A vereadora Benny Briolly (PSOL) anunciou na noite de quinta-feira (13) que precisou deixar temporariamente o Brasil por causa das constantes ameaças de morte que vem recebendo nos últimos meses. Ainda no ano passado, Benny foi uma das vereadoras trans eleitas a sofrerem ataques e ameaças nas redes sociais antes sequer de terem assumido o cargo.

Benny foi a primeira vereadora trans eleita em Niterói e integrou a onda de travestis e transexuais que quebraram o recorde de 25 candidaturas eleitas em 2020. Desde dezembro, ela tem denunciado ameaças e agressões que sofre, inclusive dentro da Câmara Municipal. Ainda no mês passado, a vereadora teve que deixar o Morro da Penha, comunidade em que vivia na Ponta D’Areia, por causa das ameaças.

“Hoje tenho que andar em um carro blindado, sou privada da minha liberdade só por se uma parlamentar trans, que luta pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Não posso admitir que o parlamento de Niterói permita que eu seja interrompida no exercício da minha função por me defender do crime de transfobia que venho sofrendo constantemente”, disse em abril.

Em uma publicação nesta quinta, ela afirmou que a situação tem escalado e recebeu emails com seu novo endereço e uma ameaça de morte caso não renunciasse ao cargo de vereadora; outros comentários em suas redes sociais desejaram que “a metralhadora de Ronnie Lessa“, assassino de Marielle Franco, a atingisse.


Segundo Benny, ela já informou várias instâncias do Estado sobre as ameaças, mas como não houve medidas de segurança efetivas para a sua proteção, o PSOL decidiu que a melhor saída para a vereadora era deixar o país. “Paralelo a isso, uma série de incidentes de segurança tem nos deixado cada vez mais alerta. As instituições que atuam na proteção de defensoras de direitos humanos e têm acompanhado esses acontecimentos estão cada vez mais preocupadas com o aumento do risco”, ela afirma no texto.

A Híbrida entrevistou Benny Briolly logo após sua vitória nas eleições 2020, quando ela falou sobre sua trajetória e luta política e que, antes mesmo de ser eleita, já recebia ameaças e ataques de opositores.

“A gente fez uma denúncia, mas eu já vinha sofrendo isso como assessora. Entendi ali que eu já tinha me tornado um quadro de sucessão nas políticas negras, tanto da Marielle quanto da Talíria [Petrone]”, explica Benny. “A expressão ‘Marielle’ é sobre o que significa nosso corpo enquanto mulheres negras na política. Essa corja de milicianos percebe o quanto minha voz é a potência de um projeto que começou com a própria Talíria.”

A vereadora afirmou que seguirá acompanhando os trabalhos da Câmara Municipal de Niterói, já que as sessões têm ocorrido virtualmente por conta da pandemia do coronavírus. De acordo com o jonal O Globo, ela ficará 15 dias afastada das sessões presenciais.