O Brasil amargou uma média de pelo menos 6 mortes violentas de pessoas LGBTI+ a cada semana de 2021, segundo a edição mais recente do Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, lançado na última semana. Ao todo, foram notificadas 316 ocorrências, das quais 285 foram assassinatos, 26 suicídios e outras cinco por causas diversas.

Houve um aumento de 33,3% nos registros de mortes violentas em relação a 2020, quando foram notificadas 237 ocorrências. A maioria das vítimas se identificava como homens gays (45,89%), seguidos das travestis e mulheres transexuais (44,6%), lésbicas (3,8%), homens trans e transmasculinos (2,53%), bissexuais (0,95%) e outros ou não informados.

Maior parte das mortes violentas de 2021 foram registradas entre homens gays
Maior parte das mortes violentas de 2021 foram registradas entre homens gays

A idade das vítimas variou entre os 13 (como o caso de Keron Ravach) e os 67 anos em 2021, sendo que a maioria das mortes ocorreu com jovens de 20 a 29 anos (30,38% do total). “Mesmo em um cenário onde alcançamos conquistas consideráveis junto ao Poder Judiciário, percebemos a recorrente inércia do Legislativo e do Executivo ao se omitirem diante da LGBTIfobia, que segue acumulando vítimas e que permanece enraizada no estado e em toda a sociedade”, diz o documento.

O levantamento é feito pelo Observatório de Mortes e Violências Contra LGBTI+, que envolve organizações de defesa e promoção dos direitos LGBTI+, com base em registros encontrados em notícias de jornais, portais eletrônicos e redes sociais. Vale lembrar que, no Brasil, não há dados específicos sobre identidade de gênero e/ou orientação sexual coletados pelo IBGE e nem uma forma oficial e unificada a nível federal dos registros coletados por órgãos de segurança pública.

O Observatório foi criado em 2020 pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) e pela Acontece – Arte e Política LGBTI+. Já o Dossiê é feito através de uma base de dados compartilhada entre a Acontece, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).

Brasil teve aumento superior a 33% nas mortes violentas de pessoas LGBTI+ ao longo do último ano
Brasil teve aumento superior a 33% nas mortes violentas de pessoas LGBTI+ ao longo do último ano

Além do aumento nas mortes violentas de pessoas LGBTI+, o Brasil também segue há 13 anos como o campeão mundial de assassinatos de travestis e pessoas transexuais. Segundo a Antra, entre setembro de 2020 e outubro do ano passado foram registrados 125 casos, o que manteve o País no topo do ranking divulgado pela Transgender Europe (TGEU).

Segundo aquele levantamento, o Brasil é responsável por 35% de todos os assassinatos da população transgênera registrados no mundo, com uma média de idade das vítimas em torno dos 30 anos. O pódio é dividido com o México e os Estados Unidos.

“Infelizmente, o Estado tem falhado miseravelmente na proteção da nossa população e, de certa forma, a falta de dados governamentais e das políticas públicas colocam essas pessoas em uma posição de maior suscetibilidade a serem vítimas de violências, visto que não nos são garantidos os direitos à vida, à proteção e a uma existência plena e digna”, disse Bruna Benevides, diretora da Antra e colunista da Híbrida.

“Nós já esperávamos que o Brasil continuasse à frente deste ranking, sobretudo pela falta de ações, campanhas, discussões e investimentos para enfrentar uma violência específica contra a nossa população.”

O Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia é comemorado nesta terça-feira (17). Em São Paulo, o Conselho Popular LGBTI+ realiza uma marcha em celebração à data e protesto contra o governo do presidente Jair Bolsonaro.

O Ato Cultural Bolsonaro Nunca Mais está programado para começar às 16h, na Avenida Paulista.