A atriz Renata Gaspar utilizou suas redes sociais nesta segunda-feira (2) para soltar um desabafo e uma explicação sobre o desenvolvimento do casal formado pelas personagens Mara (interpretada por ela) e Menah (Camilla Damião) na novela Terra e Paixão, transmitida na faixa das 21h pela Rede Globo.

“Amores, Mara e Menah não terão mais trama na novela. Acho que quando tudo acabar falaremos mais do que passamos. Mas é isso, viramos as tias, que ficam de fundo na festa e ninguém pergunta sobre sua história pois não querem saber. ‘É aquela tia que vive com a amiga dela'”, revelou.

No enredo, Mara tem um casamento infeliz com Elias (Lourinelson Vladmir), um homem rude que, frequentemente, a trata mal. Porém, ao conhecer Menah, irmã de Jonatas (Paulo Lessa), ela tem a chance de mudar de vida, ao se apaixonar pela professora.

Quando a novela escrita por Walcyr Carrasco e Thelma Guedes começou a ir ao ar, a atriz havia comemorado o espaço dado a representatividade lésbica no horário nobre da emissora. “Mulheres que ficavam com outras eram retratadas muitas vezes de uma forma repulsiva, no lugar pejorativo. O movimento é naturalizar duas pessoas que se gostam e querem ficar juntas”, disse à época.

Porém, com o passar dos capítulos, as personagens começaram a ficar em segundo plano, o que indignou fãs nas redes sociais. “Vamos até o fim naturalizar da forma que pudermos pois amamos as personagens e esse encontro. E sabemos o quão importante e representativo isso é pra todo Brasil. Podem desistir mas nós jamais desistiremos”, acrescentou.

Esta não é a primeira vez que a emissora altera tramas relacionadas à comunidade LGBTQIA+ em suas atrações. Ainda este ano, a cena de um beijo entre as personagens Clara e Helena (ou o casal #CLARENA), vividas pelas atrizes Regiane Alves e Priscila Sztejnman, foi retirada da exibição da novela Vai Na Fé, exibida na faixa das 19h.

O corte gerou indignação nas redes sociais e as próprias atrizes acabaram se manifestando. “Devagar e sempre… um passo de cada vez para a construção de um futuro onde todas as formas de amor possam ser aceitas e celebradas”, escreveu Alves.

O casal Mara e Menah da novela "Terra e Paixão" [Foto: Reprodução]
O casal Mara e Menah da novela “Terra e Paixão” [Foto: Reprodução]

A representatividade de casais e personagens LGBTQIA+ em novelas e séries da Globo têm oscilado desde o início da sua teledramaturgia, com cenas e enredos cortados de uma hora para a outra em favor da audiência. Por outro lado, nos últimos anos parece haver um esforço da emissora para aumentar o apelo à comunidade.

Há alguns meses, por exemplo, Maria Clara Spinelli foi anunciada como a primeira protagonista trans de uma novela, como a Renê do remake de Elas por Elas. “A homossexualidade, a discriminação e outras dores, que sondavam outras épocas, mudaram e têm de ser absorvidas”, disse Lilian Fontes, doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, em uma entrevista concedida à Híbrida ainda em 2018. “Os autores apostam nas tramas que já são aceitas. Há dificuldade de ousar e perder público também, porque a TV aberta sofre a vigília dos patrocinadores.”

“O processo é lento e parece-me que a repetição é uma estratégia para a aceitação”, conclui Lílian.

É uma pena, portanto, que a Rede Globo não tenha aprendido com os próprios erros e persista omitindo a existência e representatividade de seres plurais em suas novelas.

Até o momento, a emissora não se manifestou sobre as declarações de Gaspar.

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