande merda queer neles”, twittou. Uma das favoritas ao prêmio principal, Scone foi impedida de continuar na competição após uma lesão no joelho.